CAPÍTULO ÚNICO

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Coloque seus sentimentos no papel. Diga a ele o que guarda e o mesmo não te dará uma resposta, mas, muito provavelmente, o alívio necessário para seguir. Coloque o amor em palavras - pois não é preciso muito mais para amar -, a tristeza em sentenças curtas - apenas o suficiente para deixá-la lá -, e os sonhos em parágrafos inteiros se assim necessário - pois nada é grande demais quando se trata dos desejos de um coração. Coloque a si mesmo ali, em um universo diferente no qual você pode ser e fazer o que quiser, onde o mundo é seu se assim desejar, onde as coisas começam e terminam, às vezes sem inícios ou fins muito concretos, mas acima de tudo, onde há mais espaço para tentar.

19 de Dezembro

"- Eu posso viver vidas inteiras, nesta realidade ou em universos paralelos, e eu ainda vou amar você, Ramiro. - sussurrou ao ter certeza de que o outro estava dormindo...".

- Você deveria contar para ele. - é o que Berenice diz de repente, tirando Kelvin de seus devaneios e fazendo-o parar de escrever no verso de sua agenda.

Ele não está surpreso pelo assunto surgir pela segunda vez naquela semana, sabe que a garota pode ser muito insistente quando coloca alguma coisa na cabeça, e esta é definitivamente a situação. Para ela, parece óbvia a ação necessária para tudo se resolver, e aparentemente, a mesma acredita ser algo simples apesar de, na verdade, não ser.

- E você deveria dar uma chance para o Enzo, mas percebo que temos um acordo silencioso de não nos permitir agir, e é por causa disso que acabaremos casados daqui alguns anos, ao que tudo indica. - Kelvin zomba, fingindo não dar muita atenção para aquilo.

- Não me venha com essa, são situações completamente diferentes, eu não gosto do Enzo. - diz enfaticamente.

- Claro, Berezinha, e eu tenho certeza que se convence disso todas as manhãs quando olha para o seu reflexo no espelho.

- Não seja assim! - ela choraminga, cutucando-o com a caneta e fazendo-o quase saltar de sua cadeira, o que chama um pouco a atenção de alunos ao redor e os obriga a pedir desculpas pelo inconveniente.

- Assim como? - finalmente devolve ao se recompor, precisando ter a certeza de que ninguém decidirá ficar ouvindo o que dizem.

- Tão... Ugh! Irritante. São em momentos como esse que eu percebo que você pode ser pior que a Luana quando quer.

- Que eu sou capaz de ser realista, foi o que você quis dizer? E eu posso parar já que deveríamos prestar atenção na aula de qualquer forma. - responde, apontando para o professor que se encontra prestes a finalizar o conteúdo do dia em questão.

- Foi você quem começou, rabiscando essas palavras bonitas por aí. - Berê devolve, indicando o trecho escrito sem muito cuidado e que incluí, como a maioria das coisas as quais Kelvin Santana costuma escrever, o nome de Ramiro em uma sentença qualquer. - Eu entendia quando você evitava isso por ele estava comprometido, e agradeço de verdade porque seria terrível te odiar por tentar acabar com o relacionamento de alguém e ia ser difícil te defender, mas são águas passadas, a Flor não poderia estar melhor do que está agora e você não poderia estar mais apaixonado. Deve ser algum sinal divino de que as coisas precisam acontecer dessa forma.

- É mais complicado do que parece, não se trata só de ter um "caminho livre" ou coisa do tipo. Ramiro é quase como... Meu melhor amigo. Não sei se estou disposto a correr o risco de ter um "nada" quando eu poderia claramente me contentar com essa amizade. Com o pouco dele que ainda posso ter comigo.

- Talvez essa desculpa possa até fazer sentido dentro da sua cabeça, mas o que suas personagens diriam sobre?

- Elas diriam para eu me arriscar, e é apenas por serem parte de uma representação de um alguém que eu nunca vou ser. Não acho que sejam conselhos com algum valor para mim.

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