20 de Junho/2017
Empurro a porta dupla do Malie's; e sim, minha avó pôs o meu nome em seu restaurante. O sino no alto da porta tilinta e eu sinto o olhar fulminante de minha avó em minha direção.
— Está atrasada! — Ela comenta em quanto me olha por cima de seus óculos de grau.
— Estava me despedindo de alguns professores, vovó, é meu último ano e vou sentir falta de alguns deles. — Respondo.
— Eu imagino! — Ela faz uma breve pausa. — Quero deixar algumas coisas prontas pois amanhã começa a alta temporada e o restaurante fica lotado. — Minha avó comenta enquanto caminha em direção a cozinha do Malie's.
— Ei, Malie! — Ela chama minha atenção. Assinto em quanto espero sua resposta. — Estou muito orgulhosa por você ter concluído o ensino médio... acredito que onde quer que a sua mãe esteja; ela também deve estar feliz por você.— Minha avó sorrir e em seguida me deixa sozinha.Minha avó costumava dizer que minha mãe nos abandonou mas depois de um tempo a mágoa que ela tinha pela minha mãe foi dando espaço para a preocupação; muitas vezes minha avó se questionou se ela não nos abandonou ou será que ainda está viva? Será que foi sequestrada ou foi vítima do tráfico humano? E várias outras preocupações, enquanto isso eu sinto que não posso parar de buscar por ela e que ela está viva em algum lugar, eu vou encontrá-la nem que eu gaste todas as minhas forças.
***
— Já perguntou para ela?
— Não! — Reviro os olhos.
— Então pergunta logo! — Alika retruca. Como sempre impaciente.— Por que não pergunta?
— Por que eu sei muito bem como a minha avó se sente quando se trata de deixar Bahamas, ela nunca vai concordar. — Susurro enquanto observo de longe minha avó descascando alguns legumes.
— Tá, mas você não pode estagnar aqui para sempre, Malie, você ainda é jovem e merece sair daqui, estudar e conhecer pessoas. — Alika responde.
— Okay. Vou conversar com ela quando chegarmos em casa! — Respondo enquanto desempacoto algumas louças.
— Animadas para o início dos festivais de verão? — Tim comenta enquando entra no restaurante.
— Claro que estamos! Alta temporada, clientes, turistas, restaurante cheio! — Minha avó responde animada.
— Vão trabalhar como guias turísticas esta temporada?. — Tim pergunta em quanto revesa seu olhar entre Alika e eu.
— Claro! — Alika responde.
— Não! — Respondo ao mesmo tempo que Alika.
— Claro que vamos, Malie, inclusive dois possíveis clientes já entraram em contato comigo agendando passeios em pontos turísticos da ilha!
— Eu não gosto nada disso. — Minha avó responde em quanto se aproxima. — Não gosto nada de ver vocês duas se embrenhando por aí com esses estrangeiros que vem para os festivais! — Ela conclui e se afasta.
— Vamos comigo, por favor, esse é o meu último verão antes de eu ir para a universidade em Nassau e eu quero passar ele fazendo as coisas que mais gostamos! — Alika comenta suplicando.
— Trabalhar como guia turística com turistas chatos durante os festivais, está na sua lista? — Comento ironicamente.
— Trabalhar como guia turística com a minha melhor amiga durante o verão; sim está na minha lista!. — Ela lança uma piscadela em minha direção enquanto se afasta.
— Ela não vai desistir não é? — Pergunto ironicamente para Tim que faz um gesto negando enquanto se afasta sorrindo.Tenho muita sorte em ter Alika e Tim como meus amigos. É fim de ano letivo e eles poderiam estar indo em festas ou algo do tipo mas estão aqui ajudando minha avó e eu com uma coisa que não é de suas responsabilidades como sempre fazem todos os anos. É egoísmo da minha parte ficar triste por eles irem para a faculdade e eu não?! embora eu esteja feliz por eles conseguirem eu queria muito que tivéssemos mais um ano juntos, nos conhecemos desde os 4 anos, a vida inteira praticamente, mas ainda sim parece ser pouco tempo.
Solto um longo suspiro enquanto observo orgulhosamente meus amigos limpando algumas das mesas do restaurante que quase não percebo minha avó se aproximando.
— Está tão quieta e pensativa! — Minha avó comenta.
— Estou feliz por eles, vão para faculdade, vão deixar a ilha e tudo!. — Respondo.
— Malie. — Minha avó me olha com um olhar entristecido. — Você pode usar o fundo estudantil que a sua mãe deixou para você e ir para a faculdade na capital com os seus amigos!
Queria que fosse tão simples assim; como explicar para a minha avó que quero fazer faculdade em Nova York justamente na cidade em que a sua filha desapareceu anos atrás!.
— Vovó, tem uma coisa que eu quero te contar. — Respondo.
Talvez seja agora o momento de expor para ela a minha vontade.
— Você pode me contar qualquer coisa, querida. — Ela responde.
Tomo todo o ar a minha volta enquanto me preparo para contar à ela que ganhei um bolsa para estudar na universidade de Colúmbia em Nova York.
— Eu ganhei uma bolsa de estudos e é gratuita... — Faço uma pausa.
— Isso é ótimo, você pode usar o fundo estudantil para se manter na capital enquanto procura por um emprego! — Ela comenta animada.
— É em Nova York! — Respondo como se jogasse uma bomba sobre minha avó que se espanta com a notícia.
— Sem chances, Malie. Você só pode está maluca! — Ela fala em quanto caminha para o lado oposto do balcão onde estou.
— Vovó! — Chamo sua atenção em quanto caminho em sua direção.
— Você só pode ter perdido a sanidade que lhe restava! Quer ir para uma cidade onde a sua mãe desapareceu e nunca mais tivemos notícias, é isso o que quer fazer?! — Minha avó responde em quanto algumas lágrimas descem pelo seu rosto.
— Isso aconteceu a muitos anos atrás, eu quero ir por que sempre foi o meu sonho sair dessa ilha e experimentar novas experiências, vovó, eu tenho 17 anos e não quero ficar presa aqui para sempre. — Respondo.
— Por que não se contenta em ir para uma faculdade no seu próprio arquipélago?! É tão difícil assim cair na real que você pertence à esse lugar e não aquela selva de pedra que é Nova York?! — Ela retruca. Quando percebo que Alika e Tim já estão de volta nos observando conversar. Vovó desvia o olhar e percebe o mesmo. — Em casa nós conversamos melhor!. — Ela responde enquanto pega sua bolsa e deixa o restaurante.
— Eu vou ao armazém! Vocês podem ajudar a Malie a fechar o restaurante?! Não pretendo voltar aqui por hoje. — Minha avó comenta enquanto Alika e Tim fazem um gesto concordando.
Assim que minha avó bate a porta do restaurante, Alika se aproxima.
— O que foi que rolou entre vocês? — Ela pergunta.
— Contei para ela da bolsa de estudos em Nova York e ela não agiu muito diferente do que eu já esperava! — Apoio meu rosto sobre a minha mão.
— Caramba, Malie, pensei que dessa vez ela fosse te apoiar, tipo... é o seu futuro em jogo né. — Alika responde.
— Ela nunca vai me apoiar, pelo menos não em relação a eu ir para Nova York! — Sinto meus olhos marejar mas me mantenho firme para não chorar.
— Bom, se serve de consolo, falta pouco para você completar 18 anos e assim você vai poder acessar o seu fundo estudantil e também vai poder viajar sem a permissão dela!. — Alika tem o costume de ver o lado bom em tudo e de certa forma isso é bom, me trás uma sensação boa e esperança.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Garota Da Costa.
RomanceMalie Rolle tem 17 anos e é uma jovem de alma doce e ingênua, embora tenha sido criada por sua avó carrancuda; ela espalha sorrisos por onde passa. Malie está otimista em relação a sua ida para faculdade e quer aproveitar o seu último verão no ensin...