V - A reunião

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- B, eu preciso que você coloque os seus fones agora, ok? – pedi enquanto estendia o objeto para ela, que assistia um dos seus desenhos favoritos.

- Mas por queeeeeê? – ela reclamou e eu suspirei.

- Porque sim, só faz o que eu tô pedindo – insisti e ela obedeceu, mesmo a contragosto.

Então eu peguei o celular e fiz a ligação que eu precisava. Era como se eu fosse explodir, caso não fizesse algo. Meu peito estava ardendo e eu tinha que falar, tinha que tirar satisfações de alguma maneira.

- O que caralho você pensa que está fazendo? – foram as primeiras palavras a escapar por meus lábios. Eu queria manter o controle, mas eu fui incapaz, não pude ser compreensivo ou cortês, ou, ao menos, me manter calado.

- Boa noite pra você também, Gerard – a voz dele era baixa e eu podia notar uma pequena nota de desespero, até arrependimento.

- Boa noite?! O que tem de bom? Ah, sim! O seu casamento, parabéns! – grunhi com toda a acidez que estava transbordando de mim naquele momento.

- Eu não acredito que você ainda não saiu dessa. Já faz quase um ano que nós não temos mais nada e você ainda quer controlar a minha vida?

- Controlar a sua vida? Da última vez que eu chequei me lembro de ouvir você dizer que eu sou seu melhor amigo. Isso era mentira também? Como toda e qualquer palavra que saiu da sua boca nos últimos anos?!

- Vai se foder! Eu nunca menti pra você.

- Você não vê o tamanho do erro que tá cometendo com essa decisão? Eu sei que eu fiz uma coisa parecida, mas pelo menos eu não tinha consciência de que estava me enganando, ao contrário de você. Você sabe que é mentira, você sabe que isso vai dar merda! Vamos lá, Frank, como você sempre diz pra mim: nós não estamos na Idade Média, porra!

- Gerard, me deixa em paz, ok? É a minha vida!

- Ótimo! Quem é a bicha enrustida agora?

- Continua sendo você. Quando foi que você disse em voz alta o que você é?

- Você vai se arrepender, você vai me procurar e eu vou querer mais é que você se foda, tá ouvindo?!

Então o silêncio, depois que ele desligou na minha cara.

- Bandit, você pode tirar os fones agora. – eu disse, depois de tomar um comprimido e um copo d'água e deixar que a raiva começasse a se dissipar aos poucos, porque eu não tinha mais o que fazer.

A memória se desenrola na minha mente, como se fosse um filme que eu odeio assistir. Fico um tempo me questionado o motivo de estar sempre me colocando nessas situações.

Hoje eu vou encontrar com Frank Iero, músico em ascensão, ex-estudante de psicologia, ex-gerente de bar e meu ex-amante. Atributos interessantíssimos para qualquer currículo.

Talvez quando fizermos algumas entrevistas ele possa falar sobre seu relacionamento com um homem um pouco mais velho, que era casado. As pessoas vão adorar ler sobre isso. Nós podemos gravar um podcast com esse assunto. Acho que devo falar com Swanson sobre isso.

Eu planejava acordar mais tarde, mas já perdi o sono há horas e nem tenho Bandit para me distrair. Ela finalmente decidiu passar um tempo com a mãe e me dar descanso, logo quando eu mais preciso dela.

Mais uma xícara de café e um cigarro, mas eu não quero aparecer com cheiro de cigarro perto dele. Por quê? Eu não sei. Esse encontro nem é uma reunião oficial. Eu fiz meu assistente, um estagiário muito simpático e prestativo, ligar para ele e marcar. Pedi para Rodriguez não contar nada a Swanson ainda, porque eu ainda estou rondando nossos convidados.

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