4 | amarelo conforto

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Com a irritação, não consigo ver o conforto.

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Poucas semanas após completar 16 anos, a avó de Taehyung faleceu.

Aquela mulher era a única que protegia ele e seu irmão, então quando ela se foi, as coisas que já eram ruins ficaram piores. Taehyung era frequentemente espancado pelo pai, fosse porque tirou uma nota ruim na prova, porque não fez ou atrasou os trabalhos domésticos que sua mãe pediu ajuda, porque andou em casa mais rápido do que deveria, porque comeu pouco ou porque comeu muito. Não importava, não importava o que ele fizesse ou dissesse, teria consequências por apenas respirar mais rápido, mesmo que tivesse corrido uma maratona.

Não importava. Nada importava.

Quando sua avó estava viva, ela protegia os netos com unhas e dentes, passava por cima da ordem do homem, e muitas vezes acabavam discutindo pela educação que ele queria dar aos próprios filhos. Mas aquilo não impedia Taehyung de ser maltratado, pois, quando ela não estava perto, aquela casa virava o próprio inferno para ele. Jungkook apanhou pouquíssimas vezes, pois sempre que estava em casa e percebia as intenções do seu pai, intervia e acabava apanhando no lugar dele. Sempre foi muito protetor com o irmão, sabia disso, e seus pais também sabiam. Acreditava que era justamente por isso que seu pai tinha tanta raiva; havia alguém, além da própria mãe, que passava por cima da ordem dele.

Quando fugiu de casa, deixando seu irmão com apenas 14 anos e completamente desprotegido, Taehyung passou dias sem conseguir dormir direito. Pensava demais se Jungkook estava sendo abusado por aquele homem doente, e quando conseguia dormir, sonhava com o moleque catarrento pedindo para que não fosse.

A única saída que ele encontrou para aliviar aquele tormento que estava vivendo foi o sexo.

Tinha um pouco mais de 18 anos quando se enroscou nos braços de um homem pela primeira vez, e a ardência, a dor, os tapas, as respirações quentes e ofegantes, o suor e a sensação de se sentir pequeno nos braços de alguém fizeram com que ele esquecesse completamente o medo que sentia constantemente de seu irmão estar nas mãos daquele homem. Aquela foi a primeira noite em que ele conseguiu dormir a noite toda desde que saiu de casa, mas quando acordou, o sentimento de culpa e desespero, a vontade insuportável de ir buscar Jungkook, a dor de não saber o que estava acontecendo com ele, todos aqueles pensamentos que tinha esquecido por poucas horas, vieram como uma rajada de vento frio na Antártica.

Naquele mesmo dia, Taehyung estava na cama de uma segunda pessoa. No dia seguinte, estava na cama da terceira. No dia seguinte, estava na cama da quarta. Aquela repetição e a busca incansável de não sentir nada seguiram-se por dias, semanas, meses. Participou de vários clubes, fez cenas BDSM, frequentou clubes fetichistas e chegou a transar com três homens em uma única noite, tudo para conseguir esquecer um pouco da dor que sentia na alma e focar na dor do corpo. Ele não sabia mais como controlar o desejo insaciável que sentia dia e noite por sexo; afinal, aquela era a única coisa que conseguia controlar a dor que o consumia.

Durante uma aula de História da Arte, quando ficou excitado ao ver gotas de chuva descendo pela janela, Taehyung percebeu que algo estava errado com seu corpo. Para confirmar isso, foi a um clube de sexo e transou com cinco homens, e quanto mais fazia, mais queria, até que teve certeza de que algo estava realmente errado. Suas buscas na internet foram precisas; ele estava usando o sexo como um mecanismo de esquecimento e enfrentamento, tinha desenvolvido transtorno hipersexual. Não buscou ajuda médica, se auto diagnosticou, e ele próprio se curou. Buscou medicamentos para diminuir a libido, praticou yoga por três meses para controlar a mente, e começou a fumar maconha sempre que se sentia sobrecarregado. Sempre que pensava em fazer sexo, ele canalizava a energia na pintura.

cores são sentimentos, tysOnde histórias criam vida. Descubra agora