Vídeo da Escola

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Após verificar pela milésima vez o roteiro escrito e ajustar uma coisinha ou outra, Saiko arrastou a aba com o documento para o lado e abriu o Audacity. Deu dois tapinhas no microfone e então clicou no botão vermelho, dando início à gravação do áudio de sua mais nova animação:

COISAS RIDÍCULAS QUE EU FAZIA NA ESCOLA

"Oi! Esse já deve ser o milésimo vídeo que eu faço falando basicamente do mesmo assunto... escola. Mas não é à toa. A época da escola foi, para mim, um dos períodos em que eu mais fiz bosta e que eu mais me divertia, então faz sentido que eu tenha muita história para contar.

Antes de tudo, é importante eu introduzir mais uma, entre aspas, personagem. Eu já falei, antes, do Ycaro, que é meu melhor amigo e que aparece em muitas das histórias que eu conto, mas além dele, tem uma outra pessoa que... em palavras sutis... sofria com a gente."

Ele ri.

"Essa pessoa é ninguém mais e ninguém menos que S/N."

Nessa parte, ele imaginava as fotos antigas que colocaria de S/N, todas passando bem rápido na tela. Pensava, em especial, na foto que existia dela sentada de frente à mesa, segurando um cachorro-quente e com a boca bem aberta, prestes a dar uma mordida.

"Dá para ver pelas imagens que eu tenho dela que S/N era uma pessoa bem normal... igual eu e o Ycaro... que também éramos bem normais.

Enfim, o jeito que eu conheci ela foi bem engraçado, na minha opinião, porque foi logo no primeiro dia de aula, e foi do pior jeito possível. 'Ah, mas Saiko, você falou que conheceu o Ycaro de um jeito ruim também, não tem graça.' Não, meu amigo. Não foi ruim que nem quando eu conheci o Ycaro. A S/N não chegou em mim e falou que o meu desenho era feio, igual o Ycaro fez. Foi pior.

Primeiro dia de aula. Eu e o Ycaro estamos andando juntos no segundo andar da escola, prestes a descer pelas escadas para voltar para o andar de baixo, quando eu, sem querer... sem querer!, empurrei ele... E ele caiu em cima de uma menina que estava embaixo... Essa menina era a S/N.

Eu sei que deve parecer meio impossível você empurrar alguém das escadas sem querer, mas eu juro, velho. Acho que era porque eu estava com muito sono no dia, e aí não prestei atenção na hora, não sei, mas eu juro que não foi de propósito. Se você está assistindo isso e está pensando em empurrar o amiguinho da escada, não faça isso... É sério.

Aí, foi quase instantâneo. Eu vi o Ycaro caindo e comecei a rir."

Ele para de ler o texto para dar risada. A memória, mesmo de anos atrás, ainda era capaz de tirar um sorriso de seu rosto. Com um suspiro, Saiko se acalma e volta a narrar o roteiro.

"A S/N, que eu não sabia que se chamava S/N na época, era da mesma sala que eu. E ela ficou com tanta, mas tanta raiva de mim por ter 'empurrado' o Ycaro da escada, que mesmo estudando na mesma sala de aula, ela nunca falava comigo. Ainda assim, a gente virou amigo. Eu sei, eu sei, eu tenho um ótimo histórico com amizades.

Depois que a gente já era amigo—não só eu e a S/N, como o Ycaro também—, o período do intervalo virava quase um campo de guerra, de tanto que a gente fazia bosta. Acho que é meio óbvio que os professores não gostavam da gente.

Em um desses vários intervalos, enquanto a gente estava bem entediado e sem nada para fazer, surgiu a brilhante ideia de pegar um clipe de papel, fincar nele uma borracha e colocar... na tomada.

Pode não parecer," falou com sarcasmo, "mas aquela não era uma ideia tão boa quanto parecia ser na nossa cabeça."

Ajustando a postura na cadeira, Saiko encheu os pulmões com ar e expirou, abrindo um sorriso. Aquele havia sido um dia tão marcante da sua adolescência, que ele sentia que não precisava nem do roteiro para contar a história. Se lembrava bem da expressão brincalhona no rosto de S/N ao balançar o pedaço de borracha na frente dos olhos de Ycaro. E o Ycaro, que por sua vez, tentou convencer os dois a desistirem do plano, mas só por um tempo, pois acabou sendo persuadido.

Saiko deu risada, quase se esquecendo do vídeo. Os olhos pairaram sobre o monitor, sobre as letrinhas digitadas e o aplicativo aberto do Audacity, com suas linhazinhas verticais azuis. Se lembrando de repente do que estava fazendo, ele chegou perto do microfone e continuou com a leitura do roteiro.

"Então aconteceu assim: fomos eu, o Ycaro e a S/N, na hora que estava todo mundo na cantina, até uma sala de aula aleatória. Eu fiquei vigiando a porta para os dois, vendo de longe quando a S/N enfiou o clipe com a borracha no buraco da tomada. No momento exato em que o clipe entrou, deu um estouro. E não foi só um pow meio baixo, foi um POW muito alto. Eu achei que fosse ficar surdo na hora. Não só deu esse estouro, como também a luz caiu. Eu só lembro de olhar para os dois no escuro e logo depois sair correndo da sala. A energia nem caiu por muito tempo. Voltou uns cinco segundos depois, mas a gente saiu de lá tão rápido, com medo de alguém descobrir a gente, que nem deu tempo para ver.

Depois, no mesmo dia, até entrou uma coordenadora nas salas de aula, e ela falou sobre o papoco, mas ninguém nunca descobriu que tinha sido a gente... eu acho. Espero que a coordenadora não esteja vendo esse vídeo."

E, com uma risadinha final, ele leva o mouse até aquele mesmo botão vermelho e clica em parar. Ainda faltava o trecho final, com o agradecimento e notas finais, mas ele preferiu gravar depois. Agora, preso nas outras incontáveis memórias que tinha com o Ycaro e com S/N, ele ria e revirava os olhos, que nem doido, incapaz de não se deixar levar pelas memórias.

O dia em que jogaram amoeba no teto e ela ficou presa lá até o final do ano, a manhã em que fizeram misto quente com uma misteira escondida dentro da mochila, o incidente do corretivo no ventilador...

Era tanta coisa que ele se perdia fácil. Com um último suspiro, ele abriu o editor de vídeos e começou a terceira fase da produção da animação.


☆•°▪︎ Opa! Primeiro de tudo, obrigada à @strangerforever12 por dar a ideia para o imagine. Espero que tenha ficado bom. Escrevi enquanto estava virada :P

Ah, e eu fiz aquela fanfic do Saiko, da época da escola. Os primeiros três capítulos (+ a introdução) estão no meu perfil, para quem quiser ler.

E como sempre, muito obrigada. Eu amo escrever e amo ainda mais ter quem leia. Beijos de luz para todos !!

one shots • saikomene x leitorOnde histórias criam vida. Descubra agora