Inferno

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— Até que enfim apareceu pra trabalhar neh. — Paraná exclamou em voz alta assim que Rio Grande do Sul chegou no escritório partilhado.

— Cuida da tua vida piá. — Se encaravam agressivos. — Assim tu me irrita menos.

— Ah. — O menor se levantou energético. — Quer falar de quem que irrita mais? É tu que chegou trocentas semanas depois e se acha dono do lugar! — Apontava para a mesa dele. — Deve tá com tanto serviço acumulado que devia ficar caladinho no teu canto fazendo as coisas.

— Tu que tem que ficar caladinho antes que eu te obrigue, pra ter um pouco de paz no ambiente.

— Rapazes.... — Catarina falou receosa, não estava gostando daquilo. Foi prontamente ignorada, aliás, nem foi ouvida.

— Se quer tanto silêncio vem calar então! Eu duvid....

Sua voz foi sumindo quando viu que o maior realmente avançava em sua direção se aproximando com rapidez. O barbudo parou a poucos centímetros de seu rosto, se encaravam ininterruptamente. Droga, ele era bonito! Reparou que seus olhos eram dourados, não castanhos. Sul abriu um sorriso vitorioso.

— Enfim o silêncio.

Era visível a raiva subir no rosto do paranaense que ficou vermelho de ódio.

— Filho do Django! Vai caçar o que fazer cacete!

O empurrou os ombros, miseravelmente evidenciado a diferença de força entre os dois. Isso só alargou mais a satisfação do gaúcho e o seu descontentamento com o próprio corpo. Paraná odiava ser tão pequeno, em tudo, altura, musculatura.... E outros lugares. Desistiu de empurra-lo, se afastou e virou de costas com os braços cruzados.

Sul observava o menor com diversão. Ele era irritante, mas não tinha um rosto feio e seu corpo combinava com ele de certa forma.... Golpeou a mesa irritado consigo mesmo. No que estava pensando?! Era a frustração! Só podia!

Se afastou de repente indo para seu lugar, precisava se concentrar em outra coisa imediatamente. Casualmente passou o olhar por uma Catarina morta de preocupação, sorriu para a loira.

— Não te preocupa guria, eu não bato em gente mais fraca que eu.

— Vai se fuder filho da puta. — Paraná falou entredentes ainda de costas. Não bastava irrita-lo ainda tinha que o humilhar?!

— T-tah bom! Já chega disso! — Olhava pro menor. — Os dois. — Olhou para o barbudo. — Por favor.

PR bufou descontente, mas se virou e voltou a sentar em seu lugar, indicando que voltaria a trabalhar. Se não estivesse tão desconcertado com o rumo dos próprios pensamentos o gaúcho estaria sorrindo vitorioso. Também cedeu e se dedicou ao trabalho.

Vendo que os dois iriam se comportar a mulher finalmente relaxou um pouco. Tentava trabalhar, mas não conseguia evitar de observar o maior, ainda não o conhecia afinal de contas. Estava curiosa.

— Que foi guria? — Sul falou sem desviar os olhos do computador. — Quer perguntar alguma coisa? Tu tá me olhando há um tempo já.

— Erhm. — Gaguejou, não esperava a ser flagrada. — N-não realmente.... — Titubeou um pouco, decidiu perguntar já que ele mesmo se dispôs a responder. — Porque tu deixou uma adaga na gaveta?

Recebeu um olhar analítico do maior. Ele suspirou, já esperava alguma coisa do gênero.

— Não sei direito, acho que tu pode interpretar como um voto de confiança? Ou marcar lugar.... Algo assim.

— Tch. — Paraná soltou sem querer ao ouvir aquilo. — Precisa mijar nos cantinhos também pra marcar território?

— Tá me chamando de cachorro babaca?

— Que bom que eu não precisei explicar pra ti. — Retrucou ácido. — Parece que ainda tem um neurônio funcionando.

— Melhor um do que nenhum como tu.


_____ _____


— Intão amiga, como qui tá sendo cum o Sul na sala? — Matinha e Catarina estavam almoçando juntas.

— Um inferno.

— Tá tão ruim assim?

— Pode apostar. — Suspirou cansada. — E hoje é só o primeiro dia! Eles se odeiam! Não sei nem como. Acabaram de se conhecer caramba!

— Deu pra vê direitinho qui eles num si gostam, só cum o aperto di mão.

— Uhum! — A loira concordou vigorosa. — E nenhum dos dois quer arredar o pé. O que que eu faço amiga? Me ilumine com sua sabedoria por favor.

— Eu num sei muita coisa não. Mais mi pareceu qui o Sul e o Matin são um tiquinho parecido sabe.... Nu temperamento. Mais nu meu caso o Goiás tem medo do MS, nu seu o Paraná num parece tê noção do próprio tamanho.... Si eu conheço ele um pouco deve di fica atiçando o barbudo.

— Exatamente! Eu não sei o que eu digo pra ele parar!

— Uai amiga, levanta a voz i coloca os dois nu lugar.

— Mas eles não param pra me escutar!

— Ocê já gritô cum eles? Di verdade.

— N-não....

— Intão pronto. Junta toda a raiva qui um dia ocê já sentiu na vida e coloca pra fora mandando eles quietá. Duvido qui num vão. Joga alguma coisa no chão também. Pra dá mais efeito. — Tomou um gole de seu suco. — O Sul num parece qui vai fazê bestera si ocê fizé isso. Acho até qui é capaz dele si apaixona nocê....

Catarina torceu a cara, não tinha esse tipo de interesse, apesar de reconhecer que ele é bonito. Mas havia decidido manter suas preferências guardadas, ainda não tinha certeza e não queria se expor assim.

— Í bonito i gostoso daquele jeito até eu entro na fila.... — A morena comentou distraída. — Mais ocê tem preferência si quisé amiga, eu já tô di rolo cum o Goiás, pena qui ele é muito medroso do meu irmão....

— Uhum.... — Catarina se limitou a concordar fracamente. Matinha até percebeu, mas eram só colegas ainda, seria mais delicado não perguntar.


_____ _____


"Fala aí, é o teu irmão mais bonito ;*

O número que tu me pedisse homi.

Falei com elas e estão dispostas a te dar um desconto se eu for no mesmo dia também."


"Tu vai?"


"Pode ser....

Quer ir hoje à noite?"


"Achei que estava óbvio"


"Te busco na tua sala no fim do expediente"


"Ok"


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O gaúcho estava estranhamente quieto depois do almoço. De bom humor até! Paraná divagava distraído, nem percebeu que o encarava.

— Que foi tchê? Apaixonou? — Sul chamou sua atenção um pouco agressivo.

Assim que percebeu o menor fechou a cara.

— Nunca! — Ainda não era tarde demais.... E ele era hétero, só pelo jeito de se portar sabia. — Só tava vendo como alguém pode ser tão feio assim.

— Pelo menos eu pareço homem de verdade. Não uma guria magrela como tu.

Paraná se irritou de verdade, estava muito ciente de sua aparência. Ele conseguiu lhe atingir. Fechou completamente o canal de comunicação com o gaúcho o ignorando completamente. Precisou batalhar para não chorar, dessa vez teve êxito.

Catarina não soube nem o que dizer ou comointerferir. Viu a mudança drástica de humor do colega, parecia que aquilo já oincomodava e o loiro colocou sal na ferida. 

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