Coelho da Neve

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Eu acordo calmamente do meu selo e sinto minha asas meio dormentes atrás de mim, olho para os lados meio desnorteado, não faço ideia em que século estamos, muito menos o ano.

Minha mente começa a trabalhar devagar e me vem uma imagem involuntária na cabeça, uma garotinha, no final da infância com cerca de 10 anos, olhos verdes grandes e alegres. Balanço a cabeça sem entender, porque essa imagem me vem à mente e após alguns segundos ela se evapora.

Estico as minhas asas e noto que ainda estou na mansão do Clow, no Japão, Kerberos deve estar no selo do livro e Clow... Bem, eu sei bem onde Clow está agora.

Abro a porta da mansão que vai para o jardim e noto que está uma noite fria de neve lá fora, sinto minhas energias sendo renovadas depois de tanto tempo selado quando vejo que além da neve, o céu está estrelado e com uma linda lua cheia.

Mas o que teria acontecido para o selo ser rompido? Será que já era para tudo começar? O Juízo Final? Não. Eu não sinto a energia de Kerberos, nem das Cartas Clow, ainda era cedo.

Caminho até o grande carvalho em que ficávamos horas e horas não fazendo nada, dias de tranquilidade, exceto pelas gritarias de Kerberos.

Será que ele estaria enterrado ali? Ou estaria na China, ou na Inglaterra? Ele poderia ter sobrevivido, eu sei que sim, ele foi injusto com a gente, em nos condenar a ter que ser repassado para um outro mago, como simplesmente fossemos objetos, nossa relação não era assim, nós éramos importantes um para o outro. Ou eu acho que não, nem sei o que eu estou pensando mais.

Escuto um choro vindo do portão da mansão e noto uma menininha, muito pequena, agarrada a grade.

- Coelhinho! Coelhinho! - ela gritava, enquanto chorava e se agachava no chão com frio. Olhei aquela cena confuso, ela não estava falando comigo, contudo aquilo me trazia uma sensação estranha, como se eu tivesse que ajudá-la. Continuei a olhando e meus olhos pegaram de relance um filhote de coelho branco passando por mim, ele pulava de um lado para o outro tentando achar algo quente até que me localizou e se aconchegou entre os meus pés. Olhei novamente para a menininha que vestia um capuz rosa que tampava a metade de seu rosto e para o coelho.

Me abaixei e agarrei a criatura pelas orelhas, que me olhava como se eu não tivesse piedade por devolver ela para uma criança pequena.

- Você tem que voltar para a sua dona, é assim que tem que ser. - afirmo para o coelho que me devolve o olhar contrariado.

Caminho até a criança e ela se levanta de uma vez do chão fazendo o capuz cair atrás, revelando grandes olhos verdes que me traziam uma familiaridade, ela levanta suas mãozinhas e quando encosta nas minhas para pegar o coelho, sinto uma pequena energia vinda dela e passando para mim, não era uma energia forte, mas parecia mais limpa e certa do que a lua. Uma energia que não me deixava com vontade soltá-la, mas sim de proteger aquela frágil menina, deixando-a junto a mim.

Ela olhou para mim e abriu um sorriso enorme e sincero, que me deixou desnorteado, porque ela sorria tanto só por causa de um coelho? Aquela situação era toda muito estranha, eu não estava mais me reconhecendo. Deixo o coelho em suas mãozinhas e me afasto, sentindo quase um oco dentro de mim pela a falta da energia.

- Sakuraaaaa!!!! - a garotinha deu um pulo assustada e apertou o coelho branco contra si quando um garoto, um pouco mais velho que a mesma, chegou até ela. - Não sai de perto de mim assim. - disse ele segurando a mão dela e verificando se ela estava bem.

- Touya, eu estou bem, o anjinho me ajudou. - disse ela apontando para mim, me deixando sobressaltado, pois estava só vendo o que se passava sem esperar que eles fossem falar comigo.

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