Quem é você?

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"O que é a vida?"

Essa é uma pergunta sem sentido. A vida é apenas a vida, a vida é viver.

A vida não tem que ter um sentido, a vida é injusta, a vida te coloca ao mundo e logo te tira, a vida não se importa se você é rico ou pobre, ela te faz sofrer e logo em seguida te mata.

A vida nunca fez sentido para Amélia, uma garota tão silenciosa, tão calma, quase inexistente em uma roda de pessoas. Ela nunca está feliz ou triste, apenas sentindo um enorme vazio, alguns terapeutas dizem que ela é apenas uma garota fria e que essa é a sua personalidade, outros dizem que ela tem uma depressão.

Uma garota exemplar, a melhor de sua classe, o orgulho de seus pais. Seus melhores amigos são seus livros, sua melhor companhia é seu gato chamado Cacau. Amélia tem uma aparência genérica, seus olhos e cabelos castanhos como troncos de pinheiros e sua pele oliva como um raio de sol, o que a deixa menos genérica são seus óculos dourados que sua mãe escolheu. Ela começou a usar óculos com 6 anos, uma de suas maiores dificuldades era escolher sua armação, então foi sempre sua mãe quem escolhia, todos os modelos escolhidos eram únicos. Mas o modelo atual era mais simples, uma armação preta com detalhes em dourado, foi a primeira armação que verdadeiramente a agradou.

Ela nunca realmente entendeu porquê se sentia dessa maneira, sua vida era perfeita, sua família era de classe média alta, amigos da elite, e seus pais eram extremamente amorosos e sempre deram do bom e do melhor para Amélia. Seus pais tentaram engravidar por anos, sua mãe sofria com diversos abortos espontâneos, então eles foram até uma feiticeira para que ela trouxesse um filho saudável para o ventre de Suzane, sua mãe, a feiticeira alertou que o tipo de feitiço que ela usou não era tão confiável, tinha chances de não funcionar, e funcionou, Amélia nasceu saudável. Por ser um bebê esperado por todos ao redor, seu nascimento resultou em uma enorme festa na família, e ela cresceu sendo mimada em todos os sentidos.

Quando ela tinha 4 anos a família começou a notar comportamentos estranhos em Amélia, ela nunca brincava com outras crianças, ela nunca teve amigos, sempre muito comportada e educada, mas nunca foi uma criança de falar muito. Quando ela tinha 6 anos finalmente a levaram a um psiquiatra, mas nenhum resultado, o doutor apenas disse que eram traços de personalidade, então a levaram em outro que disse a mesma coisa, então em outro, e mais outro, foram diversas tentativas para descobrir o que havia de errado com a criança de ouro. Mas mesmo com tudo isso ela sempre foi extremamente amada, principalmente por sua mãe, todos diziam a Amélia que sua mãe sofria de depressão e era uma pessoa triste antes de sua chegada ao mundo.

Sua rotina era repetitiva, com um toque de melancolia. Porém no último mês do ano algo mudou, era seu primeiro dia de férias, ou melhor, o seu primeiro dia após terminar o ensino médio. Não tinha o que estudar, ela já havia sido aceita em diversas universidades e não fazia a mínima ideia do que fazer. Ela decidiu ler um pouco mas logo se cansou, então desceu para a sala e encontrou sua mãe extremamente animada com uma caixa em sua mão, assim que sua mãe a viu ela descendo pelas escadas ela acenou e exclamou:

_Ahh minha filha! Comprei novos biquinis para nós! Aqui tem um lindo que ficaria perfeito em você!- Suzane puxou sua filha para ver os biquinis

_Obrigada mamãe- Amélia forçou um pequeno sorriso

_Vamos banhar na piscina hoje? Quero vê-la com esse biquini vermelho!

_Sim, eu aceito.

~~~~~

Um pouco mais tarde nesse dia Amélia foi vestir seu novo biquini, ele era vermelho vinho com correntes douradas, ele se encaixava perfeitamente em seu corpo, ela se olhou no espelho esperando sentir alguma emoção, ela apenas sentia que ela estava no corpo de uma pessoa estranha. Seus pensamentos ficavam confusos as vezes, sua mente dizia coisas horríveis e ninguém a entendia, enquanto ela se olhava no espelho ouvia vozes que a atormentavam

"POR QUE? APENAS ME DIGA! VENHA ME SALVAR!"

"Algo em mim está faltando, volte para mim..."

"POR QUE VOCÊ FEZ ISSO??? DÓI! ME AJUDE POR FAVOR NAO ME DEIXE AQUI!!!"

"Venha me salvar, traga-me de volta..."

"VOCÊ VENDEU UMA PARTE DE MIM POR DIVERSÃO???!!! POR QUÊ???"

"Estou com saudade, venha para mim..."

Amélia nunca entendeu de onde vinham essas vozes, nunca entendeu o porquê elas gritavam em seu ouvido, mas ela se sentia menos vazia com essas vozes, seu coração acelerava e ela sentia algo, era um desconfortável, algum tipo de dor, mas fazia ela sentir que era alguém.

Após acalmar seus pensamentos Amélia foi para a piscina de sua casa, quando desceu seus pais estavam dançando alegremente com músicas indies, eles realmente estavam felizes, Amélia não queria atrapalhar a felicidade deles com sua falta de humor, então ela se serviu um vinho e foi para a sua Jacuzzi que ficava no canto de seu quintal, lá tinha uma vista muito boa para a piscina, ela colocou um óculos escuro e ficou observando seus pais dançarem na beira da piscina, eles se amavam e Amélia ficava curiosa para saber como funcionava o amor, ele parecia tão complexo porém ao mesmo tempo tão simples.

Amélia soube por meio de fofocas da família que antes dela vir ao mundo eles eram infelizes e quase se divorciaram várias vezes, aparentemente seu pai sonhava em ser pai e sempre que sua mãe tinha um aborto espontâneo ele bebia e agredia fisicamente sua mãe. Amélia não conseguia imaginar seu pai sendo violento ou seus pais brigando, eles sempre conseguiam resolver tudo com conversas pacíficas, ela gostava de os observar, ela buscava entender tudo sobre eles, no fundo ela sabia que gostava de sua família, e esse era um dos únicos sentimentos que ela sabia que sentia.

Após algum tempo ali Amélia se sentiu um pouco tonta então resolveu parar de beber e ir tomar banho quente, ela subiu para seu quarto e tomou um banho, quando ela terminou de banhar ela resolveu sair para passear com a cachorrinha de sua mãe e aproveitou para ir comprar a ração de seu gato no caminho. Amélia nunca simpatizou muito com a cachorrinha de sua mãe, ela não comia se a ração não for da mais cara, tinha nojo de quase tudo e era um cão extremamente mimado, a cachorrinha de sua mãe era totalmente o oposto de seu gato, que saia pelas ruas á noite, comia qualquer coisa que colocassem em sua frente, enfrentaria até um leão se aparecesse em sua frente, as vezes Amélia pensava como eles seriam se fossem humanos, e também pensava sobre como eles conviviam juntos com tantas diferenças.

Após Amélia passar pelo mercado para comprar a ração de seu gato ela foi para uma praça, já era noite e a lua iluminava a noite, de frente para essa praça tinha um enorme rio de água doce, o rio ficava mais lindo ainda durante a noite, a praça estava vazia e solitária, um ar de melancolia passeava pelo lugar e o deixava sombrio. Mesmo sozinha, Amélia não tinha medo, ela andou alguns minutos e se sentou em um banco de frente para o belo rio, depois de um tempo a cachorrinha pulou em seu colo e começou a choramingar, ali Amélia percebeu que estava acompanhada, havia alguém atrás dela.

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