Pretty Dress - Uma história Jogos Vorazes

Capítulo 5 - Ceasefire

Why you gotta stand there looking like the answer now? 

– Matchbox Twenty

FLASHBACK – 7 ANOS ANTES

TRÊS DIAS APÓS A COLHEITA

Gale nunca tinha sentido um pavor tão paralisante como aquele que explodiu em seu peito quando ouviu o nome de Primrose Everdeen ser anunciado ao microfone. Suas pernas bambearam por uma fração de segundo e um nó sufocante se formou em sua garganta, tornando impossível inspirar o ar quente e rançoso de julho que pairava sobre a praça central do Distrito 12.

No centro do palco, a mulher de vestes coloridas dizia algo que ele não conseguia entender conforme uma pequena figura de cabelos loiros e trançados se distinguia meio a um grupo de meninas não mais velhas do que treze anos.

Ele reconheceu Primrose tão rápido quanto um piscar de olhos. Não levou mais tempo do que isso para perceber o que estava prestes a acontecer; para Gale, não foi surpresa alguma quando a voz de Katniss Everdeen irrompeu meio à plateia como trovão em tempestade violenta.

- Eu me voluntario como tributo!

E ainda que tivesse passado toda uma vida delineando estatísticas, Gale nunca tinha conseguido mensurar como realmente se sentiria caso a Capital apontasse seu dedo para um dos seus. Agora que o medo ganhava forma e cor, ficava evidente que ele que nunca havia de fato se preparado para nada daquilo, nem mesmo uma sombra do choque que agora o consumia. Mesmo que já estivesse acostumado a perder mais do que a ganhar, calejado desde a morte do próprio pai, não havia erguido uma fortaleza sólida o bastante para impedi-lo de desabar quando o azar batesse à sua porta mais uma vez.

E agora estava sozinho novamente, sem saber o que fazer com tudo aquilo. Apenas três dias depois da colheita, Gale tinha a cabeça ocupada por dois únicos imperativos: a sobrevivência de Katniss na arena dos Jogos Vorazes e a segurança da família Everdeen no Distrito 12 - que, em muitos aspectos, se parecia tanto com uma arena quanto qualquer outra escolhida para os Jogos, exceto pelo fato de que ali as matanças eram silenciosas, não televisionadas, e a arma preponderante era a fome.

Ele sabia que a partir de agora teria que se movimentar pelo tabuleiro sozinho, alimentando duas famílias ao mesmo tempo; a sua e a dela. Estava lutando para não admitir a si mesmo que não sabia como aguentaria aquele mundo de responsabilidades ao longo dos próximos meses e, no pior e mais provável dos cenários, pelo resto da vida.

Se mesmo antes, com a ajuda de Katniss, Gale frequentemente pulava refeições para dar o pouco que tinha aos irmãos, não parecia existir um argumento razoável para ele acreditar que agora conseguiria reproduzir o feito com duas vezes mais resultados e duas vezes menos ajuda. Estava preso em um buraco de coelho e não parecia haver qualquer chance de luz no fim do túnel.

Estava pensando justamente sobre isso quando, naquela tarde, bateu à porta do prefeito e foi atendido por um par de olhos da cor do céu.

Madge Undersee aproximou-se dele como quem tenta não assustar um animal arisco.

- Como você está? – ela perguntou calmamente.

O tom de voz de Madge era algo muito incomum a Gale. Suave, despido de qualquer autoridade. Era uma voz limpa, a voz de quem não tinha a garganta sufocada diariamente pela fuligem seca que vinha das minas.

- Você não precisa fazer uma pergunta quando sabe a resposta, Madge.

As sobrancelhas loiro-escuras da garota se uniram, formando um vinco em sua testa.