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Laura, presente – 2025

Vejo-me uma última vez ao espelho, admirando o outfit que escolhi para usar esta noite. Um vestido branco de linho, que termina um pouco acima do joelho, com um cinto do mesmo tecido a marcar as minhas curvas, combinado com umas sandálias castanhas com apenas um pouco de plataforma. A mala em palhinha da mesma cor das sandálias dá um ar mais descontraído ao conjunto e o meu cabelo ao natural também. Coloquei apenas um pouco de maquilhagem, algo bem discreto, e estou satisfeita com o resultado final.

Olho as horas no ecrã do telemóvel e percebo que, se não sair já de casa, vou acabar por chegar muito atrasada. Certifico-me de que tenho tudo fechado e depois abandono o meu apartamento. Desço os dois lances de escadas até ao rés-do-chão e saio pela porta principal do prédio, visto ter deixado o meu carro no estacionamento exterior. Como não podia deixar de ser, o trânsito lisboeta está absolutamente caótico, o que faz com que um percurso que me poderia tomar pouco mais de 10 minutos - desde S. Domingos de Benfica, onde vivo, até ao LxFactory, onde combinei o meu jantar - demore praticamente meia hora. Demoro outro tanto de tempo a tentar estacionar, por isso quando entro no Micro Burgers & Music já estou super atrasada.

- Desculpa, desculpa! Apanhei imenso trânsito e demorei séculos para conseguir estacionar! – desculpo-me assim que alcanço a mesa onde Dinis, a minha companhia desta noite, está sentado.

- Não te preocupes, está tudo bem. – ele sorri, levantando-se para me cumprimentar, como um verdadeiro cavalheiro – Chegaste sã e salva, é o que importa. Tomei a liberdade de pedir bolo do caco para a nossa entrada e sangria para bebermos. – Dinis revela.

- E fizeste tu muito bem. – afirmo com um sorriso, ocupando o lugar à sua frente.

Minutos depois da minha chegada, a empregada de mesa traz-nos a entrada pedida e a jarra de sangria, recolhendo logo os nossos pedidos. Eu escolho um hamburger POP e o Dinis escolhe um FUNK.

- Ainda não tinha tido oportunidade de to dizer, mas fiquei feliz por aceitares o meu convite. – Dinis declara.

- Não tinha motivos para o recusar. – respondo-lhe – Algo em ti me inspirou confiança e o Filipe garantiu-me que eras uma pessoa decente.

- E sou, juro! – ele confirma, levando-nos a ambos a partilhar uma gargalhada.

O Dinis e eu conhecemo-nos há duas semanas, na festa de aniversário do Filipe, o noivo da minha irmã. Normalmente, eu não sou exatamente o tipo de pessoa que se dá a conhecer num primeiro contacto ou que é logo super extrovertida, aberta e sociável, mas, por algum motivo, eu e o Dinis tivemos um click e demo-nos instantaneamente bem. Nem se quer foi uma questão de atração física, acho que as nossas energias bateram certo – se é que isso existe. No final da noite, depois de termos passado o tempo quase todo a conversar, o Dinis convidou-me para jantar com ele e, contra tudo aquilo que é natural em mim, aqui estamos nós.

- Fala-me sobre ti. – o Dinis pede, bebendo um gole da sua sangria.

- Isso é só o pedido mais difícil de sempre. – gargalho – Tens de fazer-me perguntas em concreto de coisas que queiras saber, ou não vais arrancar nada de mim. Sou péssima a falar sobre mim própria.

- Bem, eu sei que és arquiteta, que trabalhas num escritório aqui em Lisboa... Sei que és irmã da futura mulher de um dos meus melhores amigos. Falámos imenso no jantar do Filipe, mas não falámos propriamente sobre nós. – o Dinis constata e eu assinto, concordando.

Pontos Nos Is | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora