Astarco estava na praia da Grécia, lendo um livro de poemas e observando os mares gregos. As pessoas caminhavam pela praia e algumas nadavam. Então ele viu duas crianças brincando e começou a escrever:
"Devíamos ser como as crianças, dispostos a nos integrar. Às vezes percebo que os adultos perdem a leveza infantil e se preocupam demais com coisas sem sentido. Vejo nas crianças a compreensão de como estar aberto para novas amizades, e vejo em algumas delas a virtude de compreender. Essa virtude é vital e uma força necessária para resolver muitos conflitos na minha era. Confesso que pode ser a cura para as dores futuras. Compreender é entender duas vezes, não só entender, mas tornar-se parte e integrar o assunto a ser compreendido. As crianças me estimulam a pensar assim."
"Olhando jovens brincando na areia, percebo que nenhuma delas pergunta o nome, julga as posses ou olha as roupas dos outros. Elas apenas seguem seu objetivo. Então eu pergunto: por que os adultos esquecem os princípios naturais e simples da infância e se tornam tão densos? Por que não somos compreensivos ao ponto de integrar nosso próximo? Por qual motivo temos aversão às diferenças? Desejamos padronizar o infinito, como se quiséssemos dar um nome para cada grão de areia. O homem não pode ser padronizado, pois em sua essência é diferente, e sua diferença faz bem para a humanidade como um todo. De fato, todos temos um objetivo, uma missão na terra, mas todos os homens estão voltando para casa dia após dia. Por que então os homens acreditam ser capazes de ter uma única regra para viver e interpretar o sublime? Todo homem tem suas próprias ferramentas para interpretar o mundo. Ser compreensível é reconhecer a versão interpretada dos outros indivíduos. A compreensão é uma verdade universal que integra todos os seres em uma única pátria. Mas eu pergunto: se a virtude da compreensão é tão vital, se os homens cheios de instrução e inteligência sabem da importância da compreensão, por que ainda resistimos em compreender o próximo? Creio que a falha está em obscurecer o ego. Em minhas andanças, vi acadêmicos e filósofos rejeitarem o ego, lutando contra essa parte da alma. Mas isso não desequilibra o ser humano? O ego deve ser instruído como uma criança pequena, ele é nossa capacidade de individualidade, e para sermos agentes integradores, precisamos ter um ego instruído. A falta de compreensão interna dificulta a aplicação da compreensão externa. Portanto, o homem é um espelho que reflete seu interior e revela a alma indestrutível. Devemos nos compreender para, a partir daí, compreender as leis do mundo."
"O sábio compreensivo entende a si mesmo e é capaz de perceber seus atos e medir suas ações. Quando olha para o mundo, o sábio é capaz de ver nos olhos do altruísmo. Através de seus conceitos e análises preliminares, ele estuda o ambiente ao seu redor e aprende com as pessoas, identificando suas potencialidades e compreendendo seus vícios, sem julgamentos, encontrando utilidade em suas amizades. Quando autorizado, o sábio usa a compreensão para entender o motivo pelo qual tudo acontece. Ele não faz julgamentos, apenas oferece subsídios para que as coisas e seres mudem de acordo com sua essência."
"Então, por que não conseguimos alcançar e fazer da virtude da compreensão nossa bússola? Não tenho resposta para esses pensamentos, pois a sociedade é multifacetada. É possível que eu não seja tão compreensivo e que outra pessoa seja mais virtuosa nesse atributo do que eu. De todo modo, acredito que algumas pessoas tenham estimulado essa virtude, e o ponto inicial está na família, o primeiro grupo social onde, inegavelmente, cada ser humano é inserido, mesmo que nasça órfão. O seio familiar desenvolve muitas das virtudes e atributos humanos, e a compreensão deve ser estimulada para que possa amadurecer na vida acadêmica e, por fim, colher os frutos na velhice."
Astarco então caminhou para seguir seu caminho. Já fazia tempo que ele não escrevia e a tarde já estava se aproximando. O alvorecer dourado e azul da Grécia lembrava a Astarco de seu compromisso e ele partiu com seu livro, deixando-o disponível na biblioteca de Atenas.
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Os discursos de Astarco
Historia Cortauma coletânea de discursos filosóficos em formato de contos, onde o personagem Astarco, vive como um mendigo na era de Roma, questionando o sistema e o pensamento da época, com muitas metáforas, será que seus discursos podem ser usados hoje em dia ?