Capítulo 1

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     Depois de alguns meses decidi fazer uma visita à um amigo antigo, precisava relembrar os velhos tempos e me distraí da futura viagem que teria de fazer. Hoje a vida é um pouco pacata comparando com o passado, os último trinta anos foram os que mais aprendi, mas também foram os mais monótonos da minha vida, pelo menos as visitas ao reino dos draconatos eram boas, engraçado pensar nas histórias que ouvia desse lugar, acreditei nelas e nem mesmo queria passar perto desse lugar, hoje venho aqui sempre que possível. Aqui tive a oportunidade e o prazer de conhecer o rei da raça dos draconatos, Yargo, a primeira visita foi um tanto problemática, porém não temos ressentimentos daqueles momentos, pelo contrário, Yargo sempre está de braços abertos para ajudar e receber as minhas visitas. Antes de chegar ao jardim real já podia vê-lo ao longe pela janela da carruagem, cabeça para fora e acenando com a mão comecei a gritar.

     – Yargo, quanto tempo! – Estendendo o meu grito.

     Puder ver um sorriso aparecendo em seu rosto. Quando a carruagem parou fui recebida por um abraço caloroso.

     – Galadriel, fiquei surpreso que teria sua visita na véspera de sua viagem.

     Yargo, um draconato que destruíam todas as histórias ruins que havia ouvido de lugar e de sua raça. Suas escamas em cor vermelha misturada com um verde grama, davam e impressão de estar olhando para um pasto sendo iluminado pela luz do sol poente, transmitia um ar de uma pessoa bem vivida, quem o visse sem saber poderia dizer que estava na hora de se aposentar do cargo, uma visão completamente errada, ele é alguns bons anos mais novo que eu, conhecedor de leis como ninguém, um eximiu lutador e um esgrimista majestoso apesar de não estar em sua melhor forma física, o que mais marca sua pessoa é sua fala sempre lenta, calma e acentuando o “s”.

     – Queria conversar com vossa majestade. – Disse enquanto caminhávamos em direção ao castelo. – Perdi o costume de participar dessas viagens de trabalho, esses últimos anos mexeram comigo sentia que se passaram séculos, por mais que vivi o que sonhei quando criança, devo dizer que era muito mais divertido nos meus sonhos.

     – Devem ter sido anos muito cansativos para um elfo dizer que foram longos, sua raça tem fama de não perceber o tempo passar. Entretanto partilho dessa sensação, de vez enquanto tenho vontade de deixar o trono, só que quando olho para trás e penso em tudo que se passou nesse reino comigo no poder chego a conclusão que não posso deixar esse posto. Deixemos de falar sobre o passado, vamos até a parte de trás do jardim, pedi para fazerem um café da manhã para nós com o que você mais gosta.

     Já estávamos a mesa tomando nosso café da manhã. Me servi uma xícara de café, tirei alguns livros da minha bolsa e os coloquei em cima da mesa.

     – Qual seria o conteúdo? – Indagou Yargo apontando para a pequena pilha de livros.

     – Esses livros contam as histórias de Argon, todas as guerras, bibliografias de rei e lordes, ensinamentos dos nossos antepassados e dos dragões, você entende? Momentos importantes do mundo estão nesses livros, escritos em todas as línguas desde a dos gnomos até a dos humanos. Mas onde estão os acontecimentos de poucos anos atrás?

     – Estão na boca do povo de todas as raças, acha que isso é pouco?. – Respondeu de forma calma.

     – Esses livros são refeitos todos os anos, por isso todos lembram de suas histórias, podem passar gerações. Mas as pessoas que falam sobre nós vão sumir, assim como nós, Yargo, nesses livros tem história de pessoas que se tornaram traidores e ditadores, até hoje ninguém ao menos cogitou em escrever sobre o que aconteceu, não fui a única que esteve envolvida nisso. Não acha injusto que pessoas que não mereçam sejam mais lembradas que nós? Todos que participaram da missão que nos trouxe até aqui, nossa expedição pela parte morta dessa lugar.

     O rei fixou um olhar sério em mim ouvindo com atenção. Enquanto falava sentia um frio na barriga por causa daquele olhar, uma sensação de ansiedade me dominou queria logo sua resposta, mas ao mesmo tempo tinha medo dela. Para minha surpresa ele apenas se levantou e saiu. Fiquei confusa, não esperava essa reação, então voltei a tomar meu café e comer algo, esperando sua volta.

     Passou alguns poucos minutos e vi Yargo voltando junto com uma companhia, seu mordomo, um draconato totalmente misterioso por natureza, a única coisa que sabia sobre ele era que havia sido capitão em alguma guerra.

     – Se seu desejo é ser eternizada em papel, então está aqui a minha ajuda, meu mordomo irá escrever tudo o que você disser, irei acompanhar toda história, se me permite.
Enquanto falava seu mordomo pegava uma cadeira e adicionava a mesa, tirou uma máquina de escrever de sua bolsa, olhou para mim com um rosto singelo e determinado.

     – Podemos começar no momento em que quiser, senhorita.

     Olhei incrédula para meu amigo que com um sorriso caloroso no rosto fez um sinal com a cabeça para que começasse a contar minha história. Com essa ação me levantei e fui até Yargo, lhe dei um abraço de agradecimento, voltei ao meu lugar, me preparando para contar a história de pessoas que devem ser lembradas.

Ecos do Conflito: Cicatrizes do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora