Capítulo 4

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Jeon Jungkook o deixou na porta de seu condomínio com a promessa de voltar quando pudesse para entregar as roupas que tinham ficado para lavar, e pediu, encarecidamente, que deixasse as roupas longe de Belial, pois era extremamente alérgico a pêlos de animais.

Park Jimin apenas deu de ombros, ainda dentro do carro - no banco do carona. A dor de cabeça tinha diminuído um pouco graças a um analgésico cedido pelo outro, mas, ainda assim, usava poucas palavras, pois seu corpo não estava bem. Seu corpo ainda se encontrava em estado de agitação interna, como se cada pequena célula de seu corpo estivesse tremendo fervorosamente, até mesmo sua respiração estava assim, trêmula, o que tornava a tarefa de se controlar externamente mais complicada.

No carro, tocava um pop dos anos oitenta que interrompia o silêncio permanecido entre os dois. Jungkook aproveitou o momento para responder algumas mensagens do trabalho, carrancudo, soltando um ou outro resmungo baixinho.

— Melhor subir agora, Belial deve estar cheio de fome em casa. — Park Jimin cortou o silêncio, observando o outro de relance, que jogou o celular no colo. Já foi tirando o cinto de segurança. — De novo, obrigado pela ajuda durante a noite, eu nem sei como corresponder a isso.

O comentário atraiu os olhos negros de Jeon para si, que o encarou com uma expressão difícil de ler, já que Park Jimin também era péssimo em ler expressões faciais.

— Pegue mais leve. — E se virou no banco, para ficar de frente para o outro. Jimin ainda tentou sustentar o olhar, mas não conseguiu, desviando-o para vários pontos aleatórios dentro do carro e nas roupas de Jungkook, o que o deixou brevemente curioso. — Vou ficar pessoalmente arrasado se a próxima vez que o vir for em uma das minhas mesas de autópsia.

Park Jimin não estava esperando por aquele comentário e voltou a sustentar o olhar para Jungkook, surpreso. Não que não estivesse esperando pela morte, tinha total conhecimento de que suas atitudes trariam consequências em um futuro próximo, a questão era que simplesmente não se importava com quais seriam elas.

Havia traçado um plano em sua cabeça e o estava seguindo da melhor maneira, um dia de cada vez. Queria morrer, isso estava mais do que claro em sua mente conturbada, no entanto, tinha um maldito senso de responsabilidade que o impedia de o fazer por conta de seus vínculos familiares. Park Jimin era filho único, seus pais tinham expectativas e ele próprio havia criado expectativas em si mesmo sobre o tipo de filho que gostaria de se tornar. Tudo em sua vida girava em torno dos pais e era justamente por isso que não conseguia simplesmente se matar. Seus pais ficariam sozinhos, e o simples pensamento de infligir sofrimento àquelas duas criaturas o fazia tremer.

Desta forma, vivendo um dia de cada vez, sem criar vínculos fortes demais, levaria os dias até a inevitável morte dos pais dentro de alguns anos. E só então, quando estivesse completamente sozinho, colocaria um fim na própria vida.

Era um excelente plano em seu ponto de vista, no entanto, estava ficando cada vez mais cansado a cada dia que passava. Abrir os olhos dia após dia estava exigindo cada vez mais esforço, seus domingos eram cada vez mais deprimentes, pois, antecedia às segundas-feiras, tendo que vestir a velha máscara de "bom moço trabalhador padrão", obrigando-se a se socializar com pessoas nas quais não se importava nem um pouco - e tinha que fingir que se importava - trabalhar o dia inteiro e voltar para casa apenas para dormir e repetir o mesmo ciclo incontáveis vezes ao longo da semana, todos os dias, pelo resto da vida.

Que vida, pensava. Estava apenas desperdiçando seu tempo em benefício de outras pessoas, sacrificando sua saúde mental em troca de migalhas, aumentando o capital de pessoas que não se importam. Por que? Não acreditava que a vida se resumia apenas a isso, trabalhar por anos até a exaustão, e então se aposentar e esperar lentamente pela morte, pois não existe mais energia ou disposição para se viver.

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