Calmaria Antes da Tempestade.

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Os olhos estavam bem abertos e suas pupilas azuis dilatadas estavam frenéticas, suas pálpebras pareciam não estarem afastadas o suficiente para que a visão estivesse totalmente nítida, sua tez estava rígida e hora ou outra sua boca soltava um palavrão.

Sua visão acompanhava a figura na tela à sua frente, onde um carro parecia voar em uma pista de corrida de um cenário fictício, porém realista. Suas mãos iam bem apertadas no volante, conduzindo como se sua vida dependesse daquilo e o seu pé apertava com vontade o pedal do acelerador.

O menino, não parecia ter mais de dez anos e dividia aquela cabine com outra criança, uma menina de cabelos negros, que, assim como ele, também pilotava um veículo no aparelho eletrônico. Ambos deixavam ruídos sair, enquanto seguiam imersos naquele desafio.

Ao redor, várias outras crianças estavam socializando, com vários tipos de brinquedos e jogos eletrônicos, a maioria destas crianças tinham a mesma faixa etária dos que jogavam no grande aparelho. Havia alguns pula-pulas espalhados pelo local, que era enorme, uma grande piscina de bolinhas coloridas também preenchia o ambiente, assim como algumas gangorras e um enorme castelo de brinquedo, todas essas atrações, claro, estavam amarrotadas de crianças.

Uma das crianças se desprende da fila do aparelho eletrônico e caminha por entre as outras crianças, com uma expressão de tristeza e ombros caídos, mal levantava os pés para andar e sempre ajeitava seus óculos de grau que parecia grande demais para o seu rosto. Se aproxima de um dos balcões, onde um dos cuidadores estava limpando um dos carrinhos de lego que ficava normalmente exposto na vitrine da frente.

O rapaz parecia concentrado em seu afazer que nem notou a aproximação do menino que suspirou e puxou a barra de seu uniforme, uma camisa lisa de cor preta com o brasão do lugar. Só então, sua atenção foi transferida para a chorosa criança que parecia intimidada com seu olhar.

— Oras, Tom! Por quê está chorando? O que houve? – Tratou de afagar a cabeça da criança.

— É que o Pedro e a Valentina não querem sair do VolanFast, e já tem uma fila pra jogar há um tempão! – A voz do menino saiu chorosa. – Eu nunca consigo jogar lá, tio Yuri!

— Mas que abusados! Deixa que eu vou lá! – O rapaz, então, se levanta do banco em que estava, colocando o carro no balcão, ajeitando o seu boné.

Ao começar a caminhar, sentiu a mão pequena no rapazinho esgueirar-se pela sua, apertando com vontade. Estava trêmula. Yuri suspirou com um singelo sorriso e atravessou todo o salão e o mar de crianças até chegar na cabine mais cobiçada dali. De cara, já foi recebido por mais crianças resmungando e foi então que seus olhos recaíram sobre os dois que habitavam o interior.

— Você não presta nem pra me vencer, Valen, sua idiota! – O menino de cabelos raspados diz, beliscando a menina ao seu lado, depois de vencê-la mais uma vez.

— Epa, epa, que agressão é essa aqui? Pedro, não seja um mau vencedor e mostre mais respeito! – Yuri esbraveja se aproximando. – O que tua mãe diria se soubesse que o filho é um valentão?

— Eu não fiz nada de mais, tio Yuri!

— Então eu sou doido agora? Pois acabei de ver você beliscando a Valentina da maneira mais covarde possível!

O menino nada diz, apenas emburra a cara, cruzando os braços e lançando um olhar furioso para Valentina, que já saía da cabine. O mais velho, porém, a impede de se afastar mais e a posiciona à frente de Pedro.

— Estou esperando... – Yuri deixa sair. Sério. As outras crianças assistiam a tudo em silêncio. Pedro revira os olhos e suspira.

— Eu sinto muito. – Deixa sair, sem vontade.

A Herança Animal 2 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora