Capítulo 4- tensão

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 O tempo se arrastava, tal como uma ampulheta que a cada grão caído era um minuto que separava Taíssah da morte. Era nítido quão debilitada ela ficava com o passar dos dias. Gien já não sabia mais o que fazer, se sentia de mãos atadas, não sabiam realmente o que debilitava a mulher, eram muitos médicos trabalhando arduamente no caso e não havia nenhum sinal de melhora, bom não completamente. Para a covid, haviam-na posto no ventilador, e a medicavam com os melhores remédios disponíveis, mas ainda assim, o seu pulmão estava fraco e quase não conseguia dar conta, os médicos somente retardavam o inevitável, e aos poucos sua esperança se esvaia.

 Ele pedia aos céus, para quem pudesse ouvir para que a irmã se recuperasse, ela precisava sair daquela situação. Não haviam tido um vínculo desde a infância, pelas proibições da mãe da mesma, —que não aceitava de forma alguma que o fruto da traição do ex-marido convivesse com seus filhos. Ela batalhou arduamente para que jamais houvesse nenhuma aproximação, mas com o passar dos anos, eles burlavam aquela regra da maneira que podiam, e haviam criado uma forte ligação com o tempo, ainda conseguia recordar quando o trio de irmãos se encontrava escondido dos pais.

G-Gien? — Ela sussurrou roucamente, o chamando com dificuldade, através da máscara de oxigênio, retendo a sua atenção quebrando sua linha pensamentos. Ele olhou para a irmã mais velha, percebendo o quanto a loira havia crescido e se tornando forte e destemida, era angustiante vê-la de modo tão frágil e vulnerável — Dói muito...

— Não se agite tanto, tente repousar — aconselhou, a vendo-se esforçar para abrir os olhos. Muitos diziam que ele não deveria ficar ali, pois ainda havia o perigo de contágio, mas ele mandava todas as formalidades para o espaço, não a deixaria ali sozinha naquele quarto da UTI de forma alguma. Sabia da sensação de estar sozinho e não deixaria que Taíssah sentisse o mesmo.

— Eu vou morrer, não vou? — Ela disse com convicção, buscando uma resposta nos olhos do irmão, queria a sinceridade que somente ele poderia a dar, sabia serem íntimos o bastante para ele lhe falar a verdade. Um espasmo involuntário tomou conta de seu corpo, ela tossia sofregamente, não foi difícil para Gien notar o líquido carmesim sujando a máscara de oxigênio, e as lágrimas marcando os olhos dela.

— Não irá morrer, eu lhe prometo isso.

Iria cumprir com isso nem que precisasse fazer qualquer coisa para salvá-la. Apertou o botão para chamar um médico, e a enfermeira, que logo a sedaram.

❀ ❀ ❀

Podia ver as luzes ao longe dentro do avião, estava escuro lá fora, logo amanheceria, conseguira um voo de última hora de Seattle para São Francisco, era necessário que estivesse lá o quanto antes. Claro que não conseguira vir sem supervisão, ou o mais apropriado ao que ela pensava babá: Ivy, que Noan certificou-se de ir com ela, pelas palavras da loira era porque estava de férias e precisava respirar novos ares, mas não engolia aquela desculpa de forma alguma.

Mas por hora não se preocupava com nada disso, não queria se irritar com isso, tinha de ter a mente clara e afiada, relera o caso diversas vezes, se recordando do trabalha de sua mãe — que era uma renomada geneticista, para entender melhor o porquê o tratamento para a corona não surtia muitos efeitos, sendo que ela estava perfeitamente saudável, e bem antes, e inclusive já havia sido vacinada, havia ali algo mais, mas não chegara a uma conclusão.

Era a segunda vez na vida que iria para São Francisco, se lembrava da vez que havia ido lá em um recesso de primavera para ver Noan que estudava na universidade da Califórnia, suas lembranças ainda eram frescas, o que tornava inevitável não se recordar de Simon, principalmente observando à noite escura similar à que inundava os olhos dele.

Desabrochar do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora