Castanho e Carmesim

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4 anos depois...

Kodako No Suke.


Já faz dois anos desde que Kamila nasceu, é sempre estranho notar a atenção que ela recebe na ausência do meu pai, o mais estranho é como ele nem reparou nas coisas da casa, claro, ele nunca está muito presente e quando está mal se importa com a situação em que encontra seu lar, desde que tudo pareça sob seu controle nada afeta o homem que ele é.

Já faz... Dois anos e ainda me é estranho a atenção que divido, ninguém me deu atenção por ser fofinho ou por ser uma criança necessitada por atenção, pelo contrário, recebi reconhecimento apenas por ser um prodígio, um garoto forte e inteligente e o único que reparou em mim foi meu velho. Porque nenhuma mulher, homem ou criança olhou para mim com alguma admiração, porque ninguém além dela...

- Irmão! - Kamila grita sem escrúpulos procurando por Kodako.

- Kamila não pode gritar assim, seu irmão está em repouso. - A serviçal a segue para controlar a situação.

E agora eu lido com uma garotinha de dois anos que só sabe gritar "irmão" enquanto ri de um jeito muito engraçado, parece um hamster.

- Eu quero ver ele... - Diz a menina aparentemente chateada.

- É sempre comigo. - Murmuro ao nada enquanto me levanto ajeitando meu kimono e me preparando para o que vier.

Me retiro do quarto já sabendo que ela e a serviçal estavam quase que em frente a minha porta e logo de cara eu posso ver os olhos pequenos e castanhos dela brilhando de alegria enquanto sorri e rir gesticulando que quer ser posta no chão, e assim foi feito.

Kamila corre toda desengonçada até minha abraçando minha cintura esperando pelo mesmo mas acabou apenas por passar a mão na cabeça dela e isso parecia suficiente.

- Quando vamos poder brincar de novo? - Ela pergunta olhando para mim como se eu tivesse a resposta.

- Ah... Eu não sei, presumo que vou estar ocupado por um... Bom tempo. - Respondo da melhor maneira que poderia prever minha situação mas isso não pareceu a satisfazer.

- Por favor... - Diz ela segurando firme em minhas roupas e me abraçando mais forte enquanto pressiona sua cabeça na minha barriga.

Já faz tempo que eu não tenho controle sobre meu próprio espaço de tempo, todo dia eu tenho de me dedicar a estudar, lutar e usar uma espada, assim como todos os meus antepassados e homens da minha casa, mas isso nunca era um problema, as crianças tem medo de mim e seus pais repudiam minha presença então nunca foi problema eu ter que me dedicar somente aos ensinamentos do meu avô. Porém faz tempo que tive que aprender a dividir meu tempo com minha irmã e normalmente ela sempre me acorda a noite e sempre sou eu que preciso cuidar dela, porque a única pessoa que deveria zelar por ela não está por perto... Porquê?

- Eu... - No mesmo instante minha nova resposta é interrompida pela serviçal que afasta a Kamila de mim e a pega no colo de novo.

- Jovem mestre, a senhora Myato está esperando-lhe em seu quarto. Ela pede por sua presença, boa sorte. - A mesma curva-se e leva embora minha irmã que parece perder o brilho quanto mais distância-se.

- E lá vou eu... - Minha falta de vontade a paciência para tal encontro possui-me só mesmo tempo que se esconde, pois não é porque é minha mãe que preciso transparecer algum sentimento ou expressão quanto minha visão dela.

Laços de sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora