O sol cobria grande parte do pátio quando Yoongi decidiu sair do refeitório após seu almoço.
Àquela altura, o verão em Gyeonggi não atingia mais que 27 graus, mas, devido à umidade, parecia muito mais quente.
Mesmo assim, todos pareciam aproveitar cada gota de suor que escorria pelas testas, como se estivessem em um parque de diversões. Uns corriam de um lado para o outro aproveitando cada espaço tocado pelo calor, alguns escondiam os olhos da claridade, mas ainda assim aqueciam seus corpos e outros apenas encaravam o céu como se vissem algo divido no sol.
Não era seu clima favorito, preferia o frio.
As pessoas daquele lugar ficavam mais calmas e quietas.Por um minuto, parou para se lembrar de como era antes de chegar ali. Se recordava de suas visitas à praia com os amigos, em dias ensolarados, carregadas de álcool e loucuras de adolescentes fingindo serem rebeldes. Riam, conversavam, gritavam e corriam como se não tivessem o mínimo de preocupação ou como se, mesmo tendo, não se importassem.
O lema live fast die young era levado a sério e faziam tantas coisas em um único dia de sol, que mal conseguia entender como se desdobravam em apenas vinte e quatro horas.Naquele momento, só conseguia perceber o die young em sua vida.
Não se sentia vivo há muito tempo e sabia que não havia espaço para a vida ali dentro.
O sol já não era mais motivo para se animar, muito pelo contrário. Cada raio de luz que tocava o solo do pátio, o fazia lembrar que continuava preso naquele hospital sem previsões de encontrar soluções para sair e não seria apenas uma luz um pouco mais quente que o animaria.Era patético enxergar os sorrisos nos rostos dos que estavam à sua volta. Aquilo sim para ele era sinônimo de loucura e nem precisava ser psiquiatra ou cinquenta diagnósticos assinados para enxergar.
Como sempre, não conseguiu ficar diante aquela cena por muito tempo.
Respirando fundo, se direcionou a área interna de recreação, onde havia alguns instrumentos para as aulas de música que tinham às terças. Não entendia muito bem a razão para as aulas já que, mesmo depois de 6 anos no hospital, os internos continuavam apenas fazendo barulho repetidamente como se tentassem torturar cada um que ainda tinha um mínimo de sanidade. Mas não podia deixar de agradecer por ter todos os objetos por ali à sua disposição enquanto todos estavam do lado de fora, principalmente o piano que era posicionado ao fundo do ambiente claro.Caminhou calmamente até a cadeira e posicionou os dedos sobre os teclados que conhecia tão bem.
Dali em diante era automático e tudo parecia fluir naturalmente.
Seus dedos esguios apertavam cada tecla de forma certeira, deslizando com destreza a cada som emitido pelo instrumento.
Não era necessário manter os olhos abertos, a melodia havia sido criada em algum de seus momentos sozinho naquela sala e já havia reproduzido tantas vezes que os movimentos de suas mãos eram quase atraídos pelas teclas certas, ressoando em sons tranquilos que fariam até o mais louco do hospital se acalmar.
Pensava em criar alguma letra para a música, mas também sentia que aquilo era o suficiente. Ali conseguia colocar suas emoções sem qualquer necessidade de definição, sem uma letra a canção serviria para quando estivesse triste, com raiva ou para quando estava angustiado, então bastava.Tocou por mais alguns minutos, sem se importar se estava retomando a música do início pela quarta vez, até ouvir um leve pigarro atrás de si, o fazendo parar imediatamente com o susto.
O som emitido pelo piano, pressionado pelos seus dedos ao susto, fez o rosto da senhora posicionada atrás dele se contorcer levemente.
- Nunca pensei que diria isso a você, mas o grand finale, dessa vez, não foi digno da minha compra de ingresso. – A senhora de cabelos castanhos lisos na altura dos ombros disse docemente, enquanto segurava sua prancheta e caneta entre os dedos. Yoongi continuou encarando, sem qualquer expressão, apesar de ter sentido o tom ameno daquela mulher, por quem já estava familiarizado. – Algo me diz que devíamos mudar nossas sessões definitivamente para essa sala, sabia? O caminho da minha sala até aqui é bem longo para eu ter que vir até aqui todas as vezes para te resgatar para as consultas. Você devia ter mais respeito e consideração pelos mais velhos e cansados, Yoongi.
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Ashes
FanfictionEle foi supostamente acusado de matar sua família e agora se encontra em uma clínica psiquiátrica. Enquanto lida com sua culpa e com seus pesadelos, começa a ter consultas com a Dra. Yunah, sua nova terapeuta. No entanto, ele se mantém fechado e re...