Quando acordei, ainda meio sonolenta, abri os olhos com dificuldade, olhei para o teto e não reconheci o lugar onde eu estava. Era bonito, haviam quadros nas paredes, tecidos sobre a cama extremamente confortável e bem grande inclusive. Passei a mão ao lado e senti o lençol de algodão de primeira qualidade.
Onde estou?
- Oh, você acordou! Achei que ficaria dormindo por mais tempo. Como se sente? - uma voz me pergunta. Príncipe Philipe.
- Porque estou aqui? - pergunto, diretamente.
- Você queimou de febre a noite toda por causa do machucado e principalmente por causa do frio. Trouxe você para um dos quartos do Palácio.
- Porque? Segundo você - percebo sua testa franzir e me dou conta do que eu disse. - Digo, segundo vossa alteza, sou uma prisioneira e estou aqui cumprindo pena. Deveria ter me deixado lá.
- Um obrigado já bastava, senhorita. Mas isso é insignificante no momento. Nenhum prisioneiro deste palácio tem esses privilégios. - fixo meus olhos aos seus.
- Já que não sou uma prisioneira, preciso ir para casa. - tento sair da cama com dificuldade. Piso o pé no chão, dou dois passos e desequilibro meu corpo.
- Acho que com este tornozelo, você não vai a lugar algum. - Ele chega próximo e me ajuda a me reerguer.
Ele está próximo e consigo ver de perto os detalhes do seu rosto. Seu olhar castanho claro, de forma que se via perfeitamente o destaque de sua íris preta. Seu cabelo estava molhado, aparentando ter saído do banho, um cheiro almiscarado marcante que invadia minhas narinas. Suas roupas eram despojadas, nada de muito chique.
Ele prontamente pôs-se a me ajudar, sentia seus braços ao redor dos meus braços. Sentia seu olhar penetrante em meus olhos.- M-minha família deve estar preocupada! - digo, saindo do transe.
- Mandei avisá-los. Não se preocupe. - Me ajuda a sentar na cama novamente.
- Claro! Com certeza não me preocuparei. - ironizo. - Imagino que todos devem estar tranquilos e contentes sabendo que fui presa e estou cumprindo pena no palácio.
- Mas eu não disse isso a eles. - me surpreendo. - Disse apenas que se machucou e que estava no palácio para que o médico pudesse vê-la. Caso ainda não tenha percebido, não está aqui como prisioneira, senhorita. Mas este era o único jeito de fazê-la ficar. - Ficar? Minha mente dá voltas.
- Por que quis que eu ficasse? - Pergunto, confusa.
- Para consultar o pé machucado, obviamente. - Claro. Obviamente, Emilly, porque mais seria?
Permaneço em silêncio por um tempo.
- Gostaria de comer alguma coisa? - Ele quebra o silêncio. Sinto meu estômago roncar. - Vou pedir que tragam algo para você. Com licença, senhorita.
E assim, sai do quarto.
Olhei em volta e apreciei a beleza do lugar, era lindo! Possuía uma lareira em frente a cama que não estava acesa, mas que ainda assim era chique. Um quadro que parecia ser do rei Henrique e da rainha Athena no alto da parede.
Tento me levantar com dificuldade, me apoiando nos móveis, caminho até o quadro para olhá-lo mais de perto.O semblante do rei Henrique era leve e despreocupado. Nada comparado ao que era hoje.
A rainha era realmente muito linda, Philipe puxara seus olhos castanhos e seu cabelo liso.
Seu semblante transmitia bondade e empatia. Um sorriso simples e discreto.- Belíssima! - penso alto.
- Realmente. - ouço, seguido de um suspiro.
- Você... Vossa Alteza!... Se parece com ela - digo, sentindo o rubor em minhas bochechas.
E um silêncio se instaurou entre nós. Os dois encaravam o quadro sem dizer uma única palavra.
- Sente falta dela? - quebro o silêncio. - Digo... da Rainha Athena. Sua mãe.
- Hum... Sinto... - ele diz, pensativo. - Embora eu não tenha a conhecido. - havia me esquecido desse pequeno detalhe. - Este quarto era dela. De quando ela e meu pai ainda não haviam se casado. Elas roupas - aponta para uma espécie de vestido/pijama branco que eu estava vestida. - também eram dela.
Sinto meu rosto esquentar. Parecendo perceber meu completo desconforto, ele diz:
- Serena trocou suas roupas ontem depois da febre. - ele diz, sem voltar seu olhar para mim, ainda fitando o quadro.
- Obrigada. - digo, continuando também com os olhos fixos no quadro, me recusando a olhá-lo.
Somos então dispersos pelo abrir da porta. Uma moça com uma bandeja adentra o quarto e, com o olhar ao chão, faz uma reverência ao príncipe.
- Com licença, alteza. Senhorita. - Ela cumprimenta. Deixa a bandeja sobre a mesa e sai logo em seguida.
- É melhor comer, ou vai esfriar. Com licença. - ele diz, dando as costas e saindo do quarto.
Havia na mesa ao lado da lareira, caldo de legumes e ervas, pães e castanhas. Sentei-me e comi o que podia.
- Com licença, senhorita. - Dr. Thomas adentra o quarto. - O príncipe me pediu que desse mais uma olhada no seu tornozelo.
- Já estou bem, Dr. A dor já melhorou significativamente.
- Hum... - ele diz, examinando minuciosamente. - Realmente está melhor, mas ainda é necessário cuidado e repouso. Evite movimentos bruscos.
- Quanto tempo mais permanecerei aqui? - pergunto.
- Acredito que não mais que uma semana. Aproveite, senhorita Emily! - ele enfatiza a última frase, como se estar aqui fosse um prêmio. Para mim não era! - Com licença. - Ele diz, saindo do quarto e me deixando sozinha novamente.
Vou até a janela do quarto me apoiando no peitoril. Era entardecer, não sabia de certo a hora, mas provavelmente por volta das seis da noite, quase sete. A brisa banhava meu rosto e observava a bela paisagem.
A direita, ao longe, via luzes acesas no vilarejo. A esquerda mais ao longe, via a escuridão da floresta. Com muita concentração era possível ouvir o piar das corujas, o coaxar dos sapos e até o uivo dos lobos. Fechei os olhos e me concentrei nos sons que ouvia. Sentia saudades de casa.
Este era o momento em que estaríamos em volta da mesa para o jantar. Mamãe na ponta, Taylor a sua esquerda, eu a sua direita e Anne ao meu lado. Anne, reclamando dos legumes enquanto mamãe a ameaçava ficar sem sobremesa. Sentia saudade, queria voltar. Não gostava de ficar longe da minha família.Suspiro fundo e sinto um aperto no peito. Sem mais ter o que fazer, caminho devagar de volta para a cama e meus pensamentos me atordoam. Jamais imaginaria passar por isso! Eu, Emilly Riley, recebendo cuidados médicos no palácio. Nem nos meus sonhos mais loucos isso aconteceria. Era uma realidade completamente distante.
Deixo os pensamentos de lado, fecho os olhos e adormeço.
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Reinado de Espinhos
Historische RomaneO reino de Nervídea está sendo assolado pela guerra. A jovem camponesa Emilly tem seu irmão gêmeo convocado para a guerra e isso faz com que ela aumente ainda mais seu ódio pela realeza do país. O que ela não contava, é que teria que lidar com o prí...