Capítulo 1

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Abdiel narrando

Fui transferido para uma nova escola, apesar dessa ser uma que eu já estudei. Conheço todo por lá.
Tive que parar de estudar nela por causa de um almofadinha, chamado Ian. Ele se sente, só porque o pai é rico. Se ele soubesse que o pai dele é funcionário do meu...

Estou no meu último ano, fiquei um ano sem estudar por causa das viagens do meus pais.
Moro atualmente sozinho, meus pais viajam muito e eu sempre fico sozinho trancado no apartamento. Decidi morar sozinho, para minha vida não parar a cada viagem deles.
Sou um cara de personalidade forte, não levo desaforos para casa. Cumprir regras não é muito meu forte, sou tipo bad boy. Mas sou um bad boy bonzinho. Tem quem goste desse meu jeito.

Coloquei uma meta para mim: só quero ficar sozinho e terminar logo esse ano. Eu não gosto de ter que conviver com pessoas, gosto de ser sozinho.
As pessoas tem medo de mim, há boatos que já fui para o reformatório, adoro isso.
Eu gosto de ser temido, só assim ninguém se mete na minha vida.

Nessa antiga / nova escola, tenho alguns conhecidos, que faziam parte da minha gangue.
Como eu sempre fui temido, por causa desse meu jeito fechado, alguns meninos se aliaram a mim.
Eu achei legal te-los por perto, mas a nossa relação é só na escola.
Eles faltam pouco me carregar no colo, se bem que já fizeram isso. Tem tempo que não os vejo, nem sei quem está lá ainda.

Estou prestes a completar dezoito anos, ganhei uma moto de presente dos meus pais no ano passado. Aqui podemos tirar a habilitação com dezessete anos.
Esse ano me prometeram um carro, vamos ver o que eles vão aprontar até meu aniversário.

Acordei cedo, tomei café da manhã e me arrumei para a escola.
Como muito mal e vivo doente por conta disso. Eu mesmo que cozinho minhas refeições, mas é ruim cozinhar só para mim.  Não gosto de comer na rua, sou meio enjoado para comer a comida de outras pessoas.

Vesti minha roupa preta, como de costume, peguei a mochila e montei na moto. Lá vou eu para mais um ano letivo, não vejo a hora de isso tudo acabar. Só quero ver o que me espera, não estou aberto para aventuras.

Ellie narrando

Me chamo Ellie, vou cursar meu último ano em uma escola de riquinhos. Minha mãe é empregada doméstica e eu trabalho como menor aprendiz para ajuda-la. Trabalho meio período em um restaurante. Somos só ela e eu, meu pai nos abandonou faz anos, não tivemos notícias dele desde então.
O patrão da minha mãe conseguiu uma bolsa de estudos para mim, ele é amigo do dono da escola. Nem se quiséssemos conseguiríamos pagar a mensalidade, o valor é muito alto. Por isso tenho estudado muito, para valorizar a oportunidade que me foi dada.

Iniciarei as aulas hoje, estou mega ansiosa.
Me arrumei de um jeito descolado, peguei a mochila e fui para o ponto de ônibus. Nem deu tempo de tomar café.

Ian narrando

Hoje iniciará o último ano letivo, não vejo a hora disso tudo acabar. Não aguento mais lidar com aqueles bajuladores. Tenho aversão por pessoas que ficam me paparicando, um bando de pobretões interesseiros.
Sei que muita gente tem bolsas de estudos, não suporto respirar o mesmo ar que eles.
Já fazem três anos que estou nessa escola.
Tem gente que só se aproxima de mim por status.
Não vejo a hora de acabar os estudos para eu viver viajando, conhecendo o mundo e acima de tudo; longe desses pobres asquerosos.

Minha mãe me acordou cedo, tomei banho e vesti uma roupa de grife. Tomei um café da manhã reforçado e entrei no carro. Meu motorista me levou até a escola.

Cheguei na sala e sentei na cadeira da mesa dos fundos. Aos poucos a sala foi enchendo, uma menina de família rica veio falar contigo. Ela tenta ficar comigo desde o ano passado, nem sei o nome dela. Tratei com frieza, não gosto de pessoas interesseiras.
A família dela é rica, mas a minha é mais.
Entrou uma menina na sala e eu acompanhei com os olhos. Aquele rosto me era familiar, tentei lembrar de onde a conhecia.
Pronto, já achei o meu passatempo para esse ano.
Ela sentou na fileira do meio e eu estava na fileira do canto, na mesma direção que ela. A encarei até ela me olhar.

- Finge que não me conhece. - Falei baixo apenas para ela ouvir. Ellie é filha da doméstica lá da minha casa. Meu pai e sua generosidade, conseguiu uma bolsa para ela aqui. Só pode ser isso. Tenho um nojo tão grande de pessoas pobres. Deus me livre ter que conviver com eles. Ela se levantou e veio em minha direção e abaixou para falar comigo.

- Não faço a mínima questão de falar que eu te conheço. Deu me livre conhecer um ser humano lixo como você. Se adianta! - Que garota insuportável. A fuzilei com os olhos.

- Tá se achando muito heim! Não esqueça quem colocou você aqui, se eu pedir você fica sem bolsa de estudos. Acho melhor me tratar bem. - Empurrei a sua testa com um dedo e fingi que deixei a caneta cair. Olhei para a cara de Ellie e olhei para a caneta rolando no chão. - Não vai pegar? - Ela caminhou com muita raiva atrás da caneta. A caneta foi rolando até na porta dos fundos da sala, parou ao bater no pé de alguém.

- Desculpe. - Ellie estava com o olhos fixados na caneta. Não acreditei no que estava vendo. Ele abaixou e pegou a caneta, virou a caneta nos dedos e entregou para Ellie. Puxou a cadeira e se sentou na terceira fileira, em nossa direção.

- Aqui está sua caneta. - Ellie me entregou. Abdiel olhou lentamente em nossa direção e franziu a sobrancelha. Joguei a caneta novamente no chão e mantive o olhar fixo em Abdiel. Deu para ver ele engolindo seco e respirando fundo.

- Se deixar cair novamente, vai ficar no chão. - Ellie me encarou. Levantei para olha-la na mesma direção.

- Se não fizer as coisas para mim, sua mãe pode perder o emprego. Pensa nisso... - Dei um sorriso para ela e sentei no meu lugar.

Abdiel narrando

Eu tinha que estar na sala desse riquinho metido a besta. Assim que entrei na sala já bati os olhos nele. Uma menina veio andando atrás de uma caneta, que parou ao bater no meu pé.
Peguei a caneta, brinquei com ela nos meus dedos e a entreguei.
A menina era bem bonita, parecia muito inteligente. Talvez fosse uma bolsista, aqui nessa escola tem muitos alunos bolsistas.

Meu sangue ferveu ao ver Ian a explorando.
Que cara ridículo! Jogando a caneta de propósito no chão.
Eu não posso arrumar confusão no primeiro dia de aula, mas a minha vontade era de socar a cara daquele infeliz. Ele estava fazendo a menina de empregada e me encarava, só para mostrar poder.

Levantei e fui até a secretária, tentei mudar minha turma. Mas o meu esforço foi em vão, não puderam me ajudar.  Voltei e sentei, evitando olhar para aquele cara insuportável.
Pude ver seu sorrisinho de deboche.

Para fotos dos personagens 
IG @autorawellendias

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