Capítulo 1-útima solução

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Todas as flores da minha casa estão mortas.

Certa vez, li em um livro que o amor é eterno. Mas agora, deitada sobre a terra recém mexida de uma cova rasa, me pergunto para onde ele vai quando uma das pontas dessa ligação não pode mais segurar a corda, talvez a pergunta certa seja, o que devo fazer com esse amor. parece ser tanto, e tão forte que machuca, e nesse momento, não tenho mais a pessoa que costumava
dividir esse dor. Sei que coisas demais
vão mudar quando me levantar daqui.
Então apenas permaneço deitada o
máximo que consigo. o dia parece
normal, como se o resto do mundo não
se importasse com o meu luto, e na
verdade, acho que não se importa, o
mundo tem pressa demais com tudo
para se deixar parar pela morte.
Já está de manhã novamente, devo estar aqui a quase dois dias. Quando me levanto sinto as pernas fraquejarem um pouco, mas a medida que caminho elas parecem se acostumar novamente com o movimento. Virando-me uma última vez para ver seu túmulo simples, no lugar que mais gostava, noto que as flores,
outrora frescas agora como de um modo rápido demais para serem considerados natural murcham e morrem. E eu corro o mais rápido que consigo. Corro como se minha vida dependesse disso. Porquê depende.

                                 ♠︎

O pequeno vilarejo de molida, também não mudou nada em comparação aos outros dias. Estou com a respiração pesada e corro atrás de Agnes e Peeta. Quando finalmente os encontro, estão dando comida aos porcos. pela cara que me fazem quando me veem, não devo estar tão apresentável, mas não me importo.

-Nona morreu ontem.

Solto tão rápido que quase não entendem o que falo, não me permito pensar muito sobre o que acabei de falar, pois a próxima coisa que falo também merece atenção.

-Ele está chegando, eu tinha me esquecido completamente disso, e agora, bem, agora estou pirando. Devo ter mais dois, três dias no máximo.

Agnes apenas me abraça, enquanto Peeta me olha sério, como se estivesse pensando em todas as opções possíveis.

-Ela nunca disse o que deveria fazer, quando ela morresse e a proteção fosse quebrada ?

Peeta está tão sério que quase consigo notar o desespero em seu rosto quando ele volta a esconder sob a camada de seriedade. Enquanto passa a mão repetidamente pelos cabelos castanhos claro.

-É claro que explicou.

Eu deveria terminar a frase com 'E acho que não consigo comprir a minha parte do plano' mas também não consigo falar isso em voz alta. mais uma das coisas que não consigo fazer. Mas tinha que ser racional.

-Callia? Agnes pergunta com os olhos já lacrimejando, - Então, o que você tem que fazer? Sabe que não precisa fazer isso né, que pode morar conosco aqui. Ou podemos te ajudar a fugir ou se esconder dele.

E assim que penso em falar sinto a primeira lágrima descer, e então outra e outras mais.

-Não há outro jeito. Pelo menos posso escolher entre me jogar em uma tumba amaldiçoada ou invocar a minha morte, qualquer coisa fora isso não me pararia quando o pacto começasse.

Tento falar em tom de piada, mas nada no momento deixaria o clima leve. Peeta apenas balança a cabeça em negação. Enquanto Agnes se mantém em uma expressão que não sei decifrar.

-olha essa não pode ser a única opção, Callia, se matar não é a única opção. não pode ser.

Peeta fala, mas a cada segundo que permaneço aqui estou colocando eles mais em perigo .Nesse momento Agnes me abraça novamente e em tom de compreensão fala.

-Amo você amiga. Amo você como irmã, e sabe disso e por isso entendo o fato que está determinada a isso. Que está determinada a honrar o pacto que sua avó fez para salvar você e se usar como escudo para proteger você. Você é a pessoa mais forte e incrível que eu ja conheci.

nesse momento, estou tão chocada quanto Peeta pelo fato dela estar tão compreensiva com isso. E esse era tudo o que eu prescisava. me lembrar de um dos motivos pelos quais isso era tão importante. Antes que o medo me derrube novamente, apenas os abraço e saio o mais rápido que posso.

                                ♠︎

Minha casa está muito silenciosa e escura quando chego. É preciso começar a acender velas pela casa toda para finalmente encontrar o pequeno caderno que minha nona escreveu para
quando esse momento chegasse. Havia apenas instruções e lembretes. Me explicando as únicas opções de mortes que funcionam e porque aquilo era tão importante. Menções ao porquê e como aquilo acabaria com o mundo simples que conhecemos, e como EU faria isso. Tudo por alguma cláusula de um pacto ridículo que fiz quando criança e não me lembrava, e pior, ninguém me contava.

Sinto-me esquisita ao pensar e lembrar do pacto. Parecia tão certo naquele momento. E sentir isso me corroía por dentro, e eu me sentia ainda pior sabendo que mesmo agora, aquela sensação de que era a coisa certa a se fazer não havia passado. Mesmo sabendo o quão perverso aquele pacto era, e todo o mal que ele representava.

Quando, de um pensamento impulsivo decido a maneira que vou morrer e me levanto para começar os preparativo.
Iria morrer em uma cova rasa amaldiçoada do lado de minha nona, seria o certo a se fazer .
Todas as velas da casa começam a brilhar mais intensamente e as flores tanto minha como as cultivadas por nona morrem. Sinto imediatamente o cheiro reconfortante e perigoso de flores recém colhidas e cinzas.

-Olá, minha gal.

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