A madrugada parece se arrastar lentamente, e eu me encontro sozinha, perdida em meus pensamentos. Lágrimas rolam livremente pelo meu rosto enquanto penso na discussão com meu tio. O silêncio da noite é quebrado apenas pelo som distante dos grilos e pelos uivos dos cães lá fora.
O frio cortante da madrugada não me afeta tanto quanto a frieza que sinto dentro de mim. A cada lágrima derramada, eu me afundo mais fundo na tristeza e no remorso. O que começou como um jogo para mim, uma maneira de provocar e testar os limites, agora se transformou em um desastre de proporções imprevisíveis. Será que ele está realmente zangado comigo?
Finalmente, quando os primeiros raios de sol começam a tingir o céu, decido que é hora de enfrentar as consequências. Saio da cama com o rosto inchado de lágrimas.
Vou até o banheiro, evitando encarar meu reflexo no espelho. A água do chuveiro me envolve, mas não consegue lavar a sensação de arrependimento que paira sobre mim. Meu corpo está fisicamente exausto, mas a tormenta emocional parece não ter fim.
Ao sair do banho, coloco um look agro glamouroso. Uma mistura de roupas típicas de fazenda com toques de estilo e rebeldia, como uma calça jeans aperta, uma blusa xadrez amarrada na cintura e botas de couro desgastadas. A maquiagem escura realça meus olhos inchados, mas estou determinada a manter a imagem de uma mulher forte e decidida.
Desço e encontro meus pais e tio Ben na cozinha. Meu pai está concentrado no café, sentado à mesa, enquanto minha mãe prepara algumas coisas no fogão. Tio Ben também está sentado, olhando para sua xícara de café, aparentemente perdido em seus próprios pensamentos.
— Bom dia. — Tento cumprimentar, forçando um sorriso que mal alcança meus olhos inchados.
Meu pai levanta os olhos da xícara, mas sua expressão séria me faz estremecer. Minha mãe continua mexendo as panelas, como se não tivesse notado nada de diferente.
— Bom dia, filha. — responde meu pai, sem entusiasmo.
Caminho até o balcão, onde uma tigela de frutas frescas está esperando. Pego uma maçã, mas minha vontade de comer desaparece quando sinto os olhos do tio Ben sobre mim. Seus olhos encontram os meus por um breve momento, mas ele desvia o olhar rapidamente, como se minha presença fosse uma lembrança indesejada.
— Ben, você não quer mais café? — pergunta minha mãe, tentando quebrar o gelo enquanto serve uma xícara para ele.
— Não, obrigado, Rita. Já tomei o suficiente. Preciso ir cuidar do campo. — ele responde, levantando-se da cadeira.
Engulo em seco, sentindo o nó na garganta. Meu pai também se levanta para ir até a porta, parecendo ainda mais sério do que antes.
— Filha, você pode vir nos ajudar hoje? Precisamos colher algumas frutas e cuidar das plantações. — diz meu pai, evitando olhar diretamente para mim.
— Claro, pai. Assim que eu terminar o meu café da manhã, eu alcanço você. — respondo, tentando manter a compostura.
Tio Ben passa por mim sem dizer uma palavra. Sinto um aperto no peito ao vê-lo se afastar, e um silêncio constrangedor paira sobre a cozinha. Em seguida, ele sai atrás do meu pai.
Enquanto tomo meu café da manhã, tento ignorar o clima tenso ao meu redor. Minha mãe se aproxima de mim com um olhar preocupado.
— Filha, estou preocupada...
— O que foi, mãe? — interrompo, tentando parecer indiferente.
— Seu pai e seu tio estão agindo de um jeito estranho. Eles mal se falam. Será que eles brigaram?
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Meu Tio Gostoso
RomanceApós entrar na universidade, Kyra sai do interior, onde vivia com seus pais e passa a morar na cidade grande com a família de seu tio Benjamin, que ela não vê há anos. Porém, quando ela chega e reencontra Benjamin na rodoviária, ela se sente imediat...