Só amar não chega

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Desceram até ao jardim e caminharam por um bom bocado.

- Vem sentar-te um pouco neste banco debaixo da àrvore.  Não deves cansar-te, disse Juliette.

- E tu não estás cansada?  Tens passado bem?

- Sim.  Tem sido tranquila.

- Já fizeste algum ultrassom?

- Vou fazer amanhã.

- Ias para Paris?  Porquê?

- Ia.  Já não vou.

- Não ias dizer-me que estavas grávida?  Ias ter o meu filho longe de mim?

- Pensei nisso.  Desculpa.

- Podes adiar o ultrassom para quando eu tiver alta?  Eu quero assistir.

- Vou desmarcar e marcar aqui na clínica.

Ficámos em silêncio durante um bom bocado.

Rodolffo estava triste e eu sei bem porquê.

- Vamos entrar.  Eu quero deitar-me.

- Vamos ficar mais um pouco.  Está tão agradável aqui.

- Eu não acho.  Eu quero ir.

- Rodolffo,  estás aborrecido comigo?

- Um pouco.  Ias esconder o meu filho.  Isso é muito cruel.

- Mas eu estou aqui, não estou?

- Só porque eu tive o azar de vir parar aqui.  Se tivesse acontecido dois dias mais tarde já tinhas viajado.

- Mas não viajei.  E estou disposta a recomeçar donde parámos.  Eu amo-te e sei que também me amas.

- Só amar não chega.
Vamos subir.

Regressámos ao quarto e Rodolffo deitou-se.  Pouco tempo depois adormeceu.

Eu fiquei ao telefone a desmarcar o ultrassom.  Fui até à recepção da clínica e marquei o exame pedindo urgência.  
A recepcionista disse que ia falar com a médica e depois mandava a informação para o quarto.

Voltei ao quarto e ele continuava dormindo.  Liguei para o meu pai.

- Oi pai.  Está tudo bem, quer dizer, não está mas deixa pra lá.

- ......

- O Rodolffo está magoado por eu ter escondido a gravidez e sobre Paris.  Ele deduziu que eu ia ter lá a criança.

- ......

- Sim, pai.  Mas talvez eu mudasse de ideias.  Tu sabes que eu estava zangada.  E porque não me disseste que ele foi conversar contigo?

- ......

- Podia ter mudado tudo ou não, mas não podias esconder.

- ......

- Eu sei que ele é boa pessoa pai, mas está magoado assim como eu.  Mas não vou fugir mais.  Mesmo que não fiquemos juntos, temos um bebé que nos ligará para sempre.

- ......

- Não sei.  Ele está diferente comigo, mas deixa pra lá.  Eu mereço.

- ......

- Beijo pai.  Eu vou-me cuidar.

Quando terminei a chamada com o meu pai tive vontade de chorar.  Encostei-me à janela,  olhando para o exterior e deixei cair as lágrimas. _

- / -

Quando subimos para o quarto fui-me deitar.  Estava magoado e sem vontade de falar.  Qualquer conversa poderia terminar em discussão e isso eu não queria.

Ouvi Juliette desmarcar o ultrassom e sair.  Regressou pouco tempo depois.

Eu continuava de olhos fechados quando ela ligou para o pai.

Apesar dela tentar falar baixo era perceptível a conversa.

Fiquei ali escutando o que ela respondia ao pai.  Era impossível ouvir o que ele lhe dizia.
Confesso que não é bonito ouvir as conversas dos outros, mas eu estou na minha cama, não tem para onde correr.

Depois de terminar a conversa ouvi os passos dela.  Estava junto à janela bem ao lado da minha cama.
Abri ligeiramente os olhos e vi que ela chorava.

Sentei-me na cama, apoiado na cabeceira e chamei:

- Ju, vem cá.

Ela veio, sentou-se ao meu lado e abracei-a puxando-a contra o meu peito.

- Não quero que chores.  Isso faz mal a ti e ao bébé.

Fiz-lhe um carinho no rosto e beijei-lhe os lábios.

- Estou muito arrependida do que fiz.  Perdoa-me.

- Eu também não estive bem desde o início.  Talvez a culpa maior seja minha, então não tenho nada para perdoar.

- Eu sei o que fizeste com a Ana e o Saul.  Estou tão orgulhosa de ti.  O dinheiro fez a diferença no Centro.

- Olha quem fala.  A mocinha rica que faz voluntariado!

- Fazemos uma pequena parte do que é necessário.

- Ju, quando eu tiver alta vens viver comigo?

- Viver, viver.  Como casal?

- Sim.  Como casal.  Ou primeiro fazes questão de casar?

- Eu não,  mas de certeza que o meu pai faz.  Ele nessa parte é muito conservador.

- Não faz mal nós casamos.
Estamos bem, agora?  Sem segredos, sem dúvidas?

- Sim.  Sem segredos.

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