Mabel Morgans
Mamãe me chama entre a multidão, as mãos sinalizando sutilmente que me aproxime. Aquele é o quarto garoto que me apresenta, na intenção de me arranjar um namorado, e ultimamente, a mulher com intensos olhos amendoados e cabelo naturalmente loiro recém cortado em um chanel requintado, tem feito muito isso nos eventos em que estamos.
Ela diz que preciso arranjar alguém adequado para o sobrenome Morgans e o quanto antes eu encontrar esse cara, merecedor de um possível casamento, melhor. Eu, entretanto, sinto arrepios pelo corpo todas as vezes que Érica Morgans cogita tal possibilidade, mesmo tendo ciência que o casamento precoce fosse algo muito comum entre todos da elite.
— E então? Quais os seus hobbies? — o garoto, chamado Daniel, questiona, observando-me com certa curiosidade.
Estamos conversando há pouco mais de meia hora, mas ele é tão entediante que nunca consigo prestar atenção em suas palavras, e quero desesperadamente sair dali.
— Para ser sincera, não sou uma pessoa muito interessante — respondo com um sorriso amarelo. — Gosto de música clássica, amo tocar piano, ler, e acho que só.
— Música clássica, piano e leitura são interesses muito nobres, Mabel — comenta, tentando manter a conversa. É apenas um ano mais velho que eu, e seus pais são arquitetos renomados. — Sua família deve sentir muito orgulho disso.
Dou de ombros, a impaciência surgindo aos poucos.
— Fui obrigada — falo, em desdém. — Mamãe dizia que queria um dos filhos envolvidos com música, e perdi uma aposta para Elijah quando foi nos matricular nas aulas de piano, ou seja... sobrou pra mim.
Daniel parece tentar disfarçar sua decepção com minha resposta, mas eu já me sinto cansada dessa conversa tão superficial.
— Então você não gosta de tocar? — ele parece confuso.
— Gosto — respondo, fazendo-o franzir o rosto. — Só não foi algo ocasionado por livre e espontânea vontade, igual tantas outras coisas na minha vida.
O moreno parece perplexo com minha resposta, e me pergunto se ele esperava encontrar uma versão mais idealizada de mim, mas a verdade é que eu me sinto sufocada por expectativas e obrigações que foram impostas desde cedo.
— Acredito que cada um de nós tem suas próprias paixões e interesses espontâneos, não é mesmo? — tento amenizar o tom da conversa, mas a sensação de desconforto persiste. — Desculpe se pareço desinteressante.
— Não, você não é desinteressante — ele diz, mas suas palavras parecem falsas. — Eu só... acho que... preciso ir.
Mantenho a expressão neutra no rosto, juntando ambas as minhas mãos em compreensão, embora a frase na verdade me anime pra caramba.
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The Good Boys - Livro 1
RomanceMabel Morgans sempre sentiu que a vida na elite era um desafio. Irmã mais nova do tão respeitado Elijah Morgans, e filha de pais poderosos, entretanto, ela nunca se encaixou. Apesar disso, a garota com seus recém dezenove anos completos é ciente qu...