V-Pronto momento

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Os dias foram se passando e Lienevra tentou se familiarizar com o local, estabelecendo uma rotina que se resumia a acordar, banhar-se, tomar café com seu marido, descobriu que muitas vezes ele pulava refeições ou diria que comeria no caminho - não sabia quanto disso era verdade, ou se ele apenas não queria mantê-la por perto.

Passando um tempo, ela voltava a mesa e lia o jornal, gostava de se manter atualizada sobre os novos acontecimentos na capital - ainda que estes ultimamente assumissem um tom mórbido, haviam começado investigações sobre os desaparecimentos, a imensa maioria eram homens aristocratas.

As vezes havia algo sobre a situação de Nisalia, seu marido era bem conhecido e a alta classe adorava uma boa fofoca de falencia, as novas notícias diziam que estavam investindo no ramo de tecidos.

Sobre seu casamento, era estranho dizer, mas as vezes sentia como se nem fossem casados, sabia que uniões não deveriam sem comparadas e que cada uma tinha sua benção - ao menos foi o que o padre disse no seu, tudo foi tão rápido que mal se lembrava do restante do discurso - estava ocupada demais tentando fingir calmaria enquanto sentia o olhar incessante de seu pai.

Se arruinasse a oportunidade, não haveria Sarter que a salvasse da ira dele.

Em relação a mansão, seu hobbie favorito havia se tornado explorar, há alguns dias reuniu alguns funcionários para plantarem mudas frutíferas consigo, regularmente verificava se estavam crescendo saudáveis e se precisavam de algo. Gostava de sentir que estava fazendo alguma utilidade, mesmo que fosse bobo.

Tudo era fácil no local, do tipo que causava estranheza, ela não imaginava que sua rotina se tornaria procurar coisas para fazer. Todas as suas lembranças na casa Sallate se resumiam a sua mãe correndo de um lado para o outro, para resolver problemas, especialmente relacionado a casamentos de suas filhas e organizar festas dos chás. Quando era mais nova, costumava a acreditar que sua vida seria de tal maneira também.

Talvez teria sido, se as coisas não tivesse tomado aquele rumo.

Ultimamente sentia que os únicos momentos tensos em seu dia envolviam ficar a sós com o marido - sempre tentava algo que se assemelhasse a um diálogo, mas uma única resposta dele já a deixava desconfortável o bastante para se calar - ele não era rude, mas algo em sua indiferença a afetava.

Fazia com que se sentisse um empecilho. Era ruim que mal a olhasse, mas se perguntava se não era melhor do que ter os olhos frios sobre si.

Também havia um problema secundário, notava a maneira como algumas empregadas falavam baixo e paravam imediatamente quando ela as encarava, sabia que falavam de si - já estava familiarizada demais com aqueles olhares para não reconhecê-los onde quer que estivesse.

Se sua mãe soubesse, possivelmente gritaria sobre como ela era estúpida o bastante para não adverti-las ou questioná-las - nunca havia feito esse tipo de coisa e sequer saberia impor uma postura firme - era difícil não sentir-se uma hóspede que tinha liberdade para fazer o que quisesse, desde que não incomodasse o anfitrião.

Ao menos gostava da biblioteca, tinha tantos livros que havia a sensação de que não conseguiria ler todos nem se passasse o resto da vida no local. Durante sua busca por algo que chamasse sua atenção, encontrou um sobre casamento, algumas dicas chamaram a sua atenção.

Uma esposa deve estar sempre atenta e pronta para acalmar seu marido.

Dentre as inúmeras opções sugeridas, selecionou apenas algumas, que eram possíveis diante da sua situação atual. Mesmo estas, pareciam difíceis.

Tocar algum instrumento, preferencialmente harpa. Ainda que tivesse tal habilidade, parecia constrangedor chegar de repente e chama-lo, ele simplesmente iria dizer que estava ocupado.

Cantar alguma melodia que o agradasse. Não tinha uma voz particularmente afinada e sequer sabia se ele gostava de musica.

Encontrar algum presente agradavel. Passou a pena por cima desta sugestão, borrando com um pouco de tinta. Está era possível e sem dúvidas a mais simples. Decidiu ler o resto da linha e notou que deveria ser algo compatível com os gostos dele.

Mas que gostos eram estes? Não sabia nada sobre o homem. Se encontrasse algo ruim, poderia surtir o efeito oposto.

Mordeu a bochecha, fechando o livro e tentando pensar em algo, no processo seus dedos foram por instinto até a boca, parando ao notar as bandagens que haviam sido colocadas por uma empregada, eram substituídas por limpas todos os dias de manhã, as vezes se pegava mordendo o tecido.

Tentou conseguir alguma informação com alguns empregados, mas a maioria não sabia muito, mesmo os mais próximos mantinham respostas curtas.

-O senhor tem muitos cavalos, senhora.-Viviur um dos jardineiros, comentou gentilmente, enquanto replantava uma rosa. A meta era que o jardim ficasse totalmente pronto o mais breve possível, para a primavera.

Ela pensou por algum tempo, digerindo a resposta. Na casa Sallate costumavam a ter alguns, mas sua mãe nunca deixou, dizia que deveria se preparar para ser uma boa esposa e que este tipo de ação era restringida e desnecessária.

-Ele anda com eles frequentemente?- perguntou e o homem pareceu pensativo, movendo o bigode e em seguida negando com a cabeça.

Ela suspirou, aquilo não ajudava muito, mas ao menos sabia algo sobre ele. Talvez um assunto novo para falar de manhã.Foi até a área dos estábulos, não havia visitado antes devido ao afastamento da mansão, mas era um lugar enorme.

Notou que havia dois homens tratando dos animais no momento, um parecia fazer a limpeza enquanto o outro os alimentava.

Observou os cavalos nas baías, a olhando com curiosidade, haviam de diversas raças e pareciam todos muito saudáveis e fortes.

Parou no último, este era o que tinha o físico mais muscular, também era o mais alto, de tom inteiramente cinzento, a pelagem brilhava como prata, diferente dos outros, estava perfeitamente parado.

Se aproximou para tocá-lo e notou como ele começou a bater os pés no chão, rapidamente escutou um som no ambiente.

- Senhora, cuidado ! - com a mão ainda no ar, encarou um dos homens que rapidamente se aproximou, o outro sequer a encarou - Este é muito arisco - o loiro a explicou, ela encarou o animal, que tinha as orelhas ligeiramente para trás.

- Eu...não sabia - sussurrou o óbvio, de repente se sentindo estúpida, mas o homem apenas sorriu gentil.

- Se deseja andar com algum, Izde é... dócil, sim. - ele comentou, indo até as outras baías, ela o seguiu, vendo os cavalos moverem a cabeça. Pode jurar escutar um som de estalo de língua vindo do outro.

Notou um cavalo de tom marrom e pintas brancas, sua crina era um loiro quase branco. Suspirou, vendo como o animal movia a cabeça acariciando a cabeça do animal, que se abaixou.

- Charla também é muito mansa, mas esta prenha - ele disse, movendo o chapéu e apontando para a egua preta, que também movia a cabeça, parecendo querer carinho. - O potro nasce no próximo mês - ele explicou e ela suspirou, nunca havia conseguido chegar perto o suficiente de algum animal, em sua casa era proibido qualquer tipo porque sua mãe detestava pelos.

- Quer que o preparemos? - ele perguntou e ela suspirou.

- E-eu...eu não sei andar - Admitiu, era estranho que fosse perguntado isso. Mas sabia que sua família, por ser muito tradicional, era mais rígida neste quesito do que a maioria, se lembrava de ter visto algumas vezes as filhas do senhor Konsel cavalgando nos campos, quando mais jovem.

- Eu posso segurá-lo, se desejar - ele sugeriu, ela umideceu os lábios, provavelmente havia sido mais obvia do que imaginava.

Subir foi difícil, mesmo com o auxílio do funcionário, era complicado passar a perna para se apoiar com o vestido.

Quando conseguiu, ajeitou sua postura, engoliu o seco, ansiosa. Ele abriu a fechadura e o cavalo deu alguns passos, balançava bastante, mas ela gostava da sensação.

Quando os dois saíram do estábulo, deu acesso ao enorme campo, o homem guiou o animal, puxando uma corda.

-Desculpe, não sei seu nome - ela finalmente notou, ele sorriu curto, parecendo não esperar por isso.

- Sou Chest, senhora. Chest Horphin.

-Obrigada pela ajuda, senhor Horphin.

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