3 - O peso das consequências

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Colégio Machado de Assis – Outubro de 2009

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Colégio Machado de Assis – Outubro de 2009

Haviam se passado dois dias desde o sangramento de Camila, e hoje, assim como ontem, ela não apareceu na escola.

- A mãe da Camila apareceu aqui hoje! – O diretor adentrou a sala, sem cumprimentar ninguém – Ouvi diversas reclamações da parte dela...

- Desculpe diretor, mas eu o notifiquei diversas vezes sobre a situação da Camila! – O professor o interrompeu.

O diretor observou meu olhar, assim como o de todos os outros alunos, e suspirou fundo.

- Eles são só crianças, não achei que as brincadeiras eram tão pesadas... A Camila saiu com as orelhas feridas e vários aparelhos auditivos quebrados. Quem foi o responsável?

Toda a sala ficou em silêncio.

- Eu não vou perguntar de novo...

- Pode se levantar, Rafael? – O professor olhou sério em minha direção – Todos aqui sabemos o tipo de piada que você fazia com ela durante as minhas aulas!

- Não eram só piadas, professor! – Fiquei incrédulo ao olhar para o lado e observar Aline se levantando – Ele também roubou o caderno dela e foi o responsável pelas feridas nas orelhas dela!

- MENTIRA! – Gritei, me levantando – Quer dizer, é verdade, mas eu não estava sozinho...

- Ele também foi o responsável pelos diversos aparelhos que ela perdeu! – A voz estridente de João me interrompeu – Eu tentei avisar...

- Nós tentamos avisar! – Pedro complementou com os olhos cheios de lágrimas, um ótimo ator – Eu supliquei diversas vezes para que ele parasse, mas ele não me ouvia. Já tiveram vezes que ele até mesmo queria tirar a roupa dela, não sei o motivo...

- Ele também é um abusador? – Ouvi alguns sussurros.

Eu estava sem palavras. Meus melhores amigos e até mesmo Aline haviam se voltado contra mim. Eu sabia perfeitamente que a culpa era especialmente minha, mas eles também estavam presentes. Pedro e João me ajudavam de bom grado diversas vezes, e Aline havia sido responsável pela perda de alguns aparelhos auditivos. Eles simplesmente estavam tentando se livrar da culpa deles, jogando totalmente em mim.

De repente, vozes de meus colegas de turma se sobressaíam uma sobre a outra, me culpavam até mesmo por coisas que nunca haviam acontecido, e que muitos ali tinham feito contra a Camila. Eu não era inocente, mas todos da turma riram dela ao invés de estender a mão, e isso também era errado. Todos, sem exceção, só queriam se livrar da culpa, e nada melhor do que uma pessoa levar tudo.

Eu nem tinha tempo para falar. Em meio a tantas acusações, meu coração palpitava, meu ar estava pesado, meu peito doía. Só queria sair dali. E assim eu fiz...

Corri para o banheiro e me tranquei em uma das cabines. As vozes de meus diversos colegas e dos meus melhores amigos, me acusando até de coisas que eu nunca faria, pesaram em minha cabeça.

O peso das palavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora