Nós entramos no quintal de uma das casas, Mayu olhou ao redor antes de invadimos a porta da frente.
- Está tudo tão limpo, a moradora devia ser caprichosa. - Mayu disse um pouco alto.
Um grunhido veio da cozinha, engoli seco e olhei para Mayu que lentamente também ficava branca. Não imaginávamos ver aquele tipo de cadáver saindo de lá, tropeçando no carpete.
- M-mayuu... - Minha voz saiu fina.
- E-eu vi... - Ela engoliu seco e apertou a lança.
Aquele cadáver vinha na nossa direção um pouco torta, arrastando o tornozelo quebrado, ela tantava nós alcançar. Poderíamos ser rápidas e matar aquilo, mas não estávamos preparadas para aquele cadáver, o cadáver daquela mulher grávida.
- Mas que maldição... - Meus olhos lentamente se encheram de lágrimas vendo uma cena tão triste e lamentável.
- Maggie me ajuda! - Mayu chamou a minha atenção e fui ao lado dela.
O cadáver se aproximou e atravessou o peito na lança, chegando os braços cada vez mais perto da minha irmã. Fiquei hesitante mas chutei o joelho dela e ela caiu no chão. A barriga grande dificultava a mobilidade dela então ela ficou no chão esticando os braços na nossa direção.
Mayu me olhou triste antes de enfiar a estaca na cabeça dela. Foi rápido aquele momento, mas ficou para sempre gravado na minha mente.
- Céus, como ela morreu? Será que foi um mal súbito? - Mayu cobriu aquela mulher com o carpete.
- Deve ter tropeçado e caído da escada, a cabeça dela tá machucada. - Apontei para uma região. - Ali, perto de onde você perfurou.
- Argh... - Ela virou o rosto. - Vamos arrastar o corpo dela e deixar no banheiro.
- Tá bom...
Enrolamos o corpo do zumbi e puxamos até o banheiro da casa, colocamos dentro da banheira com muita dificuldade, aquela mulher tinha em torno de 1,70 e estava bem inchada.
(...)
Depois fomos a cozinha e encontramos comida, tinha muita coisa boa. Então comemos bem pela primeira vez desde a morte do papai.
- Eu não sei se devíamos, mas acho que podíamos olhar o quarto do bebê. Ver a decoração, sabe? - Mayu disse. - Saber se era menino ou menina.
- Tá bem. - Coloquei o prato na pia depois de comer.
Nós subimos a escada e fomos até o quarto do bebê. Na porta do quarto estava um adorno escrito "Aline" em uma fonte brega e cor-de-rosa. E em outro quarto da casa havia mais uma placa, em azul.
Olhei Mayu, ficamos pálidas outra vez. Mais uma surpresa desagradável e triste para nós.
- Mas que droga... - Mayu apertou a maçaneta da porta e abriu.
O quarto do menino "Mathew" mestava vazio, ou seja, o bebê que ela iria dar a luz, era um menino. E lá no outro quarto, sombrio e cor-de-rosa... Estava o cadáver de um bebê dentro do berço, o quarto fedia muito, a criança havia morrido de fome. Porque a mãe havia morrido primeiro.
Mayu não aguentou ficar lá e estremecendo de medo e revolta, saiu correndo dali.
Tapei meu nariz e me aproximei do berço, fiquei horrorizada com o corpo seco da criança, ela era um zumbi, como a mãe. Se mexia lentamente, as moscas sentavam no seu corpo sujo de fezes e as varejeiras comiam seus olhos secos.
Levantei a faca que eu havia pego na cozinha e cravei com força na cabeça dela. A faca atravessou sem esforço, o cérebro estava em um estado avançado de decomposição e um pouco de sangue jorrou na minha mão inesperadamente.
Me afastei bruscamente por causa daquilo, enjoada e irritada. Irritada por precisar fazer isso, irritada por esse mundo estar como está agora, irritada porque tudo deu errado para aquele bebê e para mim.
Eu enrolei o corpo da menininha em uma manta cor-de-rosa e desci as escadas, coloquei o corpo dela junto da mãe na banheira, e fechei a cortina. Lavei as minhas mãos com bastante sabão.
- Você conseguiu?...
Olhe Mayu parada na porta, com o rosto molhado.
- Sim... - Minha voz falhou. - Consegui.
Mayu assentiu enquanto os olhos marejavam e ela me abraçou por trás. Lavei a minha mão com força olhando meu reflexo no espelho. Estou cansada demais.
Mayu pegou um pente perto da pia e penteou o meu cabelo para trás.
- Está sujo, vou pegar um balde para enchermos de água, então a gente se limpa.
- Tá bom... - Balancei a cabeça e vi ela sair do banheiro.
(...)
- Não acho certo a gente deixar eles assim na banheira... - Disse enquanto esfregava meu pé, tirando a sujeira e lavando as bolhas e calos.
- Uh? - Mayu me olhou enquanto depilava as pernas.
- A gente tem um carro agora, precisamos enterrar eles em algum lugar.
- Porque não enterramos aqui no quintal?
- Você viu, tem muitas pedras ali, vai levar muito tempo pra nós duas acharmos uma cova. Deve ser em um lugar mais tranquilo pra eles, não acha?
Mayu ponderou, até que finalmente concordou.
- Tá bem, amanhã a gente coloca elas no porta malas e depois enterra em algum lugar.
Assenti e voltei a lavar o meu pé.
- Acho que vi uma pomada ali no armário, vamos pegar e passar nos calos. - Mayu sugeriu e eu concordei.
Depois do banho eu passei a pomada nos meus pés e Mayu passou nos dela, depois coloquei um band-aid no meu dedão e cortei minhas unhas. Nunca fui muito vaidosa, mas esse tempo todo aqui, nos cuidando foi terapêutico.
- Ahh... Que cama macia... Parece que tô afundando. - Mayu se espreguiçou.
- Estivemos tão acostumadas a dormir igual macacas nos galhos das árvores que dormir em uma cama agora, parece coisa de outro mundo. - Olhei para o teto. - Não é Mayu?
Quando virei o meu rosto, minha irmã já havia capotado no sono.
- Boa noite pra você também! Argh...
Invejei Mayu, por ela conseguir dormir. Os sons lá fora me assustavam e me incomodavam, os mortos das cidades parecem mais barulhentos que os que a gente via na estrada e na floresta.
Fiquei pensando em muitas coisas, na vida que essa mulher tinha aqui, em como ela devia estar ansiosa para ter seu segundo filho. Fiquei pensando no meu pai, e na minha mãe principalmente. Como seria se ela tivesse sobrevivido, se estaríamos melhores com ela do que com o covarde do meu pai. Pensei em todas essas coisas, e em todas as possibilidades.
Mas me perdi completamente, quando o sono bateu na porta e eu fui com ele.
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T.W.D - 𝙎𝙩𝙖𝙮 𝘼𝙡𝙞𝙫𝙚
Ficção Científica[Obra Ativa] CAPÍTULO NOVO TODA SEMANA Light Novel Stay Alive conta a História de uma pequena sobrevivente, Maggie Charles de 10 anos. No mundo pós-apocalíptico tomado pelos mortos-vivos, e sobreviventes crué...