Não leia.
ᬊ▀▄▀▄▀▄▀▄▀▄▀▄▀▄▀▄▀▄▀༆
Não deveria ir à biblioteca, meu pai sempre alertou-me sobre os riscos de adentrar aquela imensa e antiga biblioteca. Jamais imaginara que tal lugar pudesse ter o poder de destruir a vida de alguém, sinto que fora amaldiçoada no momento em que meus pés percorreram aquele lugar. Não é como se estivesse a enxergar fantasmas percorrendo meu quarto, mas se estivesse tenho a consciência de que estaria em uma situação menos delicada.
Oh, como arrependo-me de ter cedido a minha inconsolável diligência...poderia estar a viver normalmente mas aqui estou, aqui encontro-me a questionar o mundo, oh céus, gostaria tanto de ser apenas mais uma ignorante...
Digo-lhes que a culpa não és inteiramente minha, culpada és minha incontável curiosidade. Sempre fora uma garotinha curiosa, meu pai sempre dizia-me que tal nível de curiosidade me prejudicaria, concordo em partes minuciosas pois devido a minha incansável busca pelo conhecimento aprendi a ler e escrever apenas com a avultosa ajuda de meu irmão; claro, sempre fora muito advertida por tal comportamento considerado inadequado, Mamãe diz que damas como eu não foram criadas para questionar, fomos criadas para procriar e cuidar do lar.
Agora vamos ao acontecimento que marcou minha trajetória neste mundo apócrifo. Eu, Adayla - mulher vinda de uma nobre, ilustre, influente e solene família - deparei-me com o casarão desprovido de pessoas devido a uma importante reunião com os burgueses da vila vizinha, não pude conter-me em explorar cada canto de minha esplêndida residência, tudo estava devidamente arrumado e não havia nada para fazer se não observar o jardim. Não queria despender tempo observando a mesma vista de sempre então fui um pouco mais além, movi-me em direção as escadas que me levaria ao andar subterrâneo e desci degrau por degrau, segurando a barra de meu luxuoso vestido sem hesitar. Abri a porta que bloqueava o caminho a minha frente e deparei-me com uma visão inesquecível.
Ao abrir a porta pude ver inúmeros livros organizados em uma espécie de prateleira grandiosa, havia uma enorme escada que permitia o acesso a todos os andares, hesitei por alguns míseros segundos até que enfim adquiri coragem para prosseguir, estava tão hipnotizada devido a beleza daquele local que quase não notei Tulipa - minha gatinha laranja - ao meu lado. Após adentrar permiti-me ler o máximo de livros informativos que pude, conforme lia sentia minha mente ser lapidada devido a quantidade imensurável de sabedoria contida naquelas palavras. Tulipa se manteve presente por todas as horas que permaneci ali, mas isso não seria um problema, era um segredo meu e de Tulipa.
Engano meu pensar que seria segredo meu e de Tulipa, em míseros minutos já sentia o efeito colateral que a leitura dos livros proibidos proporcionaram em mim, já não estava disposta a abaixar a cabeça e aceitar tudo que diriam a mim, já não estava disposta a aceitar ser um objeto de prazer e reprodução. Entendi que nada realmente me proibia de me impor e é por isso que estou a terminar assim.
Devia ter fugido de meus desejos mas não consegui. Todas as ações tem consequências e não foi diferente comigo. Semanas após minha pequena desobediência fui acusada de estar contra a igreja, me tornei uma mulher considerada sábia demais para minha época, fui transformada em uma bruxa, me tornei a primeira bruxa de minha vila.
Estou agora sendo procurada pelo Tribunal de Inquisição, estou fugindo do destino cruel que me aguarda. Estou em uma caverna escura, tenho pouco alimento e estou escrevendo com o auxílio da luz da única vela que trouxe comigo. Sei que se me pegarem será o meu fim, não sei como morrerei mas sei que irei ter meus dias reduzidos.
Escrevi essa "carta" para todas as futuras Adaylas, para todas as mulheres sábias que não se prostram diante de qualquer pessoa, para todas as mulheres intensas, para todas as futuras bruxas do mundo.
Se um dia chegarem a ler essa carta é sinal de que parti, Tulipa vai guardar minhas últimas palavras em sua coleira. Caso chegou até aqui é sinal de que és deveras curiosa.
Sinto em dizer-lhe mas acabara de ler uma carta proibida, cuide-se.
- Adayla.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝙰 𝙿𝚛𝚒𝚖𝚎𝚒𝚛𝚊 𝙱𝚛𝚞𝚡𝚊
Historical FictionEm um século opressivo, Adayla - uma mulher rica e astuta - jamais imaginara que tal lugar tivesse o poder de destruir a vida de alguém. ᬊ𝐄𝐬𝐜𝐫𝐢𝐭𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐮𝐦 "𝐞𝐯𝐞𝐧𝐭𝐨" 𝐝𝐚 𝐈𝐃𝐑𝐎.