Hogwarts estava tão fria como eu me recordava em relação ao último inverno, tão violentamente fúnebre e hostil que um único casaco não era o suficiente para fazer com que nós não nos tremessemos como galhos de árvores na terceira idade. Cachecóis e duas unidades de calças eram o mais perto que chegávamos do conceito de conforto, enquanto os cabelos permaneciam desgrenhados com os flocos de neve que caíam de maneira insaciável, tornando o uso de toucas mais do que necessário — a moda e a popularidade de suas vestimentas magicamente não eram tão relevantes.
Os corredores eram verdadeiros ecos de nossas respirações, os alunos passaram a caminhar em pequenos grupos para que o calor humano pudessem vencer o manto branco e brilhoso da neve ao lado exterior do magnífico castelo e, dessa maneira, aqueles que estavam sozinhos se tornavam figuras bizarras e isoladas vagando com livros nas mãos — exatamente a situação da qual eu estava inserida pouquíssimos momentos atrás, antes de adentrar em mais uma aula de Poções, com os pés doloridos pela ausência de meias com tecidos qualificados.
— É engraçado a união de dois cachecóis em seu pescoço, Aurora — O famigerado Weasley se aproximou com o seu tom de voz sarcástico e, de uma forma única, acolhedora. — Todos da Sonserina se parecem com pequenas sacolas de repolhos vagando pelo castelo — ele sorri com ternura, erguendo as mãos em minha direção e apresentando um sapo de chocolate, o que me faz sentir a garota mais sortuda do universo em ter um ótimo amigo grifinório.
— Não acredito que você está com um estoque desses, Ron! — respondo extasiada, e sei que pareço mais desesperada do que alegre. — Eu não faço a mínima ideia de como está fazendo isso, mas seja como for, por favor, continue! Jamais serei contra isso.
— Eu posso dizer com veemência o local onde Ronald Weasley conseguiu esses chocolates — o cheiro de amêndoas e chocolate quente transbordam em minhas costas, e sei que os passos firmes e o doce odor capilar pertencem à Hermione Granger. — Você está com uma dívida tão grande, Ron! Posso saber porque você e o Harry não param de mexer na minha bolsa? Ah, Aurora! Me perdoe, mas estou caçando eles há semanas.
— Ah, Mione! — seguro em suas mãos quentinhas e fofas, que mais parecem uma mini versão do que seria um abrigo ideal. — Eu sinto muito, eu não fazia ideia de que os meninos estavam fazendo contrabando... — as bochechas de Ron imediatamente ficam vermelhas.
— No dia em que homens entenderem a necessidade de uma mulher ter um belo doce em suas bolsas em dias emergenciais, talvez o mundo esteja pronto para compreender a existência de bruxos, ou seja... — Hermione suspira, tirando um de seus fios de seu belo rosto angelical. — Não se preocupe, Aurora, fique com o sapo. Veremos na sala comunal como resolver este assunto, não é mesmo, Ronald? — Mione encara o ruivo com um olhar feroz, e é a minha grande chance de deixá-los resolver os conflitos de furto.
Eu jamais me esquecerei de ser uma sonserina cujo sobrenome não é o suficiente para provar o valor de uma personalidade que não é agradável aos incontáveis olhos da escola de bruxaria. As características para se alcançar o destaque requer truques, fazer com que as pessoas gostem de você é uma das mágicas que eu julgo ser a mais difícil de todas de se conjurar e, certamente, eu não havia alcançado essa graça. Ron, Harry e Hermione cederam um lugar no expresso quando éramos crianças ansiosas e amedrontadas em relação ao que viria em nosso primeiro ano, e após anos de aventuras e descobertas, a lealdade de três seres da Grifinória se provou concreta — eu os amava, de uma maneira da qual eles não possuem dimensão. E admitir isso era um prazer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Our Bloods Are Colliding
FanfictionAurora Gwenord é uma bruxa da casa das serpentes - embora não se sinta pertencente à lugar algum. Estar em Hogwarts pode se tornar um fardo quando se está constantemente questionando qual o seu lugar no mundo bruxo, entretanto, quando o seu melhor a...