Prólogo

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Abro os olhos com certa dificuldade e a claridade começa a incomodar. Eu nem levantei ainda e já me arrependi de ter concordado em chegar mais cedo hoje. Pra que eles precisam de mim mesmo? Eu nem consigo lembrar, mas deve ser algo importante, porque, se não fosse, eu jamais perderia meu sábado dessa forma.

Ah, é claro, a reunião geral da equipe, depois nós saímos pra porra de um almoço coletivo. Ótimo.

Meu braço parece muito mais pesado, enquanto minha mão rasteja pela cama e eu me estico para alcançar o celular, para então desligar o alarme irritante.

Puta que pariu. Caralho. Vai se foder.

O que eu estava pensando mesmo? Talvez se eu tivesse ido dormir mais cedo, talvez se eu não tivesse passado a semana inteira fazendo horas extras, talvez se eu não tivesse bancado o motorista em todos os passeios que a minha filha adolescente fez... Só talvez eu não estivesse tão fodido e com uma dor na coluna gritante. A idade realmente pesa e eu tô cansado.

Não existe nada que eu queira mais do que fazer uma ligação e dizer que não estou bem, que vou precisar ficar em casa, porque surgiu uma emergência, ou qualquer outra desculpa, mas eu não posso.

Então, eu me levanto, quase como se carregasse o Everest nas costas e vou em direção ao banheiro. A água está gelada, o que é bom, já que o dia mal amanheceu e está quente. É absurdo que em Los Angeles faça calor até no inverno, o que me afasta um pouco das ruas, mas, ao mesmo tempo é bom poder ir à praia o ano inteiro, diferente de New Jersey, onde as pessoas pagam por um passeio.

A realidade é que a vida em NJ ficou para trás há muito tempo, eu mal penso sobre a neve suja do Natal, as fantasias improvisadas no Halloween, as brincadeiras de infância, os trajetos de Hoboken até o Brooklyn, as ruas abarrotadas de gente, a rotina maçante. No final das contas, foi um bom negócio ter saído de lá e eu não voltaria por nada.

Deixo a água da ducha escorrer pelo meu corpo, mas ainda estou acordando, o que torna toda a ação incômoda. Toda a rotina matinal é feita da maneira mais desleixada possível e eu visto uma camisa quadriculada qualquer e um par de tênis, o mais confortável que tenho.

Essa também é uma vantagem de morar na Califórnia, as pessoas se vestem como querem – pelo menos na maioria das vezes.

- Acorda. Eu estou te deixando na sua mãe hoje. – Digo batendo na porta do quarto de Bandit e ouço um grunhido como resposta. Ela também não gosta de ser acordada, mas se quer a carona vai ter que vir comigo.

Abro a porta e cruzo os braços, apenas para observar minha garotinha ainda embolada nos cobertores e com a cara amassada.

- Eu não vou – ela murmura, se escondendo debaixo do travesseiro.

- Tudo bem, você pode ficar e lavar a louça de ontem – digo virando as costas, mas em seguida, o barulho dela se colocando de pé atinge meus ouvidos.

- Quer saber? Acho que eu vou me arrumar. – Ela boceja e eu saio do cômodo, indo em direção à cozinha. Sempre funciona.

Enquanto preparo o café da manhã também checo as mensagens e vejo que Evan decidiu desmarcar a saída da noite, o que me deixa mais feliz do que eu gosto de admitir.

Depois da reunião entediante, vou ter o resto do dia e a noite completamente sozinho, exatamente como eu amo estar.

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Como prometido, não é que veio aí? Já estou escrevendo essa bagaça há um tempão, por isso já estava na hora. Então é isso, espero que alguém goste dessa sequência, como algumas pessoas gostaram da primeira parte da história. Se por algum motivo você chegou aqui e ainda não leu a parte 1, é esta aqui: https://www.wattpad.com/story/334181832-poison

Há braços!  ❣︎

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