Malu chorou todo o trajeto, pois ainda estava bem abalada pelo quase estupro que sofrera. Disposto a cuidar dela, Hektor levou-a para o escritório e a colocou sentada em uma das poltronas do espaço de leitura. Caminhou até o armário, retirou dele um kit de primeiros socorros que guardava ali e voltou para junto dela. Com delicadeza levantou seu queixo e pôs-se a limpar seu rosto.
O sague do lábio já havia coagulado e ele tentou limpá-lo com cuidado de modo que ela sentisse menos dor possível. Enquanto limpava, se culpava inconscientemente por ter permitido que Caíque fizesse aquilo com ela e, principalmente, por não ter tomado uma atitude logo que percebeu que ela estava incomodada com os avanços do rapaz.
"Se eu tivesse ido até eles logo que os vi juntos, teria evitado isso" – pensava com olhar soturno. "Eu e essa minha mania idiota de respeitar o espaço dos outros."
Hektor não tinha agido por não querer invadir a vida de Malu e por tentar lutar contra seu ciúme. Sabia do péssimo caráter de Caíque, mas jamais imaginou que ele fosse capaz de estuprar alguém. Lembrou-se de Caíque ter insinuado que Malu estivesse se exibindo com aquele decote.
"Droga! Esse maldito decote."
Sentiu-se culpado também por ter permitido que ela fosse com aquele vestido.
"Mas o que poderia ter feito? Tê-la proibido? Com que justificativa?" – se perguntava incessantemente.
Calado enquanto trabalhava nos cuidados com o rosto de Malu, ele a admirava.
"Tão linda, tão indefesa."
— Conte-me o que exatamente ele fez – pediu delicadamente.
— Ele... ele... – ela ainda não conseguia falar.
Hektor parou de limpar o rosto dela e a olhou intensamente.
— Malu, ele... ele... conseguiu tocá-la mais intimamente? – tentava encontrar palavras.
— Não – respondeu constrangida. — Ele só me beijou, o senhor chegou antes.
— Ok – respirou aliviado com a resposta. Voltou ao curativo que precisava fazer e ela voltou a fechar os olhos.
Hektor se perdeu olhando aqueles lindos lábios que um dia ele havia provado.
"Aquele desgraçado a beijou" – bufou em silêncio. "Felizmente ele não conseguiu fazer mais... porém a beijou." – tocou suavemente os lábios dela e foi tomado pela recordação do beijo que dera nela. Num ato impensado, ele se aproximou do rosto dela.
Ao sentir o hálito quente se aproximar de seu rosto, Malu abriu os olhos e deu de cara com o olhar hipnotizante dele e ela também foi tomada pela lembrança daquele beijo. Instintivamente, ela olhou os lábios dele e ele os lábios dela e a química da atração se fez presente. Com os corações saltando no peito dos dois, Hektor não resistiu e ela não o impediu. Os lábios se tocaram e se reconheceram, acariciando-se e explorando-se suavemente.
Na ânsia de sentir seus corpos próximos, Hektor a puxou para si, sentindo seu próprio corpo estremecer e não pôde controlar sua excitação, Malu também sentiu algo estranho levando um arrepio por todo seu corpo. Ambos assustados com as reações de seus corpos, abriram os olhos ao mesmo tempo, dando-se conta do que estava acontecendo. Encabulada e sem saber o que fazer, Malu o empurrou e, como da vez anterior, saiu correndo em disparada para seu quarto. No meio do caminho, arrancou o paletó dele que ainda usava e o jogou sobre o sofá da sala de estar.
Confuso com tamanhos sentimentos e com medo de ela ter pensado que ele faria o mesmo que Caíque, Hektor subiu as escadas atrás dela. Ao se deparar com a porta do quarto dela fechada, chamou-a.
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Série: Até o fim dos meus dias - Livro 1 - Inesquecível - DEGUSTAÇÃO
RomansApós perder a mãe para a leucemia, Malu é acolhida pela Família Salvatore, para a qual seu pai trabalhava como motorista. Com o passar dos anos ela se torna uma espécie de dama de companhia de Juliana Salvatore e desenvolve pela socialite um grande...