FRONTEIRA - Gerson Santos

G • 152

Olho pro relógio que marca três da manhã, ainda não conseguir dormir nem que fosse por meia hora ao contrário dela que adormecia tranquilamente. Minha respiração estava pesada e minha mente parecia uma cadeia infernal que tava o tempo todo falando o quão escroto fui.

Eu só queria dormir um pouquinho mas era impossível, minhas mãos tremiam enquanto o meu coração batia descompassado.

Me levanto com cuidado para não acordar e saio do quarto com o telefone na mão, vou até a cozinha e pego um copo de água. Me sento no banco que tinha ao lado da bancada e solto um suspiro profundo.

-- será que eu fiz isso mesmo?

Coloco mais água no copo e bebo de uma única vez, abro o WhatsApp vendo mensagens da minha mãe perguntando como estou e se poderia ir almoçar com ela no sábado, tinha também de alguns colegas da equipe perguntando algumas coisas mas ignoro todas elas entrando no YouTube.

Procuro por um vídeo - como amenizar a culpa da traição - o que sinceramente era um merda, já que o homem falava que era um desejo da carne humana e que nós homens estamos condenados a trair nossas esposas e que elas devem aceitar isso.

-- tá falando nada com nada esse cara -- nego saindo do vídeo

Procuro por outro - traição tem perdão? - a mulher do vídeo dizia que existe três tipos de traição, uma por escolha do homem, outra porque a mulher deixou com que chegasse nessa situação e a última a traição sem culpa.

Ignoro todas elas achando uma merda de conteúdo e vou até a traição sem culpa, a mulher diz que nessa traição geralmente os homens agem por impulso ou que eles estão bêbados e que não sabem o que fazem.

-- é mais ou menos isso.

Ela diz também que nesse tipo de traição ela perdoaria já que o cara não tinha a intenção de fazer o que fez. Ok, mas a minha Azedinha, ela perdoaria?

Pelo o que eu conheço dela com certeza não.

Apago o histórico de pesquisa e deixo o celular em cima do balcão colocando mais água no copo bebendo aos poucos dessa vez

Minhas mãos tremiam tanto que parecia ser uma tarefa impossível ficar calmo

Algumas lágrimas descem do meu rosto e um nó gigante se forma na minha garganta, coloco para fora tudo o que estou sentindo.

--me sinto um nojento.

Choro mais alto e deito minha cabeça no balcão sentindo o meu peito doer por dentro.

-- para de doer por favor -- choramingo

Percebo que estou em crise de ansiedade quando começo a sentir falta de ar e minha garganta fecha.

-- amor? -- ouço a voz dela perto da escada mas não consigo me mover -- amor? -- sua voz parece estar mais perto -- amor, o que houve? -- ela questionou preocupada tocando no meu rosto mas não consigo responder -- isso deve ser crise de ansiedade. -- ela disse beijando minha bochecha

Tento falar algo pra que ela pudesse se acalmar mas não consigo, meu corpo parecia ter paralisado. A última vez que tive uma crise tão forte assim foi quando participei na copa do mundo.

-- amor? Fica calmo tá? Olha dentro dos meus olhos e respira bem fundo.

Faço o que ela pede e vou tentando ao máximo voltar ao normal.

-- eu tô aqui com você, amor. -- acariciou minha bochecha -- fica calmo tá bom?

Solto uma respiração pesada e vou voltando a realidade aos poucos.

-- mô -- choramingo puxando ela para um abraço

-- tô aqui, tá bom? O que você tá sentindo

-- meu peito tá doendo

-- Gerson, quer ir no médico? -- ela questionou preocupada

-- não, mô. -- mordo o lábio tentando disfarçar o nervosismo -- foi só uma crise

-- sabe o motivo?

-- não -- minto

-- vou fazer um chá para você -- ela disse pegando uma panela

-- amo o seu chá -- digo malicioso e ela revira olhos rindo

-- você é um tarado -- ela disse pegando um pacotinho de camomila

-- que isso mulher.

-- é sim -- Ela fez o chá de camomila, colocou em uma xícara e me entregou. A azedinha cuida tanto de mim não merece o que eu fiz. -- pode tomar tudinho

-- você quem manda -- pisco

Bebo todo o chá e até me sinto um pouco mais disposto.

-- tá se sentindo melhor?

-- sim, obrigada por sempre cuidar de mim

-- vou cuidar de você sempre meu pretinho

Ela me deu um selinho demorado e coloco meus braços em volta da sua cintura.

-- vamos dormir? Ainda não consegui por conta da crise de ansiedade

-- você devia ter me acordado para te ajudar, amor.

-- não queria atrapalhar o seu sono

-- não é atrapalhar amor, é cuidado -- me deu outro selinho e abro um sorriso fraco -- vamos dormir.

Subirmos pro nosso quarto e dessa vez conseguir dormir agarradinho nela.