Piloto

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Marie recém completara 13 anos e se mudou para a Califórnia a contragosto. Sentiu-se desolada ao abandonar seus amigos, sua escola, sua família e sua vida no Brasil. No entanto, estava animada, pois iria se matricular em sua escola dos sonhos, a Caltech, em apenas alguns anos.

Desde jovem, ela sonhava em estudar nessa faculdade, pois sempre soube que se tornaria uma cientista. Infelizmente, no Brasil, não há muitas oportunidades como nos Estados Unidos. Quando recebeu a notícia de que seu pai conseguiu um excelente emprego como engenheiro na Caltech, ficou animada, embora chateada por deixar tudo para trás.

A mudança foi difícil para Marie. Apesar de ser fluente em inglês desde os 8 anos, ainda enfrentava muitas barreiras linguísticas. Somente após 6 anos conseguiu começar a frequentar a faculdade onde seu pai trabalhava, mas não em tempo integral; apenas algumas aulas extras e acesso livre durante a semana.

Um dia, durante o intervalo de sua aula, decidiu ir à cafeteria para comer algo ou apenas descansar. Ao chegar lá, deparou-se com o local cheio. Havia apenas uma mesa com uma cadeira disponível para ela, mas já havia alguém sentado à frente da tal cadeira. Sheldon.

– Olá, tudo bem? – Marie disse com um sorriso e um tom de simpatia, que ao encontrar o rosto de Sheldon, revelava uma diferença estrondosa.

– Tudo. – Sheldon não se deu ao trabalho de olhar para o rosto da garota.

Ela entendeu o porquê do único lugar vazio ser aquele, mas isso não a fez desistir dele, algo que muitos já teriam feito; ao contrário, a desafiou. Agora, o objetivo dela era conseguir fazer aquele garoto sentado à sua frente, sorrir.

– Vou me sentar com você. Espero que não se importe. – Já puxando sua cadeira, Marie disse, sem dar tempo para que ele respondesse.

– Desde que não me incomode, não vejo problema. – Sheldon falou e, logo depois, deu uma mordida em sua torrada, sem tirar os olhos do livro.

Marie tinha um bom humor, então não encarou a resposta como algo negativo. Pensou que ele não queria ser maldoso, estava apenas sendo sincero.

Marie se sentou na frente do rapaz, ficou analisando-o enquanto comia seu lanche. Ela era excepcionalmente boa em ler linguagem corporal. Ele usava uma camiseta comprida vermelha por baixo de uma camiseta azul com um robô nela. Marie achou um estilo bem diferenciado, parecia que ele queria se sentir relaxado e confortável. Ele estava com um rosto impassível, não expressando nenhum sentimento. Marie sentiu-se desafiada mais uma vez.

Marie viu que o jovem estava lendo uma HQ do Homem-Aranha. Finalmente, ela tinha algo para conversar com ele.

– Não pude deixar de notar sua HQ. Eu adoro o universo da Marvel... Você é time Marvel ou DC? – Marie finalmente lançou as palavras que tanto queria, esperando que o rapaz fosse razoável.

– Não existe essa de "time Marvel, time DC", os dois são bons igualmente. Porém, entre eles, eu prefiro as histórias da DC. – ele permaneceu com os olhos focados no livro.

Marie pensou bem na resposta que daria, até porque parecia que ela estava batendo contra a parede.

– Então... Qual seu herói favorito? – Marie apoiou a cabeça em suas mãos, relaxou na cadeira e encarou os olhos azuis do garoto. Ele mexeu com ela num nível inexplicável, sentia que não poderia perdê-lo.

– Moça, por favor, eu disse que não me importaria com você aqui, se não me incomodasse. Mas você está me incomodando, então agora me importo com você aqui. – finalmente, ele parou de olhar o livro e olhou para ela, evitando contato visual.

Ela o encarou e se ajeitou, agora seu rosto era apoiado por suas duas mãos, cotovelos na mesa e postura para frente. Pensou bem antes de falar.

– Infelizmente não tenho para onde ir, estou tão desconfortável quanto você, mas, em vez de me isolar, eu tendo a conversar com a pessoa mais próxima de mim. – Marie se recostou na cadeira novamente. – O meu herói favorito é o Homem-Aranha. – ela encerrou a frase e continuou a encarar o rosto do garoto, à procura de alguma reação. E encontrou, ela conseguiu ver que ele se sentiu desafiado, assim como ela se sentia com ele.

A história é outra (tbbt au)Onde histórias criam vida. Descubra agora