O discurso dos sábios 1°.

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Astarco andava por uma rua e viu um homem trabalhando com um fardo de feno, levando-o para uma carroça. Ele trabalhava firme e convicto, como se o esforço fosse ínfimo. Astarco então foi prontamente ajudar o homem. Ao final do trabalho, o homem tratou de entregar algumas moedas para o velho e disse:

- Tal ajuda me valeu. Meu filho acha que trabalhar com o campo é muito custoso e que é um trabalho ingrato. Não vou incomodar com as asneiras de um jovem. Tenha uma boa tarde.

Astarco então tratou de perguntar:

- Não há mal algum nisso. Se tu aceitar meu ombro amigo, pode dizer tudo. Eu não estou ocupado. Me diga qual a ocupação de seu filho?

O homem riu e respondeu:

- Ele quer ser filósofo. Ele passa o dia todo escrevendo. Estou louco com isso.

Astarco então pediu:

- Meu caro, tens razão. Ele precisa de ocupação. Posso falar com ele?

O trabalhador então aceitou, e juntos foram para sua fazenda. O homem era Cassius, um senhor de terras e ex-escravo que casou com Andressa, uma mulher de posses. Filho de um comandante grego. Ambos tinham campos de trigo e cevada, que pareciam mares dourados. Ao chegar, Astarco contemplou um jovem enfiado nos livros, escrevendo e copiando textos. O velho então disse:

- Tu tens exemplares das obras de Platão e Sócrates. Estou diante de um sábio?

O garoto respondeu sem olhar para o velho mendingo de roupas surradas:

- Não. Sou algo melhor. Sou filósofo.

Astarco olhou para ele e respondeu:

- Qual é a sua vocação?

O garoto então olhou para ele, mediu o velho homem, e disse:

- Não tenho tempo para o jardineiro. Eu sou filósofo e pronto.

Astarco então retrucou, segurando o ombro dele:

- Tu não és filósofo. Pois filosofia é a necessidade de todo homem. Todo ser com criticidade, racionalidade e imaginação pode ser um filósofo. Como tu podes ser um se julgas teu semelhante pela aparência?

O jovem então se fechou e continuou sua pesquisa. Astarco então provocou o garoto:

- Como uma mente tão pequena pode ser filósofo? Como se ganha dinheiro pensando?

O jovem se irritou e retrucou a provocação:

- Eu sei as obras de Platão à risca. Os livros de Aristóteles são obras que conheço de memória. Não tenho mente pequena. Quanto a ganhar dinheiro, eu vou para o palácio do rei, virar seu conselheiro.

Astarco então perguntou:

- Quais destes livros tu fizeste verdade? Quais decretos dos antigos e atuais mestres tu praticaste? De que adianta um homem instruído conhecer os sábios se ele mesmo não pratica? Como poderia existir um sábio que não reflete ou experimenta suas teorias? Seria um sábio ou um livro?

O garoto então ficou pensativo. Suas perguntas caíam no colo dele como um desafio. Ele pensou, pela primeira vez na vida, e disse:

- Tens razão. Eu ainda não pratiquei. Eu apenas estudo. Logo, serei o melhor filósofo do mundo.

Astarco então disse:

- Me impressiona tu dizer isso. Pois tal afirmação é uma loucura. A falta de lógica em tal pensamento. Como tu podes ser o melhor se não estás competindo?

O garoto se irritou e disse:

- Velho ermitão, como não estamos competindo? A vida é daqueles que são os melhores.

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