O discurso dos sábios 2°

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Astarco foi para um templo e começou a rezar nele. A estátua da deusa Pallas Athenas, o incenso e o cheiro das velas iluminavam e davam ao ambiente uma sensação de paz. Ao sair, um homem abordou o velho:

- Senhor, eu reconheço você. Você é Astarco de Roma, o sábio. O velho olhou e retrucou:

- Sim, eu sou Astarco, e nasci em Roma, mas não posso me chamar de "o sábio", pois isso seria uma mentira. Ele continuou descendo as escadarias, e o homem o acompanhou, dizendo para o velho:

- Eu tenho uma pergunta. Se você responder, então é sábio. O velho retrucou dizendo:

- Por que eu tenho que provar para você quem eu sou? Ele parou em sua frente e continuou: - Sou quem sou, não posso provar para outro homem algo óbvio. Apenas eu sou prova suficiente. Apenas os falsos são permissíveis a viver suas vidas provando suas afirmações. O homem então disse:

- Me responda, se não quiser tudo bem, Deus existe? Astarco olhou para a pergunta com desgosto e respondeu:

- Que pergunta mais tola, senhor. Eu acabei de sair de um templo, vou responder. Claro que Deus existe. Seria como dizer que tudo que foi criado, toda a lógica pensante do universo, as estrelas e as relações do cosmos, tudo isso veio de onde? Astarco estava tão irritado pela pergunta que ele disse:

- Senhor, tal pergunta não é feita nem por uma criança. Como filósofo, eu digo a você: o todo é mental. Então, tudo o que pisamos já foi pensado antes. Deus, em sua infinidade, vive no campo das ideias. Ele é real e palpável. Deus é a necessidade do homem, e o homem é sua criação. Um ser que não reconhece Deus no macro ou no micro só pode estar louco. O jovem então perguntou novamente:

- Ah, mas então Deus é uma criação do homem, pois se ele vive no campo das ideias, então ele não existe. Astarco ficou enfurecido e respirou para dominar seus sentimentos. Então ele disse:

- Claro que Deus vive no campo das ideias. Como poderia viver em outro lugar? Nós pensamos nele. Como poderíamos pensar em Deus e ele existir em outra esfera? O homem não respondeu, mas Astarco continuou:

- Deus, como eu disse, é uma necessidade do homem. Através de Deus, podemos evocar virtudes e valores. O sábio reconhece Deus e busca seguir pensamentos sublimes. Ele não se interessa por questionamentos ilógicos, pois tudo foi criado por uma mente criadora, e tal mente sempre existiu, já que ela nasceu do caos universal quando o princípio do mundo gerou a ordem natural. Então, a existência de Deus como a força que controla a solidez do universo é uma verdade absoluta. No entanto, essa verdade só pode ser sustentada por virtudes e valores superiores. Se o sábio olhasse fora de seu ego, não veria o rosto de Deus. Por isso, o sábio interioriza, pois Deus habita o interior. Toda vez que o sábio usa as virtudes e valores, ele está manifestando Deus. A divindade existe sempre onde a sabedoria e os pensamentos evoluídos existem. Portanto, é bobagem questionar se Deus existe. Também é uma ilusão pensar se Deus é criação do homem, já que ele existe antes do homem. A confusão está nas religiões, pois elas são regras que tentam definir Deus. Eu digo a você, com toda a verdade e tranquilidade, todas estão certas, pois as religiões são interpretações do homem sobre Deus. E assim, o poder da religião é a integração do homem. O sábio reconhece através da religião as intenções reais. Se a religião une o homem na direção da fraternidade universal, então o sábio se apega. Se a religião vai contra isso, ele simplesmente agradece e busca a paz. O homem então agradeceu e perguntou:

- Mas como o sábio pode acreditar em Deus e buscar a verdade? Astarco respondeu:

- Através da razão. A fé por si só não ajuda, mas quando ela é embasada em virtudes e valores, então ela é a manifestação mais pura da divindade. O sábio tem fé em pensamentos sublimes. Ele usa esses pensamentos e faz a teofagia, ou seja, ele consome os valores de Deus e passa a ser parte da fé. Imagine um homem correto, justo, equilibrado, paciente, benevolente, misericordioso e compreensivo. Este homem estaria distante de Deus ou próximo dele? O homem respondeu a Astarco:

- Eu sou Faustino, sou sacerdote do templo de Pallas Athenas, e nunca vi um filósofo defender a religião com propriedade. De fato, não tenho a resposta para sua pergunta, mas sei que este homem seria muito benéfico para a humanidade. Astarco colocou a mão no ombro de Faustino e disse:

- Um sábio sem Deus é apenas metade de um homem. Para o homem ser completo, ele precisa se conectar com o universo. Se ele seguir os valores e as virtudes, se ele evocar bons pensamentos e conseguir perceber a divindade viva dentro de suas ideias positivadoras, então ele será um ponto de luz no mundo. Como filósofo, eu conheço essa regra. E ainda digo, tudo o que está acima está abaixo. Assim é na natureza das coisas e dos seres. Tudo se corresponde. O que seria mais correspondente ao homem se não Deus? O que está abaixo do homem é o animal. Portanto, minha lógica está embasada na maneira como a natureza e a mente universal se comportam. Digo ainda, se Deus não existe, por que tantas pessoas acreditam nisso? Faustino ficou intimidado com tais palavras e com sua lógica. Então, Astarco concluiu:

- É necessário que o homem desperte sua lógica no campo do macro e do micro, e avalie se está agindo como um ser humano ou não. É necessário que o homem incorpore os valores e as virtudes, e desperte sua porção divina. Se toda a sociedade se elevar, eu pergunto: seríamos felizes? Se o homem tivesse todos os valores, virtudes e pensamentos elevados, fossem fraternos e acolhedores com as diferenças de seus semelhantes, estaríamos no inferno ou no paraíso?

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