Fera Enjaulada - Ataque

0 0 0
                                    

Amanheceu e eu não tinha ideia do que eles fizeram na noite passada, eles não me chamaram e se tivessem eu não iria. Mas por alguma razão, eles já não me incomodavam mais. A presença deles se tornara insignificante para mim. Era isso que eu mentalizava, mas não era verdade. Eu tinha ódio de mim por não conseguir esquecer o passado. Mas as dores no corpo me faziam esquecer, não permanentemente como eu gostaria, mas me ajudava a desocupar a mente.

Ah essas dores no corpo me matavam e sempre surgiram quando eu acordava. Por um tempo eu não soube o motivo, ma depois eu me toquei do que pudesse ser e rezei para que fosse só mal jeito na hora de dormir. Mas não era. Talvez mais para frente eu conte o que era. Mas os banhos mornos sempre me ajudavam a relaxar os músculos. Uma pena que eu não pudesse morar de baixo da água quente, então eu tinha que sair para trabalhar.

A mesma coisa de sempre. Confesso que me irritava as vezes, ter que sempre fazer a mesma coisa, mas era um meio de vida. O emprego era bom e eu não tinha do que reclamar.
Confesso que eu me animei quando sai de casa. O dia estava quente e ensolarado, eu gostava muito do verão. Enquanto eu caminhava para o trabalho eu ouvi murmurinhos das pessoas dizendo que alguém havia sido atacado, quem era eu não fazia ideia e depois de passar por um grupelho, ouvi eles comentando que a pessoa fora atacada por um animal mas que ele foi ferido e fugiu, deixando a vítima ferida mas viva.
Dei de ombros, as vezes animais apareciam e atacavam quem os incomodasse. Quando cheguei no Café, Noel já estava lá, cortando alguns legumes, dei bom dia a ele e fui vestir o uniforme. Olhando-o ali, tão indefeso, meio curvado por ser alto, meu coração deu uma leve retumbada, mas eu me contive, afinal, Alice gostava dele. Como eu sabia? Eu não sabia, mas presumi que sim, eles conversavam fervorosamente, eram tão bonitinhos e eu não queria ser uma Bianca na vida de Alice, eu gostava de mais dela para isso.
No mesmo horário de sempre, abri o Café. Nas quintas o movimento voltava a aumentar. Eu estava atendendo o Dr. Pimentel quando Ângelo apareceu e caminhou diretamente para mim, eu o ignorei. O que é que ele estava querendo comigo depois de tanto tempo? Tenha santa paciência. Andei até a janelinha para entregar o papel com o pedido do Dr. Pimentel e Noel me lançou um olhar de piedade.
- Podemos conversar? - Ângelo perguntou enquanto eu limpava uma mesa.
- Fale, estou ouvindo.
- Eu sei que fui um babaca com você, eu sei que você me odeia e que eu te fiz sofrer, mas eu mudei muito em todo esse tempo.
- Uhum...
- Eu tive um filho e...
- Você já disse isso - eu falava calmamente, não adiantaria me estressar ou agir com emoção.
- Sim, sim, já disse. Bem, ele me mudou, eu amadureci, sei que levou muito tempo para isso e que você não confia em mim, mas eu juro que melhorei muito como pessoa.
"Se tivesse melhorado não estaria aqui me enchendo a paciência".
- Por que não vai direto ao ponto?- perguntei passando de uma mesa a outra.
- Certo, - ele parecia nervoso - o que eu tenho que fazer para te conquistar de novo?
"Morrer"
- Nada que você faça vai fazer eu me apaixonar por você de novo.
Caminhei e despejei a louça suja nas mãos de Alice que correu para lavá-los. Ângelo agarrou meu braço
- Ora por favor, eu ainda amo você, você não sai da minha cabeça.
Pelo canto dos olhos eu vi Noel e mais dois clientes se alertando.
- Solte meu braço - disse com firmeza, ele olhou em volta e assim o fez. - Veja bem, eu não te amo, e não estou disposta a amar outra vez, então poupe-se porque o único sentimento que eu tenho por você é desprezo. Agora vá embora.
Dei-lhe as costas e entrei na cozinha. Alice olhou-o ir embora e me abraçou e me parabenizou por ser corajosa. Noel além de ameaçar Ângelo, perguntou porque ele andava atrás de mim. Eu respondi que não sabia e que não o via desde 2000, mas que agora ele apareceu e agia como um idiota, mais do que já era.

Mandá-lo para o raio que o partisse foi a melhor coisa que fiz, me senti leve o dia todo. Nada cortou meu barato. Ouvi elogios da senhora que comprava rosquinhas, porque segundo ela meu cabelo estava lindamente cacheado e que eu era uma 'mulata' muito bonita e minha pele se iluminava de maneira majestosa no sol, palavras essas dela. Noel e Alice riam sutilmente atrás do balcão.
Eu me sentia feliz, raridade não é mesmo. Mas, Bianca apareceu. Ele aparecia esbaforida e veio ao meu encontro desesperada. Por um instante senti pena dela pelo o que tivesse acontecido.
- Magarya! Mike foi atacado. Eu devia ter te avisado antes mas não consegui.
- Atacado? Onde? - fingi interesse.
- Não sei dizer, mas foi ontem à noite.
"Então era dele que estavam falando"
- Mas ele tá bem?
- Não muito, mas está se recuperando. Então caso você queira visita-lo pode ficar à vontade, tá? Eu queria que você soubesse.
- Certo, obrigada por me avisar Bianca.
"Eu quero saber o quê que eu tenho a ver com isso"
São uns inúteis mesmo. Bianca disse algo e saiu correndo, precisava voltar para Mike. Me virei para Alice.
- Você vai vê-lo?
- Eu não.
- Ãn, Alice? Noel? Vocês ainda seriam meus amigos se eu mostrasse o pior de mim?
Eles me encararam e se entreolharam.
- Isso depende do qual ruim é esse seu lado.
- Acho que não muito - respondi baixinho.

contos da meia noite Onde histórias criam vida. Descubra agora