A chave no jardim

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O cheiro forte e fresco de café se espalhava pela cafeteria recém aberta e alcançava até mesmo as pessoas que passavam em frente pelo estabelecimento, indo e vindo pela calçada de concreto coberta de neve. Pelas grandes janelas de vidro, o fim de tarde parecia frio, como se visto pelas lentes de uma câmera com um filtro azul suave. As pessoas caminhavam com pressa, e as motos e carros não eram diferentes. Talvez fosse apenas o horário, a urgência para chegar em casa após um longo dia de trabalho era compreensível. Mas para Jimin, ultimamente tudo parecia apressado no mundo do lado de fora.

Tudo menos aquele lugar.

Talvez fossem as paredes cobertas por um papel de parede com textura de madeira clara, que traziam uma cor quente e uma sensação aconchegante, ou ainda as luzes levemente amareladas que iluminavam de maneira natural o ambiente, trazendo um aspecto de final de tarde de outono, ou poderia ser a música sempre alta o suficiente para ser ouvida e sentida, mas baixa o bastante para não poluir o ambiente. Talvez as plantas bem colocadas na decoração completassem um tema um pouco cottage core, ou talvez só gostasse de como ninguém ali parecia deslocado, com vozes altas demais.

Seja lá o que fosse, o tempo parecia calmo ali. Sem pressa. Sem correria. Sem urgência.

A calmaria atraiu Jimin e a convidou para outras visitas. Era a sua terceira semana frequentando o café, um dia sim e um dia não, sempre no mesmo horário após a última aula na faculdade não muito distante dali. E naquele quase mês, Jimin já estava habituada com algumas coisas.

Duas garotas, possivelmente da sua idade, trabalhavam juntas ali, pelo menos naquele horário. Uma de cabelos longos e castanhos, com uma franja que fazia suas bochechas parecerem ainda mais redondas, sempre caminhava pelo pequeno café, limpando as mesas e servindo os clientes com muita simpatia. A outra, de cabelos curtos e negros, pele pálida e de feição delicada, dificilmente saía de trás do balcão, muito provavelmente por ser a barista. Ela era quem atendia o pedido de Jimin, desde a primeira vez em que pisara naquele café, e em todas as vezes ela agia da mesma forma: mostrava um sorriso doce que a fazia lembrar de algo, dizia coisas como "Que bom que voltou!" ou ainda "Como você está?", anotava o pedido — que era o mesmo todas as vezes, ao ponto de que ela já tinha decorado — e quando Jimin estava prestes a ir embora ela dizia "Até outro dia".

A princípio, Jimin não deu tanta importância, era como as duas funcionárias trabalhavam, nada que fosse especial. Ela não era uma cliente especial. Mas a cada dia que o sino da porta anunciava sua entrada e o sorriso doce da barista a recebia, gostava mais da sensação de estar ali. Era o que sempre faltava quando entrava em seu apartamento.

Então havia muitos motivos para que estivesse gastando toda a sua mesada em café, e não se arrependia.

Recentemente tinha descoberto que usar aquele tempo ali para ler era ainda mais agradável. O Jardim Secreto era um livro infantojuvenil, gênero esse que não costumava ler, e tinha sido recomendado por uma de suas professoras por ser extremamente famoso. De início não estava tão interessada, mas no meio da história percebeu que era uma leitura gostosa. Era a segunda vez que visitava o café com o livro em mãos. Assim como da outra vez, fez o seu pedido e sentou-se na mesma mesa ao lado da grande janela de vidro e começou a ler de imediato.

Mergulhada nas páginas amareladas do livro, não notou a aproximação da barista que trazia seu macchiato.

— A primavera vem aí? Como é que ela é? — com o mesmo sorriso doce a barista chamou sua atenção, a deixando confusa no primeiro segundo com a frase fora de contexto, mas que logo percebeu ser uma parte do livro, parte essa que tinha lido algumas páginas atrás — Desculpe. É o meu segundo livro favorito. Aqui está seu macchiato.

Com certa graciosidade, observou Jimin, a barista colocou a caneca de vidro cheia de macchiato na mesa.

— Obrigada. — o olhar da morena de cabelos longos era curioso. A outra garota não estava ali, o que talvez explicasse a ação pouco comum da barista de servir o café, além de que trocar mais que algumas palavras com ela era algo novo — Gosta de livros do gênero?

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⏰ Última atualização: Jan 12 ⏰

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