Só vejo você

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"O coração dele, era tela em branco para sentimento
As minhas palavras, ecoavam no vento
Caminhamos de mãos dadas, éramos arte abstrata
Eu sonhava com o dia que seria criado
o nosso retrato."

Nas margens de uma cidade costeira, onde o céu e o mar se abraçavam em um azul celestial, nasceu um amor desenhado por anjos. As águas testemunharam.

Dora, com seus cabelos tão escuros e brilhantes quanto uma noite estrelada, tinha os olhos da cor do Oceano Pacífico durante as manhãs ensolaradas. Sua respiração refletia a calmaria da brisa que tocava sua pele, ela caminhava com passos leves, e o vento ajudava, deixando rastros na areia para aquele que vinha logo atrás.

Caio era como uma gaivota curiosa que adoraria aproveitar de toda sua liberdade para sobrevoar o mundo inteiro acompanhado pelo frescor azul daqueles olhos que o guiavam dia e noite, entre o céu e o mar. Seus cabelos claros pareciam refletir o próprio sol nas águas cristalinas abaixo de seus pés.

Nos primeiros momentos, os olhares trocados eram promessas seladas pelo universo. Como se nunca tivessem se conhecido antes, como se nas vidas passadas não tivessem existido. Então, pela primeira vez se tocaram, como o pincel toca na tela. Ele se permitiu imergir nas palavras proclamadas por ela, todas inspiradas na profundidade se sua arte.

"Cada linha que escrevo é sobre você
Cada traço em sua tela é um azul que desejei
Assim, sob o manto celeste, nosso conto se desenha
Eu apenas observo, e espero
uma história em azul tomar a cena."

Naquele pôr do sol, as almas dos amantes foram unidas pelo destino e passaram a pintar o mesmo caminho. Viviam o mesmo sonho, foram feitos para isso, como os anjos queriam.

Durante as manhãs, tal como o sol, o relacionamento de Dora e Caio desabrochava em um espetáculo de esperança; cada riso compartilhado ecoava como um acorde harmonioso, e os olhares trocados eram repletos de promessas de um futuro que somente os seres angelicais conseguiam vislumbrar. Com a chegada das noites, passeavam pela orla, sentindo a brisa salgada acariciar seus rostos e celebravam a beleza da lua enquanto beijava o mar; as estrelas, cintilantes como diamantes, testemunharam a paixão que unia o casal prometido.

Porém, em pouco tempo, os tempos difíceis vieram. Pela primeira vez, o ar ficou gélido e o mar se mostrou inquieto. Para Caio e Dora, era a chegada do inverno.

Mais do que nunca, eles se uniram, sabiam que precisavam, tentaram de tudo para se manter aquecidos. Entretanto, aos poucos, o futuro foi deixado de canto.

Ela adoeceu de repente, e no dia seguinte, sua apatia ficou evidente.

Caio foi otimista, "não se preocupe, minha vida, minha arte é a base do lar.", e justificou sua partida.

Por mais de três noites, Dora esperou seu marido. Ao regressar, trouxe consigo a notícia:

O sonho havia sido vendido, o futuro foi adiado. Agora a doença era um fardo.

Para Dora não houve melhora. Ela havia perdido o que mais queria, mesmo quando tivesse tudo que precisasse, sua dor jamais seria compreendida.

A moça cansou de pedir, repetir, e lutar; a voz ficou fraca, estava a um passo de desistir; Caio, no entanto, ainda não enxergava e não ouvia, de fato não entendia a ira de Dora, e por isso permaneceu estático, confuso, pensou ter sido abandonado.

Ficaram em silêncio.

"Esperei por tanto tempo que já não me lembro
Durante toda a minha vida, o que eu esperava?
Me foi jurado uma obra de arte,
Tudo que recebi foi um traço de azul desbotado.
Mesmo quando ele está ao meu lado
Sinto não ter ninguém para conversar
Dói tanto não poder falar!"

Só vejo vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora