O conto dos dois irmãos

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Como se estivesse sufocada, Rob acordou em um pulo, ofegando e puxando o ar que parecia não querer entrar em seus pulmões. O primeiro que segurou seus ombros para que se acalmasse foi En, que estava mais próximo.

— Se acalme... — ele pediu no mesmo tom calmo de sempre, vendo a garota retomar a respiração normal — Isso, você está bem. Que bom!

— Onde estão os outros? — ela olhou para os lados, vendo que apenas os dois estavam ali.

— Já estão vindo, não se preocupe. — ele lhe deu um sorriso gentil, ouvindo os passos apressados vindo na direção do quarto.

Jack, Yami e Julius pararam na porta do quarto, pedindo para que o outro se retirasse e fechasse a porta. O silêncio foi incômodo até que o Rei Mago o quebrasse.

— Se sente melhor? — Julius pôs a mão no topo da cabeça dela, fazendo o olhar afiado de Jack se contrair.

— Só pergunte, vai... — ela suspirou — Eu não sabia sobre a maldição, mas acho que tenho mana pra fazer aquilo de novo.

Julius franziu o cenho e assentiu, vendo Rob desabotoar a parte de trás da roupa hospitalar que a colocaram. Quando proferiu o nome da magia e abriu as próprias costas mais uma vez, a figura de Ross saía devagar, se pondo ao lado dela, que chorava pela dor.

— Há quanto tempo, Julius. — Ross manteve a expressão neutra, passando os olhos pelos outros dois presentes.

— Ross. — Jack disse um pouco irritado.

— Isso é jeito de falar com seu cunhado? — deu um sorriso irônico que arrancou um pequeno riso de Yami.

— Moleque, queremos saber que história é essa de maldição. — foi a vez do capitão dos Touros Negros falar.

— Essa magia é limitada e vocês estão usando para sanar sua curiosidade? — ele bufou, coçando a lateral da cabeça — Muito bem. A parte dos Roselei já ficou bem claro, mas uma maldição ronda nós dois — ele olhou para Rob — e é um pouco complexo de explicar.

— Continua logo... — Rob pediu com dificuldade, erguendo o tronco.

— Claro. — Ross revirou os olhos — Basicamente, nossa genitora se deitou com um demônio e nós nascemos, sendo entregues para os Roselei pra quebrar a maldição das próximas gerações, isso nos faz amaldiçoados de nascença. — fez uma pequena pausa — O problema é que a maldição da Rob foi quebrada, mas a minha não.

— E como eu quebro a sua maldição? — a gêmea o olhou um pouco incomodada.

— Teria que ter feito isso antes da nossa luta. Eu pensei que a minha estivesse quebrada, mas...

— Mas?

— A maldição se extingue assim que nosso coração é tomado por um amor incondicional por outra pessoa. — ele olhou para Jack — Igual você e aquele estranho. — o capitão dos Louva-a-Deus deu um suspiro, já cansado das provocações — A minha teria sido quebrada se eu não tivesse visto vocês e tido a certeza de que você o ama mais do que eu.

— Você é inacreditável. — Rob se levantou da cama, apoiando-se na parede — Volta depois de anos como um completo estranho depois de me dizer coisas horríveis e ainda queria me obrigar a te amar como antes?!

— Devo dizer que tenho parte da culpa, fui eu quem o mandei se infiltrar. — Julius abaixou o olhar.

— Não importa. Como eu disse, esta é uma magia limitada, talvez esteja até no último uso. — Ross massageou a própria testa com o polegar e o indicador — Me surpreende você estar aguentando tanto tempo.

— Então você só quis me usar para humilhar a Charlotte no fim de tudo? — Rob esbravejou, dando a volta na cama para parar em frente a Ross.

— Também, eu sinto por isso. — olhou para o lado — Eu tenho um último pedido, se conseguir usar a magia mais uma vez, me deixe te levar até o altar no dia do seu casamento.

— Eu me recuso. — Jack cruzou os braços, sorrindo.

— E você acha que tem voz aqui, seu gafanhoto?! — Ross gritou enquanto apontava para Jack. O mesmo teve que ser segurado pela gêmea para não avançar em um ataque.

— Você fez muito mal a mim, Ross. — ela o empurrou contra a parede — Eu vou pensar, ainda tem muito tempo até isso acontecer.

— Poxa, já separei até o terno. — Yami debochou, fazendo Julius rir.

Depois daquela confusão, Ross retornou para o corpo de Rob e a mesma viu que seu grimório ainda possuía o feitiço da maldição, o que a fez suspirar aliviada.


•••


Depois de mais um dia na torre médica, Rob foi liberada e caminhava pelos corredores daquela base que um dia foi o seu lar. Alguns minutos foram necessários para que ela encontrasse Charlotte, que estava parada em uma das varandas olhando o sol se pôr.

— Eu não esperava que viesse me ver. — a capitã disse ao sentir a mana familiar.

— Ainda precisamos conversar. — Rob parou ao lado dela — Você mentiu para mim, Charlotte.

A capitã abaixou o olhar, sem coragem para encarar a mais jovem ao seu lado. Não sabia como ela reagiria após o ocorrido na arena.

— Eu sinto muito. — a mais velha engoliu seco.

— Não precisa, eu não estou brava. — os olhos azuis se arregalaram, fitando a outra — Talvez em outra época eu ficaria, mas você nunca pôde mentir sobre uma coisa. — Rob se virou para ela — Seu amor é legítimo, eu sei que fez isso para nos proteger.

— Rob... — a voz de Charlotte tremia, o choro já se formava em seus olhos.

— Obrigada, irmã. — a mais alta a abraçou, deixando as lágrimas de sua irmã mais velha saírem com força de seus olhos — E tenho um pedido para você.

— O que é? — ela se soltou um pouco do abraço, encarando Rob.

— Se permita amar. — uma expressão gentil surgiu na caçula — Você não tem ideia de como faz bem. Yami será incrível para você.

As bochechas da capitã coraram e ela nada disse, mas absorveu aquela frase com cuidado em seu coração.

Blood Mind | Black CloverOnde histórias criam vida. Descubra agora