Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3

Chapter 493 Derrube a esperança que se levanta a cada queda, até não restar 1

Capítulo 493 Derrube a esperança que se levanta a cada queda, até não restar nada 1

Quatro de junho

Algum lugar à beira do mar em Shanghai

Se Bai Wu Xiang fosse apenas o demônio de agora, não haveria qualquer questionamento sobre seu querer.

No entanto, havia o vulto da pessoa que ele havia sido.

Um humano, nascido há mais de dois milênios, filho único de uma família nobre.

Ainda que esse humano fosse agora apenas uma sombra dentro do demônio, o sentimento de obsessão pertencia a ele, era o que movia ambos.

Numa mesma figura sombria e obcecada, havia um demônio Devastação ferido e irado pelas atitudes e palavras de um jovem e, divergente, também havia o humano que sentia uma confusa necessidade de proteger o mesmo jovem.

Nem Huan Shui tinha noção que essas duas personalidades habitando a mesma existência, estavam envolvidas num conflito tão truculento.

Bom... Isso, até ele abrir os olhos e acordar, encarar os caibros de madeira que sustentavam o telhado de um lugar desconhecido.

Aos poucos, esticando o corpo dolorido, adquiriu a percepção que estava deitado numa rede de juta.

A luz do dia passava por mínimos orifícios no telhado e num movimento lento, Huan Shui levou a mão ao próprio rosto e num assombro silente, não encontrou a máscara de argila branca que antes parecia em simbiose com sua pele.

De início, o rapaz não conseguiu se levantar, ele apenas se moveu angustiado nas tramas da rede, recordando-se em flashes do que tinha feito enquanto estava envolvido pela máscara e pelas vestes funerárias.

A mente de Bai Wu Xiang era um verdadeiro caos emaranhada à sua, Huan Shui ainda se sentia como um demônio e ter lutado com a Calamidade He Xuan nem de longe era o pior dos males.

Invadindo covis de fantasmas e demônios de níveis inferiores, tinha devorado suas almas, bebido do sangue obscuro dessas criaturas, no dia anterior... Havia dizimado um clã inteiro de assassinos e mercenários, em uma província vizinha.

Era uma tortura após a outra, seus atos conduzidos por Bai Wu Xiang, mas ainda era SEUS ATOS.

Seus atos, sua culpa e sua condenação.

Após dizimar os assassinos, ouviu o lamento dissonante de suas almas perdidas, algumas se juntando ao coro de espíritos ressentidos que pairavam ao seu redor, aquela sinfonia alucinante martelando incessante seu crânio como se fosse partí-lo em dois.

Segurando duas espadas obtidas naquele cenário infeliz, o sangue de estranhos gotejando em suas mãos, as vestes brancas funerárias manchadas de carmesim.

Contudo, nesse preciso instante, Huan Shui tinha a consciência que estava separado de Bai Wu Xiang, ele nem precisava conferir se os grilhões estavam em seu corpo.

Apenas em como se sentia, sabia que seus poderes estavam selados mais uma vez.

E seu corpo estava impregnado pelo odor do miasma, como se o cheiro da morte fosse uma mortalha sobre sua pele.

Quando tornou a olhar para os caibros rentes ao telhado, a luz do dia havia apagado como uma vela.

Aquele já era o início do anoitecer?... Como não tinha janelas onde se encontrava e todo esse tempo estava envolvido pelo escuro, seus pensamentos eram mórbidos e zombavam de si mesmo.

Foi quando uma fonte de luz entrou naquele lugar, Huan Shui ouviu passos e viu uma silhueta pelas tramas de juta da rede.

Sem saber porque, sentiu um medo infantil dominar seu coração, o mesmo de uma menininho em sua cama que finge dormir, enquanto alguma ameaça desconhecida penetra furtiva em seu quarto.