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Silêncio.
É tudo que tenho.
A floresta ao meu redor parece estranhamente entorpecida. Não há conversa, risada ou cantoria. É como se estivesse abandonada. Algo que o Quinto Reino nunca foi.

Somos um povo animado, que adora frutas frescas e festas até o raiar do dia. Mas agora, mesmo depois de deixar uma cesta com amoras maduras na floresta, não tive nenhum sinal. É como se todos tivessem decidido ir embora.

O mais assustador é que a floresta não estava assim quando adentrei. Havia rodas de crianças enquanto os pais faziam uma caminhada tranquila até o lago. Os passarinhos cantarolavam baixinho, e pequenos animais se aventuravam em busca de comida.

Mas agora, simplesmente sumiram.

Os portões do reino estão distantes demais para que eu veja se há algum movimento lá dentro. Será que todos já voltaram e eu não vi?

Encaro a árvore ao meu lado, avaliando se a subida até o topo me renderá uma boa vista do reino.

Mas só há um jeito de descobrir.

Prendo o arco e a flecha com firmeza sobre as minhas costas, e então subo um galho por vez, tomando cuidado para não pisar em falso.

Minhas mãos doem em contato ao tronco áspero, mas só paro quando consigo avistar os dois portões de cinco metros, feitos com afiadas lanças de ferro.

Pelo que vejo, não há nada de errado.  Algumas pessoas caminham com a mesma paz que sempre tiveram, enquanto os guardas parecem atentos a qualquer barulho.

Talvez só tenham decidido voltar mais cedo para casa.

Estou prestes a erguer o pé para me fixar em mais um galho, quando o som de algo se partindo me faz parar. Foi um som muito alto para ter sido causado por algo pequeno.

Imediatamente me escondo ainda mais sob os galhos, tomando cuidado para que nenhuma parte do meu corpo fique visível.

Passam-se segundos, e o único som que escuto  são as batidas alarmadas do meu coração em meus ouvidos.

A respiração parece presa em meus pulmões, enquanto tento normalizar meus batimentos.

Mantenha a calma!

Repito para mim mesma.

Controle-se!

Em um segundo os galhos chacoalham com o vento, e no outro, um estrondo. E então mais outro, e outro e outro ... Meu coração arde com o medo. E enquanto meu corpo grita para que eu fuja, meu cérebro me diz para manter a calma. O que quer que seja, talvez só esteja de passagem.

Mas quando o odor pútrido me atinge, o medo me consome.

TROLLS.

Faz muito tempo desde que um apareceu no Quinto Reino. Tanto tempo, que achei que estivessem mortos ou migrado para outro lugar.

O som de passos se aproxima, enquanto as árvores à minha frente chacoalham com a força das pegadas.

Fecho firmemente os lábios para que minha boca não me traia e solte algum som, enquanto encaro o chacoalhar dos galhos.

Minhas mãos estão agarradas aos galhos como se minha vida dependesse disso, algo que de fato, ela depende.

Vai saber o que um troll faria comigo.

E então, um troll de aproximadamente três metros surge no meu campo de visão.

Seus olhos são atentos, e suas orelhas parecem detectar o menor dos ruídos. Sua pele marrom é áspera e com pelos grossos, enquanto suas mãos e pés exibem unhas grandes e afiadas.

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