Sua estrela ☆

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07 de novembro de 2023 - 04:23

  É o celular tocando que me desperta no susto e sem mesmo abrir os olhos atendo a ligação. É a voz em completo desespero que me deixa alerto, não se entende o que a mulher se diz entre o choro e o som de sirenes ao fundo me deixam ainda mais preocupado. Olhando o visor o nome "Tia Ivete" é o que me faz sair do estupor.
— Tia? O que houve?
— Meu filho, a Maria... — os soluços do choro a impedem de completar a frase, mas é ali que meu coração para.

  Eu havia conversado com Maria menos de 3 horas atrás e ela estava bem, falando sem parar do último episódio de Doctor Who que tinha visto, disse que já ia dormir, nada fora do normal.

— Tia, respira. Isso, muito bem. Agora me fala o que aconteceu com a Maria.
Ivete agora mais calma consegue falar agora.
— Eu não sei direito o que foi, eu tava no meu quarto lendo e ouvi um barulho do quarto dela. Eu fui ver o que houve mas a porta 'tava trancada e ela não me respondia, eu tive que chamar o vizinho pra me ajudar a abrir a porta, e ela tava lá no chão desmaiada, mal respirava.
A tia tinha voltado a soluçar e eu não sabia o que fazer, estava catatonico. A Maria, o amor da minha vida, a menina que eu disse que me casaria quando nos conhecemos e que era a pessoa mais gentil que eu já conhecera estava nesse exato momento inconsciente a caminho do hospital.
— Pra onde... pra onde vocês estão indo tia?
— Pro pronto socorro.

  Não esperei ela terminar de falar, desliguei a ligação já pegando o tênis e correndo pra fora de casa. Acho que nunca dirigi tão rápido na minha vida, dei graças a Deus por essa hora da madrugada não haver ninguém na rua. Chegando no hospital tia Ivete estava falando com o médico e cheguei a tempo de ouvir as palavras que eu mais temia — sinto muito, mas ela não aguentou — e eu chorei, chorei como nunca tinha chorando em todos os meus vinte e cinco anos de vida, me agarrei a tia e choramos juntos pelo amor de nossas vidas.

  Não sei por quanto tempo choramos nem o que aconteceu nas próximas horas, flashes de todo o processo do enterro ficaram gravados na minha memória mas fora isso nada. Os próximos dias também foram horríveis, isolado em casa só conseguia pensar no que levou ela a isso, e eu não conseguia parar de pensar e me culpar. Como eu não havia percebido que tinha algo errado com ela? Será que eu tinha contribuido para essa decisão dela? Por que ela não disse nada? Era tantas perguntas que me deixava acordado a noite pensando sem parar.

  Uma semana depois tia Ivete pediu ajuda para embalar as coisas dela, não havia porque guardar coisas que só traria mais tristeza. E no processo de embalar as coisas foi que achei uma carta endereçada a mim, e foi com ela que eu entendi, eu tinha que deixa-la ir.

Para João e Mamãe.
  Antes de tudo quero que saiba que o que fiz foi completamente minha decisão, não teve culpa de ninguém, somente minha.
  Eu precisava ir, o problema não é que eu me sinta mal, o real problema é que eu não sinto nada, completamente nada. Todos os momentos que tive com você e mamãe foram os mais alegres da minha vida mas mesmo enquanto eu sorria, ria e brincava com vocês eu sinto um vazio dentro de mim, um vazio tão gelado que me queima por dentro, e mesmo esses momentos felizes não conseguem me aquecer.
  Eu sei que vocês me amam, e eu amo vocês também, e é por isso que eu peço desculpas por não conseguir conviver com esse frio. Me desculpe por não conseguir me amar do jeito que vocês me amam.

– com amor, sua estrela.

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⏰ Última atualização: Jan 19 ⏰

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