Cap 1

144 11 0
                                    

- Não vai dar! - Digo pela milésima vez para minha irmã Maite.

- Dulce por favor, eu preciso da sua ajuda, é só uma hora, o que tem de mais você passar um tempo com ela? - Diz andando atrás de mim.

- Minha querida Irmã - Digo parando no meio do corredor da minha casa - Não vai rolar, eu preciso trabalhar, sem contar que sua filha, vulgo minha sobrinha é uma peste - Falo com entonação - Sem ofensas.

- Eu sei que a Lupita é teimosa as vezes, mas ela gosta de você e eu já te disse, é apenas uma hora, preciso resolver aquele assunto no fórum e não tenho com quem deixar ela - diz implorando.

- E a mamãe ? - Pergunto cruzando os braços.

- Viajem para Milão.

- Papai ?

- Está junto com ela.

- Annie? - Nossa melhor amiga em comum.

- Está em um desfile em Cancún, pelo amor de Deus Dulce - Ela quase grita - Acha mesmo que eu estaria me sujeitando a isso se não fosse importante?

- E o pai dela? - Eu sei,eu sei, fui audaciosa em perguntar.

- Eu juro que vou estrangular seu lindo pescoço se me fizer lembrar daquele maldito novamente! - sua voz alterada me fragilizou.

- Tudo bem, você venceu, eu cuido da pestinha, mas somente por uma hora, nada de atrasos, tenho reunião hoje a tarde.

- É só agora de manhã - diz me abraçando - Bom ela já está lá na sala, tenho que ir agora, beijos - diz beijando meu rosto antes de sair apressada pelas escadas.

Quando chego na sala de estar, vejo Lupita sentada no sofá mechendo em alguma coisa.

-  Bom dia pestinha da tia, o que tá aprontando? - paro do seu lado - E que roupa é essa ?

- Bom dia titia - Seu sorriso de criança arteira estava estampado naquele rosto - Hoje é dia das garotas venderem barras de cereal pra arrecadar dinheiro pro próximo acampamento que teremos! - Diz empolgada. Embora tivéssemos dinheiro de sobra pra bancar esses acampamentos, Maite e mamãe diziam que estaríamos tirando essa experiência de Maite e das garotas, de poderem conquistar as coisas pela força de seus braços. Fala sério!

- Sério, que legal - Digo ligando a tela do meu celular pra responder algumas mensagens - Ainda bem que sua mãe vai chegar a tempo pra te levar não é mesmo?

- Não vão não titia- diz com aquela voz de criança banguela. Lupita tinha apenas seis anos de idade, e embora fosse inteligente, não foi o suficiente para evitar o seu tombo no parquinho, que ocasionou na perca de um dos dentes da frente.

- Como assim Lupita? - pergunto, com o olhar fixo nela.

- Porque as meninas vai vender agora de manhã. Mamãe vai me buscar depois.

- E que horas começa isso Lupita? - Eu queria estrangular Maite.

- Nove da manhã titia - diz sorrindo.

Olho as horas no celular e marcavam oito e meia.

- Puta que o par.... - grito, mas paro.

Nem isso eu podia fazer pois, a pestinha viraria uma fita cacete e reproduziria mais tarde. Igual na vez que ocorreu no natal, quando sem querer, querendo, xinguei.

Estávamos na Venezuela, e eu havia perdido o ônibus que nós levaria até a casa de tia Sônia, que por sinal era humilde e odiava dirigir carros. Lupita tinha três anos e era um papagaio em meu colo. Tínhamos ido ao mercado.

- Eu não acredito nisso! não pode ser. Mas que Buceta! - grito com raiva.

- A próxima passa daqui meia hora moça - Havia um casal de velhinhos que estavam ali sentados. Olho para eles rapidamente.

-Bu- Ce- tá ! - A palavra com entonação em cada sílaba doi dita por aquele pequeno ser, meus olhos se arregalaram.

- Maite vai me matar! - sussurro olhando para a menina com o sorriso arteiro no rosto.

- Olha que lindo José, ela chamando o automóvel - Os velhinhos sorriam enquanto eu queria chorar.

Olhei para a mesma menina que agora tinha três anos a mais e um par de olhos curiosos pra cima de mim.

- Você via vestida assim titia? - Olho para mim e eu estava de pijama. Puta que pariu, eu tinha menos de meia hora. Vou estrangular a Maitê.

- Sua mãe, tá ferrada comigo - Digo antes de me virar e subir as escadas - Fica quietinha aí ouviu - gritei.

Após uns vinte minutos eu já estava trocada. Vesti um short jeans despojado, uma regata básica preta, e um par de sandálias. Peguei meus óculos e amarrei o cabelo em um rabo de cavalo. Corri para fora do quarto e por milagre Lupita estava imóvel na sala.

- Vamos - digo e ela me segue. Ao entrar no carro ligo para Lola, minha secretária.

- Bom dia Senhora Dulce.

- Bom dia Lola, preciso que desmarque qualquer coisa que eu tiver agora de manhã, estou resolvendo um contratempo.

- Tudo bem Senhora, mas alguma coisa?

- Não só isso. Tchau.

Desligo o celular e ligo o carro.

- Então, pestinha, pra onde vamos?

- Para o parque da prefeitura.

- Coloca o cinto !- digo dando partida no carro.








Meu doce privilégio Onde histórias criam vida. Descubra agora