Capítulo 1 sem título

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Olá a todos!
Mais uma história ao @Zosan_Universe.
Essa faz parte do tema do primeiro ciclo que é mitologias e a que escolhi foi mitologia tupi-guarani. Uma reinterpretação da lenda da vitória-régia (irupé)!
Amei escrever e espero que gostem :)

Betagem excelente por: Schonerbrunnen
Capa linda por: mistersanji_

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A floresta quente e frondosa era iluminada pela lua crescente, cujo auge viria em alguns dias. As folhas das árvores densas tremulavam pela leve brisa que percorria todo o horizonte, servindo de um pequeno alívio aos desabituados ao clima peculiar.

Os vaga-lumes auxiliavam a tarefa de clarear o percurso, espalhados aos montes, embelezando a paisagem natural amazônica em mais uma úmida e calorosa noite de luar.

Ao fundo, eram perceptíveis os ruídos de grilos e, conforme a passeata de guerreiros avançava, o coaxar de sapos e outros barulhos indiscerníveis que ressoavam sem concorrência, devido ao silencioso e ameno cenário noturno.

A pacificidade era um contraste à forma abrupta que o belo homem de fios dourados era trazido sem iminente escapatória.

O rapaz era tratado bruscamente pelos guerreiros indígenas que, embora já caminhassem havia horas, não pareciam nem um pouco incomodados com a jornada e forçavam o homem loiro de epiderme caucasiana, incomum aos nativos, a andar; este se vira obrigado a continuar, amarrado e cercado de homens que portavam arco e flecha, lanças e pedras.

Escravo. Era a única palavra que conseguira entender dentre tantas outras que soavam desconhecidas aos seus ouvidos, mesmo após tanto tempo de convívio em meio àqueles selvagens. Contudo, esses pareciam diferentes.

Não eram tão dóceis e afáveis quanto os outros; eram mais espertos e indomáveis. Já habituados a lidar com os perversos homens brancos.

A expressão corporal gritava por resistência e força. A pele marcada pelas cores da tintura — vermelha e preta — e as cicatrizes que simbolizavam histórias de batalhas e vitórias memoráveis.

Após horas de caminhada, um acampamento finalmente foi avistado. Junto a um imenso rio, enormes e numerosas tendas estavam espalhadas, agrupando-se em formato de círculo. No meio, a tenda de maior tamanho provavelmente pertencia ao líder daquela tribo.

As mulheres cobriam apenas a cintura, com uma vestimenta feita de palha e folhas, deixando os seios à mostra. Nas orelhas, brincos de penas.

Se a ocasião fosse outra, um sangramento em seu nariz seria evidente, contudo, a tensão e a incerteza de sua situação privava seu ânimo de se empolgar com a imagem divina.

Antes que pudesse ter tempo de contemplar toda a beleza do lugar, logo foi trazido, bruscamente, ao centro. Palavras de ordem foram ditas por meio de gritos pelo líder, que mantinha um cocar em sua cabeça de penas das mais distintas cores. Os outros índios mantinham-se agrupados em fileiras organizadas enquanto ouviam a cada palavra atentamente. As mulheres haviam interrompido suas atividades anteriores, juntando-se aos guerreiros.

Assim que o homem finalizou o discurso, gritos em contemplação puderam ser ouvidos, e os guerreiros batiam suas lanças no chão, comemorando pela batalha vencida naquele dia contra os "homens brancos", ele conseguira distinguir dentre as palavras de linguagem desconhecida.

Os guerreiros foram recebidos com comemoração, cânticos em língua estrangeira soavam alheios à compreensão do rapaz de cabelos loiros, mas, ainda assim, viu-se imerso à melodia alegre.

Contudo, ao que parecia, sua sentença havia sido decidida. O líder estendeu a mão para que houvesse silêncio e ditou ordens. Mais uma vez, a palavra "escravo" era pronunciada, dentre várias outras, juntamente a algo que ele deduziu como "prisioneiro", pois logo era segurado firmemente e guiado pelos índios até, o que parecia, seu infeliz destino.

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