A contemplação: o discurso dos honestos

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Astarco estava caminhando na floresta de Athenas e lá ele viu um ataque contra uma caravana. Ele não fez nada e ficou escondido. Um dos bandidos não estava conectado ao grupo, ele era um pouco mais letárgico e temeroso. Então, após o ataque, Astarco seguiu o grupo. Ambos foram vender os pertences roubados. Astarco abordou o bandido desajustado. O velho sábio falou com ele sozinho:
- Você pode me dizer se estas coisas são suas?
O homem engoliu seco e disse:
- São minhas, velho. Vai comprar? O velho então continuou:
- Eu sinto que você não é desse jeito. Você não está feliz com essa situação! O homem saiu da bancada de vendas, pegou uma faca e ameaçou:
- Não me venha com isso. É melhor você ir embora. Astarco gentilmente disse:
- O homem honesto sente a dívida com a humanidade. Esse vazio não vai se preencher com revolta ou raiva. Posso supor que você faz isso pelo dinheiro, mas tem algo mais nobre em sua alma, estou certo? O ladrão então colocou a faca sobre a mesa e disse:
- Velho, suas vestes surradas, você entende. Eu perdi tudo. Eu tenho família. O dinheiro serve para ajudá-los. O velho então colocou sua mão no ombro dele e disse:
- Você tem honestidade. Eu acredito que você pode voltar ao seu estado original. Todo ser humano é naturalmente honesto. A sociedade e os vícios apresentados causam a desonestidade. Você foi vítima das circunstâncias. Se os governantes fossem solícitos e a sociedade prestasse mais atenção aos seus, não teríamos tanta desigualdade, falta de educação e compreensão. Falta lutar na raiz do problema. Enquanto isso não ocorrer, existirão mais pessoas em crise. O bandido chorou e Astarco abraçou o homem e propôs:
- Eu vou conseguir um emprego para você, mas você precisa devolver o que roubou. Eu sei que a justiça atual o puniria de maneira severa e pouco útil, portanto não precisa assumir, apenas devolver. Para Astarco, o crime deveria ser punido com educação e desenvolvimento intelectual. Apenas restringir os direitos gera um efeito oposto, causando rebeldia ao invés de desenvolvimento transformador. Portanto, digo que você se arrependeu a tempo. Astarco seguiu e foi à academia. Ele falou com o escolástico e pediu emprego para o homem, sob a justificativa de que precisavam de pessoas para limpar livros e cuidar da limpeza e dos serviços gerais. Tendo alcançado sucesso, ele seguiu em frente e deu a boa notícia ao homem, que agradeceu.
Ao final do dia, Astarco pegou seu manuscrito e escreveu:

"Ser honesto é a virtude amarga de lealdade e compromisso com a melhoria e aceitação do ego e do mundo. Ser honesto não é somente aceitar as regras e as atitudes de um povo, mas sim questionar tais normas e tomá-las por racionais. De que adiantaria tomar as leis do direito se tais leis causam ainda mais desonestidade? Portanto, o produto da honestidade é a racionalidade das condutas em consonância com a razão e a lógica, ainda que sob o filtro humano e sob a ótica esmagadora do desenvolvimento. Pois uma ação tem um peso, o honesto sabe o peso de seus atos e sabe que seus passos vão repercutir na sociedade.
O honesto olha para o espelho da alma e sente gratidão. Tudo refletido nele está em conformidade com o que está fora. Cada palavra do honesto é verdade e, portanto, lógica para o interior. Cada pensamento está em equilíbrio e está em mesma medida no interior e no exterior, sem mudança, sem imprevistos. Mas a honestidade externa, a honestidade com o mundo, é a mais dolorosa. Pois o honesto não ganha com sua própria honestidade, ele não se beneficia dela e necessita que outros ajam de acordo. E muitos veem a honestidade com olhos de pesar, muitos acreditam que a honestidade pode ser facultativa. É natural para o homem ignorante fugir do honesto, pois todo ser humano foge do natural. Sim, ser honesto é natural, mas a sociedade percebeu a desonestidade e dela fez morada. O veneno ocre da ignorância afasta a honestidade do coração. Um homem honesto consigo mesmo é capaz de fazer a reforma, de se despedir de preconceitos, de deixar rancores e desabores, ele está apenas natural. O homem desonesto tende a agir como um animal, predando a oportunidade de cometer deslizes. Mas o homem desonesto não é, na maioria das vezes, mal. Ele apenas não sabe como se comportar e, pela conveniência, age como desonesto. É como se não tivesse outra abordagem, falta-lhe repertório. A sociedade é tão culpada pela desonestidade quanto o indivíduo. Pois vivemos em união, devemos treinar e estimular comportamentos sociais que visam o objetivo coletivo e formas mais sublimes de comportamento, reprimindo o comportamento vicioso e compulsivo da avareza desonesta.
Todo homem honesto no final é feliz, pois nele cabe a coroa da leveza e, portanto, ele pode agir de maneira livre. Mas também tem tristezas, pois sofre ao ver a desonestidade dos outros. Portanto, devemos sempre estimular tais condutas.
Astarco então seguiu seu pensamento antes de dormir. Ele seria honesto ao chamar um assaltante, de coração partido, para a academia? Todos podemos mudar? A honestidade pode ser aprendida? E, mais importante, a honestidade é útil?

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