XXIII - Algum Tipo De Paz

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Com a chegada do dia, o Sol matinal atravessa a janela com seus raios de luz, como dedos dourados, acariciam meu rosto, despertando-me de um sono perturbado. A sensação de calor intenso me força a abrir os olhos, e lentamente, volto à consciência, erguendo-me da cama com um suspiro resignado.

Ao abrir os olhos, uma onda de alívio misturada com tristeza me envolve ao constatar que ainda estou na casa da minha avó. No entanto, ao meu lado, o vazio no leito revela a dolorosa ausência de Fenrir. A solidão invade meu peito como uma sombra gélida, contrastando com a luz do dia que invade o quarto.

A melancolia cresce dentro de mim como uma videira enraizada na tristeza, envolvendo cada fibra do meu ser. Embora soubesse que a partida dele era inevitável, uma pequena esperança me enganava, alimentando a ilusão de que poderia sentir sua partida. Mas agora, após uma noite compartilhada nos braços dele, a realidade cruel se impõe, e Fenrir se foi, deixando para trás apenas a lembrança dolorosa de uma amizade impossível.

Fingir que Fenrir nunca existiu parece ser a única maneira de suportar a saudade, mas a simples ideia é como uma faca afiada, cortando meu coração em pedaços. Respiro fundo, tentando domar as emoções tumultuadas que ameaçam me consumir. Fechando os olhos, busco refúgio na escuridão por um momento, lutando para manter minha máscara de força. Ao menos eu fico feliz de poder ter o visto uma última vez, em um momento agradável. Com uma das mãos, eu a apoio em meu peito, e sinto os batimentos do meu coração através do meu corpo, estou tensa. Durante toda a vigem eu pude ver uma evolução no meu companheiro peludo, não apenas na forma em que ele me trata, mas também na sua forma de interagir com o mundo e outras pessoas, e no final de tudo, ele sempre esteve ao meu lado, e é por isso que essa despedida é tão dolorosa, pois no final é como se nada tivesse acontecido. Irei mentir sobre a minha viagem para todos e aquele homem provavelmente estará sozinho até o final de sua vida. Pelo menos eu espero que ele tenha boas lembranças de mim, pois eu com certeza irei lembra-lo e guarda-lo em meu coração até os salões de Odin.

'' eu não me esquecerei de ti...''

Digo a mim mesma em um sussurro coberto de tristeza e compreensão.


Eu me arrasto até a beira da cama, tentando cuidadosamente pousar meus pés no chão. Uma dor aguda irradia pela minha perna, uma lembrança do ataque do javali no dia anterior, fazendo-me recuar e me sentar novamente na cama. Apesar da dor persistente, sinto que consigo suportá-la agora; talvez eu ainda seja capaz de andar.

Com determinação, coloco novamente os pés no chão e me ergo, lutando contra a dor lancinante que percorre cada movimento. Respirando fundo para reunir coragem, começo a mancar em direção à porta do quarto, decidida a encontrar minha avó. Cada passo é uma batalha contra a dor, mas eu persisto.

Ao abrir a porta, vozes ecoam de um cômodo próximo, uma conversa suave entre uma voz feminina e outra masculina. Percebo que minha avó já está acordada e que Norell, está em casa. O som reconfortante das vozes familiares me dá um impulso de ânimo, apesar da dor que ainda me assola. Com um suspiro de alívio, sigo em direção às vozes, determinada a enfrentar o dia.

Ao me aproximar da cozinha, onde minha avó costuma estar pela manhã, algo inesperado prende minha atenção. Meu corpo parece congelar, minhas pálpebras se abrem completamente e meu coração dá uma pausa rápida enquanto encaro a cena diante de mim. Minha avó está sentada à mesa, desfrutando do café da manhã na companhia de Fenrir!? Os dois compartilham risadas e conversas descontraídas, como se fossem velhos amigos. Uma onda de incredulidade misturada com confusão me invade, e eu esfrego os olhos, tentando verificar se estou sonhando ou se aquilo é realidade. No entanto, a cena persiste diante de mim, indiscutivelmente real.

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