Capítulo 1

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Nasci num lar amoroso, caloroso e de poses, meu pai era dono de inúmeras fazendas e cabeças de gado, plantações e venda de leite. Tive um quintal era interminável, se comparando também a minha imaginação e a vontade de conhecer cada pedacinho das terras de meu pai. 

Sonhadora ,destemida, uma criança alegre, sorridente e rebelde. Não fui uma criança fácil, minha teimosia irritava a maioria das pessoas que estavam ao meu redor, a mania de achar que sempre estava certa me acompanhou durante toda a vida e isso sempre foi marcante.

Minha opinião forte, postura determinada e a constante vontade de questionar e discutir sempre fazia minha mãe rir, mesmo quando eu ainda era bem pequena e questionava o pq do meu irmão poder andar a cavalo e eu não. 

Minha avó materna morava perto de nós e todos os domingos íamos a missa e depois almoçar em sua casa, era sagrado, eu  encontrava com meus primos, brincava e me divertia entre minha família. Na maioria das vezes tudo acabava em uma divertida confusão, já que eu lutava para fazer as mesmas coisas que meu irmão e primos.

Minha mãe, uma dona de casa exemplar e amorosa, sempre nos deu todo o amor do mundo. Meu irmão, Carlos e eu sempre tivemos sorte, desde o berço. Enquanto nossa mãe sempre nos deu todo o amor do mundo, nosso pai nos deu tudo o que o dinheiro podia comprar, para o meu pai nada nesse mundo era impossível.

Me chamo Cristina, nunca fui, nem quando criança, considerada pequena, eu era muito alta e forte para a minha idade, meus cabelos longos sempre estavam presos numa trança enorme encorpada e meu sotaque interiorano sempre me acompanhou, assim como a alma livre e rebelde de uma menina que nunca se deixou levar por brincadeiras de bonecas e de casinha. 

Eu sonhava em comandar as fazendas de meu pai e cuidar de mim mesma, ser independente, forte e me prover. 

Ainda criança eu ajudava meu pai ao máximo que ele permitia, tentando  aprender a gerenciar e cuidar de tudo, como meu pai fazia. Eu sonhava em comandar. 

Mesmo na infância eu conseguia perceber o tratamento que meu pai reservava a minha mãe, a indiferença, grosseria, os tapas e sempre me lembro de estranhar que mesmo sendo mal tratada ela ainda amava meu pai intensamente.

Isso tudo me marcou muito e me revoltou.

-Eu me apaixonei pelo seu pai muito jovem.

-Pq mamãe?

Ela penteava meus longos cabelos na varanda de nossa casa. 

- O amor não tem explicação, ele simplesmente nos toma, quando menos esperamos e não há como deter.

Meu irmão Carlos sentou ao nosso lado.

-Como vocês se conheceram?

-Seu pai era capataz na fazenda do meu pai. - Ela sorriu - Eu me apaixonei e fugimos. 

-O amor é cruel!

Meu irmão falou irritado, enquanto minha mãe fingia que não entendia o que ele quis dizer com aquela frase. 

Nós víamos o quanto o amor do nosso pai era ruim, mesmo que minha mãe fantasiasse, era nítido que ela precisava suportar coisas demais para se manter naquele relacionamento.

Eu morria de medo de ter um futuro assim, sobe os pés de um homem cruel e presa a um sentimento impensável e sem proposito.

Parecia que minha mãe era um belo pássaro que mesmo podendo voar pelo mundo, se conformava em estar presa numa gaiola aberta. Aceitando seu destino, mesmo cheia de oportunidades de fugir, de seguir, escolhia viver presa ao casamento e ao amor que sentia por meu pai.

Eu amava a nossa casa, a nossa rotina pesada e exaustiva e que apesar de termos dinheiro ainda nos virávamos na humildade do trabalho duro. Não vivíamos no ócio e isso era o que nos mantinha juntos, não havia muito tempo para brigas e questionamentos, já que vivíamos numa fazenda tão grande. Havia tanta coisa pra fazer que quase víamos nosso pai, ele tinha muito mais obrigações que nós, é claro, e talvez isso ainda me fazia ver meu pai com admiração. 

Com o passar do tempo as coisas começaram a mudar, é claro, já que meu pai, Carlos Eduardo, começou a ganhar quantias exorbitantes de dinheiro e tudo aos pouco foi começando a mudar. Desde os vestidos chiques que eu passei a ter que usar, até diversos empregados que foram contratados.

-Mãe, eu não gosto desse vestido!

Ralhei. 

- O que vão pensar se verem a filha de um fazendeiro rico como seu pai desmantelada? 

A mudança não foi bem vinda, para mim, eu gostava da nossa vida pacata, depois de ''ricos'', havia tantos bailes, festas e solicitações da nossa presença, que eu quase não tinha tempo de andar a cavalo pela fazenda, tirar leite e ajudar com as plantações.

Um belo dia sem nenhum motivo aparente, meu pai decidiu que nos mudaríamos para a capital, São Paulo e teríamos uma vida de luxo, realizando o sonho de minha mãe, Ana Paula, de morar numa casa grande e luxuosa.

Eu sabia que minha mãe tinha boas condições antes de se untar com o meu pai e que foi muito humilhada por sua família por esta decisão de casar com ele. Meus pais trabalhavam para se vingar da família e mostrar agora o que haviam conquistado. 

-Minha filha quando conheci seu pai começamos do zero, trabalhamos muito e meus pais me amaldiçoaram.

Meu pai riu, estávamos jantando neste dia.

-Tirei sua mãe de casa e a fiz trabalhar , comíamos uma vez por dia e quando o sol se punha, nós só tínhamos energia para dormir. Foi engraçado ver a menininha mimada desesperada por um prato de comida. 

Minha mãe bufou, irritada.

-Nem um colchão nós tínhamos, dormíamos nos estábulos do nosso patrão, no feno perto dos cavalos. Eu apenas possuía dois vestidos e seu pai três calças e duas camisas.

-Tivemos um começo difícil e sofrido, mas hoje estamos colhendo nossa gloria e sua família... - Ele apontou para minha mãe e endureceu a expressão. - Vai pagar por cada humilhação. 

Pouco antes de nos mudarmos para a capital, minha mãe descobriu que era mentira, meu pai não queria dar a ela a vida boa e a casa maravilhosa que ela sempre sonhou, ele estava na verdade fugindo de um de seus casos, quando ainda os conseguia esconder de minha mãe. A mulher não estava mais se contentando com seu lugar de amante e passou a exigir a separação do meu pai e a se casar com ele. Até nos ameaçar de morte a louca da mulher ameaçou, ela estava disposta a conseguir o que queria e meu pai a fugir dela.

Aos dez anos a mudança foi dolorosa, eu amava a fazenda e o interior, a liberdade de selar um cavalo e cavalgar durante toda a tarde, de banhar no rio e na cachoeira a qualquer hora que sentisse vontade, a plantar o que me desse na telha e aos animais que sempre fizeram parte de minha vida.

Eu esperneei, chorei, gritei e reclamei com toda força que tinha, senti raiva de minha mãe sem saber que aquela era uma tentativa de recomeço para ela, sem tentar entender o lado daquela que mais me amava. Minha pobre mãe achou que com a mudança de ares, meu pai também mudaria. 

-Será bom pra você minha menina!

Minha mãe falava com ternura, mesmo sobre meus gritos.

-Mãe, tudo que eu tenho está aqui!

Gritei.

-Você ainda é tão jovem, tudo ainda é pouca coisa minha filha. Imagine sua vida em São Paulo, cidade grande, lugar grande...

-Aqui é grande o bastante pra mim!

Ela sorriu, mas algumas lágrimas escaparam de seus olhos.

-Aqui é um fim de mundo minha menina, só há tristeza aqui pra nós.

Claro que eu não entendi, que amaldiçoei e chorei por muito tempo, mas o tempo faz tudo passar. Mas, para a minha mãe, depois eu entendi, naquela momento ir para a capital era a realização de um sonho, a prova de que todos os anos de trabalho e esforço havia valido a pena.

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⏰ Última atualização: Jan 30 ⏰

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