Matteo passava suavemente o pincel na tela, retocando os detalhes para finalizar sua pintura. Era o retrato de uma moça de cabelos negros, pele alva e olhos claros penetrantes, que pareciam ler a alma daquele que a olhasse. Mantinha um singelo sorriso na face, com lábios entreabertos que davam um ar ainda mais belo a uma figura tão radiante.
- Está ficando impressionante - elogiou Alberto, seu melhor amigo, ao chegar e vê-lo concentrado em seu trabalho - Quando estará pronta?
- Creio que ao final do dia - Matteo respondeu, sem tirar os olhos da tela.
- Você pode fazer um bom dinheiro com ela. Onde você pretende expô-la?
- Ela não será exposta - ele redarguiu, contrariado.
- Então, por que a pintou? O mundo precisa ver o seu talento, meu amigo.
- Eu a fiz para lembrar de alguém, você sabe.
- Sim. O que eu não sei é quem é esse alguém, que inspirou algo tão magnífico. Você podia me contar a história dela, não?
- É que eu ainda não sei se tenho forças suficientes para voltar a esse assunto.
- Entendo. Se foi tão forte assim, acho que foi até bom você não falar nada, já que, do contrário, você poderia não ter uma inspiração tão forte para realizar sua obra.
- É provável - disse Matteo, soltando o pincel. Levantou-se da cadeira e se esticou, olhando pela primeira vez para o amigo.
- Então, já que só faltam os retoques, creio que você não comprometerá a pintura se me contar o que houve.
- Talvez - ele respondeu, hesitante - Você quer tomar alguma coisa enquanto conversamos?
- Pode ser um suco - respondeu Alberto.
Matteo preparou o suco e o serviu. Sentou-se na cadeira, de frente para a pintura, respirou fundo e começou a contar a história...
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Itália, 1853.
Giulia corria pelos campos ermos sobre seu cavalo naquela noite quente do verão europeu. Trazia consigo uma pequena mala, amarrada em sua garupa, e uma imensa vontade de fugir.
Ela era filha de um poderoso vinicultor da região. Sempre teve uma vida confortável, tendo em casa tudo que o dinheiro podia comprar na época. Viajara diversas vezes pela Europa, conhecendo Barcelona, Lisboa, Madrid... Mas foi por Paris que se encantou, e decidiu que moraria lá um dia.
Concluiu os estudos em um renomado colégio católico para moças, e ao completar dezoito anos, teve seu casamento marcado com Fillipo Alberti, filho de um poderoso político de Roma. Mas o destino traçado por seu pai não era o mesmo que ela desejava. Giulia queria, sim, se casar e ter filhos, mas não com Fillipo.
Amava Matteo, um artista de espírito livre, coração puro e pouco dinheiro, e era com ele que queria passar o resto de sua vida. Conheceram-se durante uma festa na casa de um rico político de Milão, e logo se apaixonaram. Tiveram diversos encontros às escondidas, com juras de amor eterno e planos para um futuro simples, mas feliz.
Mas precisavam da benção e da aprovação de Antonio, o rígido pai de Giulia. Por esse motivo, Matteo criou coragem e decidiu visitar a fazenda.
Em uma tarde ensolarada, chegou montado em seu cavalo e foi recebido por Giulia na entrada da propriedade.
- Fiquei com medo que você não aparecesse - disse ela, sorrindo em cima de seu cavalo.
- Nunca faria isso. É o que eu mais quero na vida.
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Leve-me a Paris
RomanceItália, 1853. Proibidos de viver seu amor, Giulia e Matteo decidem fugir para Paris. Mas não imaginavam que o pai da moça apareceria no caminho deles.