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Zac - Fevereiro 2001

As coisas pareciam que finalmente estavam voltando aos eixos na minha vida.
A turnê tinha acabado no final do ano e eu estava finalmente de volta a minha rotina.

Estar em turnê era ao mesmo tempo a melhor e a pior coisa do mundo pra mim.
Era a realização de um sonho poder viajar o mundo e ver o quanto nosso trabalho impactava a vida das pessoas.
Era surreal ver gente em países que nem falam a sua língua gritando o seu nome e cantando as suas músicas com lágrimas nos olhos e um sorriso no rosto.

Mas o preço para ter tudo isso é muito alto e poucas pessoas conseguiriam imaginar a solidão que é vc ficar meses na estrada longe das pessoas que vc ama.
É muito louco pq onde vc olha tem gente gritando o seu nome e vc mal consegue andar em público mas mesmo assim vc se sente sozinho naquela multidão de pessoas.

E eu sou um cara que não preciso de muito pra ser feliz. Nunca pedi muito. Eu me contento com pouca coisa na vida e comparado com as pessoas que eu conheci nessa indústria eu era muito de boa mesmo.
Eu via de tudo que vc pudesse imaginar na estrada e tentava o meu melhor para não me misturar com certas coisas e pessoas.
Pra muita gente o mais nunca era o suficiente e eles perdiam totalmente a noção nessa busca infinita.

Haviam festas todas as noites em todas as paradas que tínhamos e honestamente as festinhas do Tay eram coisa de criança se fossem comparadas com essas outras.

Meu irmão não tinha maldade e só queria curtir a vibe dele. Tanto que ele passava o tempo todo com a namorada, só vivendo do jeito que ele achava que valia a pena viver.
Meu outro irmão Ike até entrava na onda das festinhas do Tay tb quando ele queria e não tava ocupado demais indo atrás de mulher.

Agora eu? Eu só queria meu video game, uma tv e comida boa e a Jules do meu lado. Com isso eu poderia passar 1 ano na estrada fácil, sem nem pensar.

Mas dessa lista me faltava o essencial e eu comecei a pirar no meio do caminho por conta disso.
Eu me sentia extremamente sozinho e carente na estrada e tudo que eu mais queria era que ela pudesse estar ali comigo, nem que por um dia pelo menos. Só para matar a saudade dela.

Sem contar que o tal amigo brutamontes dela não ajudava em nada a minha situação. Ele se aproveitava da minha ausência pra ficar em cima dela e a minha insegurança começou a sair totalmente do meu controle.

E foi nesse cenário caótico que eu perdi totalmente a mão.

Eu lembro que naquela manhã no Rio, quando eu acordei com a Kate grudada em mim eu sabia que tinha feito merda.
Eu fiquei tão bêbado e tão chapado na noite anterior que mesmo me forçando muito ainda hoje, meses depois, eu não consigo lembrar de tudo que aconteceu.

Eu tenho apenas flashes daquela noite. O que eu mais lembro mesmo era do que eu sentia durante todo o processo.
Era bizarro pq quando eu fechava os olhos eu só via a Jules na minha cabeça mas eu sabia o tempo todo que eu estava com a Kate.
Ela é muito bonita e eu realmente me senti atraído por ela. Talvez porque ela me dava atenção e me fazia companhia ou talvez pq no fundo eu sabia que ela gostava de mim e aquilo inflava o meu ego.

Só sei que mesmo eu sabendo que aquilo era errado meu corpo me traiu e eu não consegui parar.
E eu me odeio por isso.

E no dia seguinte eu fiquei no banheiro do quarto do hotel vomitando até não ter mais nada no meu estômago. E ainda sim eu continuava a ter ânsia e meu corpo continuava insistindo em tentar, me punindo pela merda que eu tinha feito.

Eu não era de beber. Nunca gostei na verdade pq eu não via graça em ficar bêbado. Antes desse dia eu tinha tido apenas 1 porre na vida que me deixou com nojo de álcool por um bom tempo.
E eu nem preciso dizer que eu nunca tinha fumado né?
Aquela noite não representava em nada quem eu era de verdade e eu acabei comentendo um crime de oportunidade sem nem pensar nas consequências.

i wish that i was thereOnde histórias criam vida. Descubra agora