Capítulo Dois

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A cabeça de Hwan Yunah parecia pesar quarenta quilos. Estudava a ficha dos pacientes da Dr. Eun-ji desde a manhã e mal havia almoçado quando percebeu que já estava na hora na hora de deixar o hospital.

Eun-ji já tinha muita experiência, o que justificava toda sua maturidade e renome no meio profissional. Era de grande orgulho para Yunah poder substituí-la durante as férias.
Entretanto, a responsabilidade de continuar o bom papel a assustava.

Havia acabado de transferir sua residência médica para o Hospital Psiquiátrico de Gyeonggi, devido à proximidade da sua casa. Seria uma ajuda e tanto poder levar menos tempo no deslocamento, além de poder economizar no transporte.

Morar sozinha não havia sido uma opção. A mudança da casa de seus pais para morar sozinha em Gyeonggi significava, pelo menos em sua mente, uma oportunidade melhor de conseguir dinheiro mais rapidamente. A oportunidade não iria aparecer duas vezes, por isso, nem cogitou recusar o convite de sua antiga professora, amiga da atual diretora do hospital, apenas por morar longe. Se para ter a oportunidade de trabalhar em um hospital de tanto respeito, precisaria abdicar de alguns luxos, assim o faria.

Yunah tinha o foco de uma águia e destacava-se em seu período de faculdade pela sua determinação e coragem – além de teimosia e perfeccionismo, de certa forma.

Apesar disso a prejudicar em alguns momentos, foi a sua salvação em outros.
Gostava de viver a máxima do "melhor pedir perdão, do que permissão" e isso era sua caixa de pandora; era difícil saber o que iria sair disso. Mas estava funcionando até então, dessa forma, não havia motivos para pisar no freio.

Na manhã em que recebeu os prontuários, cinco sob sua responsabilidade no total, decidiu que organizaria em ordem de tamanho, sendo os prontuários menores, primeiro. Assim não se entediaria com as longas anotações e recomendações das fichas mais recheadas e terminaria mais rapidamente.
Se frustrou assim que olhou no relógio que já marcava 20:56 em cor vermelha. Não havia chegado nem na quarta pasta.
Sua mania de querer ir a fundo nos temas acabou estragando seu plano de chegar no próximo dia, quando iria se reunir com Dr. Eun-ji, com todas as fichas decoradas, na ponta da língua.

Naquele momento, era o melhor que conseguiria. O cansaço da ansiedade do primeiro dia havia se manifestado e, não ter saído da sua sala durante todo o período, fez os primeiros estragos do dia em sua coluna. Precisava de um descanso, para que pudesse estar apresentável no dia seguinte.

Pegou sua mochila, levando apenas o essencial. Estaria de pé logo cedo para iniciar o dia com o pé direito em sua nova fase.

***

Às seis da manhã em ponto, Yunah estava pronta.

Havia deixado tudo programado para o dia seguinte, no dia anterior. As roupas estavam postas no cabide, sapatos escolhidos em frente à porta e bolsa com o que utilizaria com todos os seus pertences, incluindo o jaleco branco impecável que tanto amava usar, em cima da bancada que dividia sua cozinha da sala.
Deixar tudo planejado a fazia ganhar tempo, o qual utilizaria para tomar seu café com mais calma.

Essa era sua terapia particular.

Olhar em volta e ver tudo no lugar, claro e limpo, enquanto tomava seu café quente, trazia a sensação de paz que ela não encontraria em qualquer outro momento da sua vida.

O ritual do café da manhã a mantinha centrada nos dias corridos de trabalho e, no curto período que se encontrava morando sozinha, aliviada pois sabia que chegaria e tudo continuaria no lugar.

Às vezes, chegava a pensar se era normal manter esses seus costumes ou se chegavam a ser algum tipo de mania. Mas trabalhava em um hospital psiquiátrico e, por isso, já havia passado em diversas seções de manutenção com seus colegas de trabalho. Caso fosse algo a ser reparado, com certeza teriam sinalizado e provavelmente a proibida de exercer sua profissão.

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