Tu não és assim

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Rodolffo chegou ao escritório e estava um burburinho por todo o edifício.

Mal entrou no seu gabinete nem queria acreditar no que estava à sua frente.

Uma Leonor completamente descabelada e com o rosto ainda marcado pelos tapas.  Os olhos vermelhos de tanto chorar.

- Leonor,  desculpa.

- Desculpa?  A sua mulher é louca.  Olhe o que fez.  Está aí a minha rescisão.   Nunca mais quero ver nenhum dos dois à minha frente.

Rodolffo não sabia mais o que dizer.  Limitou-se a vê-la sair com uma caixa nas mãos.

Conforme ela ia atravessando a recepção os outros funcionários iam debochando e fotografando.

- Já vais tarde piranha.  Onde está  a tua soberba, pegadora de homem casado.
Ela levantou a cabeça e desfilou até atravessar a porta e perder-se de vista.

Os funcionários riram e cada um retomou o seu lugar.

Rodolffo chegou a casa e confrontou Juliette com o que tinha feito.

- Fiz foi pouco.  Devia ter metido a tesoura naquela cara recauchutada.

- Tu não és assim que eu sei.

- Não sabes nada.  Experimenta de novo.

- Quando vais aceitar que o único erro que eu cometi foi ir jantar com ela, mas estivemos a trabalhar até tarde.  Era o mínimo.

- O mínimo?  E as risadinhas entre vocês aqui em casa? E as vindas  dela às vezes sem necessidade?  Eu não sou trouxa, Rodolffo.   Às vezes  pareço, mas não sou.

- Riamos porque ela está sempre a contar piadas.

- Então agora que vá ser comediante.

- Rodolffo,  eu sei que a nossa vida mudou com a gravidez.   Eu entendo que tenhas falta,  mas caramba,  eu também tenho que suportar muita coisa nova.  Eu estou insegura, gorda, com as pernas inchadas, os peitos doendo, a barriga pesa, sem agilidade para nada e ainda tenho que aguentar isto?

- Eu sei.  Desculpa.  Vem cá.

Rodolffo abraçou-a e beijou-a.

- E não estás gorda, estás linda com essa barriguinha.  Logo o nosso Miguel nasce e voltas a estar em forma.
Estou perdoado?

- Estás semi desculpado.  Eu não tenho poder de perdoar.

- Então posso comer um pedacinho de bolo.

- Não.   No meu bolo ninguém toca.

- Vou ter que comprar um.  Vou comprar um brigadeirão daqueles muito molhadinhos e cheios de recheio.

- Affff.  Salivei.   Eu quero agora.
Eu dou-te um pedacinho do meu, podes ir comer.

- Interesseira.

- Interesseira uma ova. Grávida.

- Vamos almoçar e depois vamos sair para passear.  Hoje não trabalho.

- Quero passear na praia.

Chegaram à praia e Juliette sentou-se numa rocha e deixou que a àgua batesse nas pernas.  O mar não estava muito agitado e o bater da àgua fresca provocava uma sensação de alívio nas pernas e pés inchados.

Rodolffo sentou-se ao lado dela, abraçou-a e sentiu a mesma sensação.

- É muito bom. Parece hidromassagem.

- Mas é melhor.  Tem sal.

Ficaram ali durante algum tempo a conversar, até perceberem que não havia mais àgua.  A maré tinha descido e o mar estava mais longe.

Levantaram-se e caminharam descalços sobre a areia molhada.
Tomaram um suco numa das esplanadas da praia e regressaram a casa, não antes de Rodolffo ir comprar o brigadeirão porque Juliette fez questão de o lembrar.

Tomaram um banho de banheira e foram tirar um cochilo pois Juliette sentia-se cansada não só física como psicologicamente.




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